Portugal foi um centro de passagem de obras artísticas durante a II Guerra Mundial, funcionando como um “território para traficantes” de arte a soldo da Alemanha nazi, afirmou à Lusa o jornalista e investigador Carlos Guerreiro.
Depois de uma investigação em arquivos norte-americanos, Carlos Guerreiro concluiu que Portugal era um centro de passagem e de negócio internacional para venda de obras apreendidas a judeus ou nos territórios ocupados.
“Os nazis tinham a Unidade Rosenberg que era responsável pela recolha dos quadros para a construção do futuro museu de Linz, na Áustria, e atuava nos países ocupados. Recolhia os quadros pilhados e que poderiam interessar mas depois toda a ‘arte degenerada’ era entregue a negociantes de arte escolhidos a dedo e da confiança do regime que depois transformavam os quadros em divisas, sobretudo as obras de autores judeus”, disse o investigador, autor do livro “Aterrem em Portugal” sobre factos relacionados a aviação de guerra durante o conflito.
No seu blog, Carlos Guerreiro publicou uma série de textos sobre a passagem por Lisboa de quadros famosos que acabaram depois por ser vendidos nos Estados Unidos, destacando a presença na capital portuguesa de “traficantes” como Jean Rolland Ostins, um francês colaboracionista e com fortes ligações ao regime de Vichy do marechal Pétain.
“Cartas intercetadas pelos serviços americanos revelam negócios com quadros e outros objetos através de uma rede de negociantes e amigos que se estende da Europa para a América do Sul e para os Estados Unidos. Um desses sócios, instalado em Nova Iorque procura, por exemplo, sensibilizar Ostins para encontrar e enviar quadros ‘com qualidade de museu’, deixando claro que telas de ‘Rogault (Romualdo) ou de Picasso‘ são as que melhor se vendem”, escreve Carlos Guerreiro sublinhando que as obras de arte consideradas “degeneradas” pelos nazis não foram destruídas mas vendidas e o dinheiro enviado para Berlim.
“Os negociantes transformavam-se em traficantes que levavam os quadros para onde havia mercado o que fez, por exemplo, que os ingleses tivessem imposto licenças de exportação, antes da entrada dos Estados Unidos na guerra”, diz Carlos Guerreiro.
De acordo com o jornalista e investigador, quando os Estados Unidos declaram guerra à Alemanha os cuidados com os negócios de arte são redobrados até porque o circuito que passava por Lisboa e pelo sul de França acaba por ser afetado.
Carlos Guerreiro destaca também a passagem por Lisboa de um quadro do pintor holandês Vincent Van Gogh de um comerciante de arte judeu alemão que já tinha fugido de Berlim para Paris e que depois escapa para a Suíça e finalmente Lisboa, tendo conseguido salvar oito quadros de uma “valiosa coleção”.
O vendedor consegue uma licença de exportação da obra de arte para poder transportar o quadro para os Estados Unidos que é vendido a um “marchant” de Nova Iorque, em 1943, e, depois da guerra, ao ator de cinema norte-americano Errol Flynn, por 32 mil dólares.
“A história deste negociante de arte é um pouco a mesma história de muitos negociantes de arte alemães que sendo judeus acabam por ter de andar a fugir dos exércitos de Hitler e acabam vários por ter ido parar aos Estados Unidos”.
O mesmo quadro – que passou por Lisboa – acabou por render 20 milhões de euros num leilão realizado no passado mês de janeiro, em Londres.
/Lusa
Descobriu a pólvora… já se sabia disto há muito…