Demorou, mas falou. Num discurso ao país no dia seguinte às eleições, a vice-presidente concedeu a derrota perante Donald Trump, prometeu ajudar o futuro presidente e disse querer uma “transição de poder pacífica”.
A vice-Presidente norte-americana e candidata derrotada nas presidenciais realizadas na terça-feira, Kamala Harris, prometeu nesta quarta-feira ajudar o adversário republicano, Donald Trump, numa “transição de poder pacífica” e desafiou os seus apoiantes a continuar a luta pela liberdade e justiça.
Na primeira reação à derrota eleitoral, na Universidade Howard (Washington, DC), cerca de 24 horas depois de a contagem dos votos ter sido iniciada, Kamala Harris expressou junto dos seus apoiantes orgulho pela campanha que protagonizou pelo Partido Democrata e “os motivos pelas quais foi feita”.
Sob um dramático céu amarelo, como o descreve o The Guardian, a vice-presidente chegou ao palco sob cânticos de “Kamala!” vindos do recinto da sua alma mater, a Universidade de Howard, em Washington.
Num discurso de 12 minutos, a política democrata disse já ter admitido numa conversa com Trump a derrota eleitoral e apelou para o respeito dos resultados, observando que é isso que “distingue a democracia da anarquia e da tirania”, numa alusão ao não reconhecimento de Trump da derrota eleitoral há quatro anos e ao assalto dos seus apoiantes ao Capitólio que se seguiu.
Kamala Harris prometeu ajudar o seu adversário eleito e ex-Presidente norte-americano entre 2017 e 2021 numa “transição de poder pacífica”, mas deixou uma advertência: “Não devemos lealdade a um presidente ou a um partido, mas à Constituição dos Estados Unidos da América”.
“Embora eu conceda esta eleição, não concedo a luta que alimentou esta campanha”, disse Harris, com a voz rouca após um turbilhão de 13 semanas de campanha. “Ouçam-me quando digo: a luz da promessa da América arderá sempre, desde que nunca desistamos.”
Dirigindo-se aos apoiantes mais jovens, a vice-Presidente norte-americana disse compreender o seu desapontamento e vincou que reconhecer a derrota não implica abandonar a luta.
“Às vezes a luta demora um pouco. Isso não significa que não vamos ganhar. O mais importante é nunca desistir (…) e nunca deem ouvidos quando alguém diz que algo é impossível porque nunca foi feito antes”, declarou, após ter falhado a eleição da primeira mulher para a Casa Branca.
Kamala Harris sublinhou que não renunciará às razões que desencadearam a sua campanha “pela liberdade, oportunidades, justiça e dignidade” e ainda pelas “ideias que refletem a América no seu melhor”, onde as mulheres podem tomar “decisões sobre o seu próprio corpo” e com proteção das escolas e ruas do país da violência das armas.
Falando numa universidade simbólica para a comunidade negra e onde se graduou em 1986, a política democrata reafirmou que é preciso manter a luta “nas urnas, nos tribunais e na praça pública” e também de “formas mais silenciosas”, num modo de vida refletido na “bondade e respeito”, e deixou um conselho: “A luta pela nossa liberdade vai dar muito trabalho, mas como digo sempre, gostamos de trabalhar muito”.
Kamala Harris citou um adágio que diz que “só quando está suficientemente escuro é que se podem ver as estrelas”, adicionando que muitas pessoas acham que estão a entrar num “período negro”, mas que espera que isso não aconteça no seu país: “Se assim for, enchamos o céu com a luz com um bilião de estrelas brilhantes”.
Biden falou com Trump
Também o Presidente norte-americano, Joe Biden, falou com Trump, felicitando-o pela vitória, e convidou-o para uma reunião de transição.
A presidência norte-americana indicou que vai coordenar uma data para a reunião com o líder republicano na Casa Branca, em Washington, “num futuro próximo”.
Biden, que já falou igualmente com a sua vice-Presidente para a felicitar pela sua campanha, planeia dirigir-se à nação na quinta-feira sobre os resultados eleitorais.
O discurso de Kamala Harris foi o primeiro desde a confirmação da vitória de Donald Trump, após ter vencido cinco dos sete estados considerados decisivos – Pensilvânia, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan e Wisconsin -, e quando ainda falta conhecer os resultados em Nevada e Arizona, onde segue igualmente à frente na contagem.
Após uma campanha muito agressiva contra as políticas da administração de Joe Biden, em particular nos temas económicos e de imigração, e apesar das inquietações expressadas em sondagens pelo eleitorado sobre o futuro da democracia, o republicano foi eleito o 47.º Presidente dos Estados Unidos tendo já conquistado acima dos 270 votos do colégio eleitoral necessários.
Trump segue também à frente da adversária no voto popular, com 51% contra 47,5% dos votos contados.
O Partido Republicano recuperou ainda o Senado ao ultrapassar a fasquia de 51 eleitos, enquanto na Câmara dos Representantes se encontra igualmente na frente no apuramento com 205 mandatos, a apenas 13 da maioria.
ZAP // Lusa