Leitões deixados a morrer à fome numa exposição na Dinamarca

Exposição “And Now You Care” por Marco Evaristti em Copenhaga

“E agora, preocupas-te”. Um artista pretende sensibilizar na Dinamarca para o sofrimento causado pela produção de porcos, com uma instalação de arte, inaugurada na sexta-feira, que inclui três leitões que serão privados de comida e água e que vão morrer de fome.

O artista chileno Marco Evaristti está a gerar polémica ao falar do tratamento dado aos porcos na Dinamarca, onde cerca de 25.000 leitões morrem diariamente em consequência das condições em que são criados, noticiou a Associated Press.

A exposição central da exposição “And Now You Care” em Copenhaga é uma gaiola improvisada criada com carrinhos de compras contendo três leitões.

Quando a exposição foi inaugurada, esta sexta-feira à noite, ainda estavam bem, mas os leitões “não vão receber comida nem bebida” e podem morrer de fome em poucos dias.

Evaristti diz na sua página na rede social Instagram que a exposição “é um confronto com a realidade sangrenta da Dinamarca” nos matadouros, e que pede às pessoas que reduzam o consumo de carne e apoiem a agricultura que melhora o bem-estar animal.

A Animal Protection Denmark, a maior e mais antiga organização de bem-estar animal da Dinamarca, disse estar grata pelo interesse de Evaristti no problema, mas discorda da forma como o quer transmitir.

“Entendemos perfeitamente a indignação do artista. Mas não concordamos que três leitões, três seres vivos individuais, devam ser privados de beber até morrer por causa disso. É ilegal e é abuso dos animais“, frisou Birgitte Damm, porta-voz da organização.

“O facto de isto acontecer a milhares de animais todos os dias na indústria alimentar não significa que isto seja certo“, frisou Damm, citada pelo jornal dinamarquês The National News Desk.

A ambientalista elogiou no entanto o artista por colocar “as grandes questões sobre quem somos como seres humanos ou queremos ser, e o que estamos a fazer aos nossos semelhantes em nome de enormes quantidades de carne barata produzida em massa”.

Damm explicou que as porcas são criadas na indústria suína dinamarquesa para produzir cerca de 20 leitões de cada vez, mas têm apenas 14 tetas, obrigando os leitões a competir pelo leite materno, o que leva muitos a morrer de fome.

Sublinhou também cerca de 25.000 leitões morrem todos os dias de fome ou como resultado das condições em que são mantidos na Dinamarca.

Este não é o primeiro projeto polémico de Evaristti. Há um ano, num dos seus projetos, a que deu o nome de Moulinex Optiblend 2000, o artista chileno colocou peixes dourados em liquidificadores, pedindo então aos espetadores que carregassem num botão para criar uma sopa de peixe dourado.

Uma hora após o início do evento, um dos espetadores carregou no botão — causando a morte de dois peixes.

A instalação, que decorria no Trapholt Art Museum, em Kolding, na Dinamarca, foi interrompida pela polícia, mas o diretor do museu, Peter Meyer, recusou cancelar o evento.

A subsequente acusação de crueldade para com os animais foi contestada num longo e muito publicitado julgamento, no qual testemunhas especializadas avaliaram em quantos segundos os peixes misturados teriam morrido, recorda Far Out Magazine.

Um representante da fabricante dos liquidificadores estimou que os peixes teriam morrido num segundo, o que foi corroborado por um veterinário.

Em 2006, Evaristti usou parte da sua própria gordura corporal removida por lipoaspiração para preparar almôndegas e depois comeu algumas delas.

Descreveu o projeto denominado “Polpette Al Grasso Di Marco” como uma crítica às pessoas que consomem em demasia e depois compram o seu caminho para a magreza com lipoaspiração e, ao mesmo tempo, uma tentativa de transcender o tabu do canibalismo.

ZAP // Lusa

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