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Investigação a ligações entre PJ e Doyen só ouviu 2 testemunhas antes de ser arquivada

Mário Cruz / EPA/Lusa

Rui Pinto no arranque do julgamento do chamado caso “Football Leaks” que envolve o Fundo de Investimentos Doyen.

A investigação a alegadas ligações entre um inspetor da PJ e representantes da Doyen, foi arquivada após apenas terem sido ouvidas duas testemunhas.

A denúncia sobre estas alegadas ligações chegou da então eurodeputada Ana Gomes. Foi esta investigação que deu origem ao processo Football Leaks.

O inspetor visado, Rogério Bravo, só foi ouvido um ano e três meses após a queixa, já o julgamento de Rui Pinto decorria, escreve o Observador. Depois, o Ministério Público ouviu José Amador, o inspetor da PJ que foi ouvido no caso Football Leaks e que revelou que a PJ pediu ajuda à Doyen numa determinada fase do processo.

No entanto, na inquirição do MP ninguém lhe fez perguntas sobre isto. O inquérito foi arquivado no dia seguinte ao Ministério Público ter ouvido José Amador. A conclusão foi que Rogério Bravo não tentou “manobrar” a investigação.

Apenas um mês depois de ser arquivado, o tribunal extraiu uma certidão para o reabrir após revelações feitas durante o processo Football Leaks. O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa demorou três meses a fazê-lo. O inspetor Rogério Bravo é o arguido do caso.

“Quando visitei Rui Pinto na prisão, em 2 de abril, tive oportunidade de o questionar sobre o que sabia acerca do referido inspetor e da sua relação com os representantes da Doyen. Soube então tratar-se do inspetor Rogério Bravo, inspetor-chefe da secção de Combate ao Cibercrime da PJ”, escreveu Ana Gomes na queixa apresentada à PGR e à PJ.

Ana Gomes diz ainda ter conhecimento de que, “desde 2015, o inspetor Rogério Bravo procurava alguém no MP que agarrasse na participação da Doyen e lhe desse seguimento”.

Na carta da ex-eurodeputada foi anexada a notícia de uma entrevista do fundador então desconhecido da Football Leaks à revista alemã 11 Freund.

“As nossas fontes encontraram provas sobre isso. Soubemos de encontros secretos entre membros da polícia portuguesa e aquela agência [Doyen], em Lisboa. Rogério Bravo, inspetor-chefe da polícia é grande amigo de Nélio Lucas, pressionou a Procuradoria Geral da República para obter pormenores sobre a investigação. Na verdade, a Doyen está a usar a investigação da polícia para chegar até nós e contrataram uma agência de investigação [Marclay Associates] para fazer o trabalho sujo, com o objetivo de travar isto a qualquer preço”, lê-se na notícia do Record que citava a entrevista.

Entre o dia em que a carta de Ana Gomes chegou ao DIAP e o dia em que o processo foi arquivado passou um ano e cinco meses.

Ouvido pelo MP, Rogério Bravo garantiu que “nunca” teve “qualquer relação pessoal ou profissional com a Doyen” e que só tinha conhecido essa entidade no dia em que apresentaram queixa na PJ. O inspetor-chefe disse até não ter ligação ao futebol, não gostar deste desporto e nem sequer ir a jogos.

Bravo disse ainda que os “encontros e comunicações” que teve com o representante da Doyen, Nélio Lucas, foram no âmbito da investigação para descobrir o responsável pelo ataque informático ao fundo de investimento.

Assim, o MP entendeu que a investigação do caso Football Leaks correu “sempre os seus termos normais” e que não há indícios de que “os órgãos de policial criminal, em particular Rogério Bravo, tenham de algum modo forjado ou manipulado provas recolhidas” ou que tenha “tentado ‘influenciar’ ou ‘manobrar’ a investigação” que teve origem na queixa da Doyen.

Daniel Costa, ZAP //

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