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Lesões cerebrais nos jogadores de rugby podem aparecer após uma única época

Pesquisa foca-se nas alterações psicológicas como consequência de contactos repetidos em situações de jogo e não em episódios de contusões, analisados em larga escala em estudos anteriores.

Em Inglaterra, a problemática das lesões cognitivas provocadas pela prática de modalidades que envolvem contacto físico é encarada com muita seriedade, sendo muitos os estudos desenvolvidos com o objetivo de perceber a ligação causa-efeito, mas também a dimensões das mesmas.

Neste âmbito, uma nova pesquisa desenvolvida por investigadores da Universidade de South Wales sugere que apenas uma temporada como jogador profissional de rugby pode ser o suficiente para originar o declínio das funções cognitivas, assim como a redução da pressão sanguínea em direção ao cérebro.

Para chegar a esta conclusão, os investigadores acompanharam uma equipa de rugby a competir no United Rugby Championship durante uma época, examinando os jogadores na pré, durante e pós temporada.

Através destes exames, os especialistas descobriram que, ao longo de uma única época, os jogadores já apresentam sequelas cognitivas, tais como a capacidade de raciocinar, de recordar, formular ideias e efetuar ginástica mental.

O presente estudo, ao contrário dos desenvolvidos anteriormente que se dedicam a estudar os efeitos das contusões, foca-se nas alterações psicológicas que surgem do contacto repetido, já que ao longo de uma época cada jogador está sujeito a centenas de situações deste género.

Paralelamente, outras pesquisas também sugerem que não são apenas as contusões isoladas que provocam consequências na atividade cerebral, mas também os efeitos cumulativos e volume do contacto — com a equipa responsável por esta investigação a acreditar que mais estudos terão que ser feitos para perceber qual os efeitos a longo prazo destes contactos, aponta o The Guardian.

Damian Bailey, um dos autores, afirmou que, mesmo após um curto período de tempo dos jogadores no ativo, as lesões cognitivas já eram uma realidade.

“Assumimos que o nosso ponto de partida são indivíduos saudáveis, mas muitos destes jogadores já tinham anos de rugby, pelo que a nossa base pode estar debilitada”, afirmou à BBC.

A pesquisa também encontrou uma correlação entre o aumento do número de contactos, a posição dos jogadores em campo e o nível de declínio na maioria dos parâmetros analisados. “Nos avançados, que estão envolvidos em mais contacto, foram observadas maiores deficiências, comparativamente com os defesas“, afirmou Bailey.

Questionado sobre se os impactos serão equivalentes entre os jogadores profissionais e das camadas mais jovens, o investigador foi evasivo.

“É difícil dizer, mas não vemos por que motivo seria muito diferente”, disse, acrescentando ainda que, enquanto os jogadores profissionais têm menos oportunidades para recuperar, por terem estruturas físicas maiores e potencialmente impactos mais agressivos, os amadores, por sua vez, possuem uma técnica mais pobre, o que pode constituir um risco acrescido.

“Temos razões para acreditar que os efeitos podem ser cumulativos ao longo do tempo”, afirmou o investigador.

A sua equipa está também a trabalhar num estudo semelhante para comparar o estado de jogadores atuais e de outros que já abandonaram a modalidade com um grupo de controlo, para determinar se há um ritmo mais acelerado de declínio da função cerebral em jogadores de rugby — sendo precisas mais pesquisas para confirmar qualquer tipo de suspeita.

A Associação Mundial de Rugby já reagiu ao estudo, dizendo que está a trabalhar para realizar uma “ampla avaliação do volume de contacto durante os jogos”, pelo que aguarda com expectativa os resultados completos do presente estudo — o maior de sempre relativamente ao impacto do jogo e do contacto entre cabeças no rugby, tanto em homens como mulheres.

Contam, por isso, introduzir diretrizes e medidas preventivas que assegurem o bem-estar de todos os jogadores.

ZAP //

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