O pior desastre natural dos Camarões, na costa oeste de África, aconteceu na noite de 21 de agosto de 1986. Entre os dias 21 e 23 desse mês, mais de 1700 pessoas morreram sufocadas em casa, no meio do campo ou na estrada.
A causa deste trágico evento foi uma enorme nuvem de CO2, que surgiu de um lago azulado da região, o Lago Nyos, que fica numa cratera vulcânica no nordeste do país.
A nuvem de CO2, mais densa que o ar, viajou 25 quilómetros pelos vales da região, matando 1.746 pessoas e 3.500 animais de criação, como vacas. Quem encontrou os corpos deparou-se com uma cena rara e perturbadora: nada se movia, nem mesmo as moscas, que também morreram.
Quem não morreu ficou inconsciente por várias horas e acordou para descobrir que toda a família e os animais dos rebanhos da região tinham morrido. Muitos acreditaram que fosse uma praga bíblica, que o espírito do lago estava descontente ou até que se tratava de um ataque terrorista.
Joseph Nkwain, um dos sobreviventes, acordou três horas depois da passagem da nuvem, e contou a sua experiência a Arnold Taylor, investigador da Universidade Plymouth, no Reino Unido.
“Não conseguia falar. Fiquei inconsciente. Não podia abrir a boca, porque havia um cheiro terrível. Ouvi a minha filha a roncar de forma horrível, muito anormal. Quando tentei chegar até à cama dela, entrei em colapso e caí. Queria falar, mas o meu ar não saía. E a minha filha já estava morta”.
O governo do país encomendou estudos para descobrir o que poderia ter causado tamanha destruição, para garantir que a tragédia nunca mais pudesse repetir-se. Os organismos ambientais instalaram sensores de CO2 na região do lago, ligados a sirenes que alertam as pessoas da região – para lhes dar uma oportunidade de fugir.
Uma equipa de engenheiros instalou também canos para sugar o CO2 directamente do fundo do lago, para o libertar gradualmente para a superfície, evitando assim que o gás se acumule demasiado no lago.
O que se sabe
Os poucos habitantes da região que sobreviveram ao desastre relatam que ouviram um enorme barulho de explosão na noite do dia 21 de agosto e que saíram de casa para investigar. Uma nuvem de mais de 50 metros de altura formou-se acima do lago, e, por ser mais densa que o ar, viajou pelas partes mais baixas da região.
No dia seguinte, o lago apresentava uma coloração radicalmente diferente da habitual: costumava ter um belo tom azul, e passou a ser castanho. A vegetação em volta do lago também foi destruída.
Por estar numa região vulcânica, a água deste lago captura CO2 que escapa do magma por baixo. Normalmente, milhares de toneladas de CO2 são absorvidos pela água, mas no trágico dia de 21 de agosto de 1986 alguma fez com que o gás fosse libertado de repente.
O geólogo David Bressan explica que os gases vulcânicos que emanam do solo abaixo do lago se dissolvem e ficam concentrados nas águas mais profundas. A temperatura tropical da água superficial forma um tipo de barreira que mantém esta água fria e concentrada em CO2 presa no fundo.
O que não ficou claro para os cientistas é o que causou o colapso do sistema. Pode ter sido um sismo fraco, uma erupção vulcânica ou até um deslizamento de pedras nas margens do lago.
Um evento semelhante tinha acontecido dois anos antes no lago Monoun. Nessa ocasião, a nuvem de CO2 matou apenas 37 pessoas. O que desencadeou este episódio também nunca foi explicado.
E 31 anos depois, o mistério do desastre do Lago Nyos continua por esclarecer…
// HypeScience