Uma das maravilhas da natureza é a capacidade das lagartas para pararem rapidamente de sangrar – um processo que tem intrigado os cientistas durante anos.
Agora, investigadores desvendaram os mecanismos por detrás deste fenómeno, oferecendo uma visão que poderá revolucionar a medicina humana.
Ao contrário dos vertebrados, cujos mecanismos de coagulação do sangue são bem compreendidos, os insetos dependem da hemolinfa – um fluido semelhante ao sangue mas sem glóbulos vermelhos e plaquetas – para a coagulação e defesa imunitária.
“Mostramos aqui que estas lagartas, chamadas vermes do chifre do tabaco, conseguem selar as feridas num minuto. Fazem-no em duas etapas: primeiro, em poucos segundos, a sua hemolinfa fina, semelhante à água, torna-se ‘viscoelástica’ ou viscosa, e a hemolinfa que goteja retrai-se de volta para a ferida”, disse Konstantin Kornev, autor principal do estudo, citado pelo ZME Science.
O estudo, publicado recentemente na revista Frontiers in Soft Matter, esclarece as propriedades da hemolinfa. Esta sofre uma rápida transição de um fluido newtoniano para um material viscoelástico, semelhante à saliva, permitindo que as lagartas retraiam as gotas que escorrem para a ferida e facilitem a coagulação rápida.
Apesar dos desafios colocados pela resposta eficiente de coagulação das lagartas, os investigadores desenvolveram técnicas inovadoras para estudar o processo. Através da criação de pontes temporárias de hemolinfa e da utilização de câmaras de alta velocidade, captaram a intrincada dinâmica da formação do coágulo.
“As nossas descobertas abrem a porta à conceção de espessantes do sangue humano que funcionem rapidamente. Não precisamos necessariamente de copiar a bioquímica exata, mas devemos concentrar-nos na conceção de medicamentos que possam transformar o sangue num material viscoelástico que pare a hemorragia”, salientou Kornev.
As implicações desta investigação vão para além do domínio da entomologia, abrindo caminho a colaborações entre a ciência dos materiais, a biologia e a medicina.