Lemúria: Onde ficava o “continente perdido” que nunca existiu?

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Lemúria, o continente perdido que nunca existiu

Conhece aquela região do planeta que fica entre a ciência e o mito? Chama-se Lemúria e é um testemunho fascinante da imaginação humana e da sua busca por explicações.

Em 1858, o biogeógrafo Philip Sclater publicou um trabalho, onde dividia o mundo em seis domínios biogeográficos.

Contudo, deparou-se com um enigma: os lémures – um tipo de primata – tinham fósseis em Madagáscar e na Índia – dois domínios biogeográficos distintos.

Em 1864, para explicar este fenómeno, Philip Sclater propôs a existência de um continente que estaria “submerso” – a Lemúria – que ligaria as duas regiões.

Em 1870, o biólogo alemão Ernst Haeckel também sugeriu que Lemúria poderia ter sido o lar da origem da humanidade, desafiando a hipótese de origem africana de Darwin.

Mas não passou de um mito

Apesar dessa teoria científica ter sido inicialmente aceite, a Lemúria rapidamente se tornou um produto da pseudociência e do mito.

A credibilidade científica da Lemúria esmoreceu com a ascensão da teoria da tectónica de placas nos anos 1960, que forneceu uma explicação para a posição da Índia e de Madagáscar sem a necessidade de uma ponte terrestre.

Na Índia, “Lemúria” foi abraçada como “Kumari Kandam”, uma terra antiga referenciada na literatura tâmil, acreditando-se ser o berço dessa civilização.

Surgiram também lendas que diziam que a Lemúria sustinha uma sociedade matriarcal, onde as mulheres governavam e possuíam propriedades.

O legado cultural da Lemúria persiste até hoje, desde histórias de avistamentos de seres Lemurianos na Califórnia, até à sua menção em símbolos governamentais britânicos, uma vez que o Reino Unido utiliza “Lemúria” para designar os pequenos territórios no Oceano Índico.

O brasão do Território Britânico do Oceano Índico, por exemplo, ostenta o lema: “In tutela nostra Limuria,” que se traduz como “Lemúria está sob nossa proteção”.

O que confundiu Philip Sclater?

O mistério original dos fósseis de lémures foi esclarecido mais tarde: Sclater tinha confundido dois primatas diferentes.

Foi feita uma classificação errada do loris esguio, um primata encontrado na Índia, que foi dado como sendo um lémure.

A nomeação dos lémures tinha sido feita inicialmente pelo fundador do atual sistema de nomenclatura biológica, Carl Linnaeus, nos anos 1850, que se baseou em contos romanos antigos de “lemures” – que eram “espíritos inquietos dos mortos não sepultados”, como conta o Big Think.

No cruzamento da ciência com o misticismo, a lenda da Lemúria permanece como um testemunho fascinante da imaginação humana e da sua busca por explicações.

Miguel Esteves, ZAP //

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