Tricloroetileno é utilizado há 100 anos para lavar roupas a seco (e não só). Mas aparece agora associado à doença de Parkinson.
Há um produto químico, muito comum, muito utilizado há cerca de 100 anos, que afinal pode estar associado a casos de Parkinson, a condição cerebral que mais cresce no mundo.
A Universidade de Rochester, uma das instituições envolvidas no estudo em causa, explica que o produto em causa é o tricloroetileno (TCE).
Tem sido usado para descafeinar café, desengordurar metais e lavar roupas a seco. É muito conhecido na lavagem a seco de roupas – substitui a água.
Por outro lado, é um perigo para a saúde pública. Além da contaminação, de ser um produto tóxico, o artigo publicado no Journal of Parkinson’s Disease deixa a hipótese: pode ser um agente invisível causa do Parkinson.
O TCE já estava associado a cancro, a abortos espontâneos e a doenças cardíacas congénitas – mas agora, segundo os investigadores, aumenta em 500% o risco de Parkinson.
São focados sete casos, passando por um antigo basquetebolista que esteve na NBA (Brian Grant, diagnosticado aos 36 anos), ou por um senador dos EUA já falecido (Johnny Isakso, diagnosticado em 2015, cerca de 50 anos depois de ter trabalhado na força aérea da Georgia, onde se utilizava TCE para desengordurar aviões). Todos com Parkinson, provavelmente porque trabalharam de perto com esse produto químico, ou porque foram expostos ao TCE. Em todos os casos, os sintomas apareceram décadas depois da exposição ao solvente químico.
Há décadas que este solvente começou a ser utilizado em diversos contextos: remover tinta, corrigir erros de dactilografia, limpar motores e anestesiar pacientes. Aplicado em milhões de casos e foram gastos milhões de euros à sua volta.
Só nos Estados Unidos da América, estima-se que cerca de 10 milhões de pessoas trabalharam directamente com o produto químico ou com outros solventes industriais similares.
Nos últimos 50 anos, o tricloroetileno foi desaparecendo das casas. Mas continua a ser utilizado para desengordurar metais e limpeza a seco. E, por exemplo, no Vale do Silício, Califórnia, é utilizado para limpar componentes electrónicos e chips de computador. E também existe em bases militares.
Precisamente há 50 anos, começaram a surgir estudos a relacionar o TCE com Parkinson. Cientistas mostraram que o TCE entra facilmente no cérebro e nos tecidos do corpo e, em altas doses, danifica as partes produtoras de energia das células, as mitocôndrias.
As primeiras investigações com animais permitiram ver que o TCE origina perda selectiva de células nervosas produtoras de dopamina – uma característica da doença de Parkinson em humanos.
Nesta investigação recente, os especialistas avisam que, mesmo quem nunca trabalhou diretamente com TCE, corre risco elevado de desenvolver Parkinson porque cruzam-se com o produto químico sem saber: através do ar externo, de águas subterrâneas contaminadas e da poluição do ar interno.
O TCE pode contaminar o solo e as águas subterrâneas levando a rios subterrâneos, ou plumas, que se podem estender por longas distâncias e migrar com o tempo.
Além disso, o tricloroetileno pode evaporar facilmente e entrar nas casas, escolas e locais de trabalho das pessoas, muitas vezes sem ser detectado – e isto é um grande problema porque, logicamente, estará a colocar em perigo milhões de pessoas que costumam estar perto de antigas instalações de lavagem a seco, ou antigas instalações militares e industriais.
“Durante mais de um século, o TCE ameaçou os trabalhadores, poluiu o ar que respiramos – por fora e por dentro – e contaminou a água que bebemos. O uso global está a crescer, não a diminuir”, avisam os cientistas.