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“É matar o Jornal de Notícias”. Trabalhadores em choque com fim das prestações de serviços

Fernando Veludo / Lusa

Início da greve de trabalhadores do Jornal de Notícias

Global Media Group decretou o fim das colaborações com correspondentes a dois dias do fim de ano. “É dar um tiro de canhão no Jornal de Notícias”, alertam os trabalhadores, que exigem explicações à Comissão Executiva.

Após semanas de greves e protestos contra a Global Media Group (GMG) — que detém o Jornal de Notícias (JN), o Diário de Notícias (DN), a TSF e O Jogo — e de saberem que não vão receber os salários referentes ao mês de dezembro, os trabalhadores do JN encaram com “choque e surpresa” a ordem da Comissão Executiva (CE) do GMG de suspender todas as “prestações de serviços” do jornal, já a partir de dia 1 de janeiro de 2024.

A avançar, a decisão do GMG — decretada a menos de dois dias do fim do ano — prevê o fim das colaborações com correspondentes do jornal, afetando diretamente o funcionamento da redação e da prática jornalística.

“A suspensão de ‘todas as prestações de serviços’ significa, na prática, calar todos os colaboradores do JN, de Norte a Sul do País, da Cultura ao Desporto. Acabar com os colaboradores é dar um tiro de canhão no “Jornal de Notícias”, escreve o  Conselho de Redação (CR) do JN, em comunicado enviado ao ZAP.

O CR garante que se “arrisca a perder valiosos jornalistas correspondentes para a concorrência, prejudicando gravemente” os leitores do jornal portuense, que se distingue pelo jornalismo de proximidade — os colaboradores são “um dos pilares” do jornal, lembra o CR.

A redação alerta também que esta “machadada na viabilidade” do JN não tem cobertura legal, citando os artigos 17.º e seguintes da Lei da Imprensa.

“Tal decisão, a avançar, representaria uma mudança na identidade do “Jornal de Notícias” que só poderia ocorrer com a alteração do Estatuto Editorial, que, como o nome indica, é da exclusiva responsabilidade da direção editorial, nunca de uma administração”, lembra o CR, que sublinha: é “uma clara ingerência na linha editorial do jornal, segundo a Lei de Imprensa, e que, na verdade, é matar o JN.”

Lê-se no comunicado da redação que a administração tentou impor a estes colaboradores, ativos em regime de recibos verdes, “um contrato que em muitas alíneas não só bordeja os limites da lei como os ultrapassa.”

O CR questiona ainda as palavras do próprio presidente da Comissão Executiva, José Paulo Fafe que em entrevista ao ECO considerou “urgente tentar fazer crescer o JN, nomeadamente no centro do país e na região do Minho”.

“Com esta ordem a CE acaba com o JN em Viana, Braga, Guimarães, Famalicão, Aveiro, Coimbra e Leiria”, rebatem.

O comunicado dos trabalhadores sublinha ainda que “há já serviços marcados para as primeiras horas e primeiros dias de 2024 e folgas e férias que é obrigatório gozar”, que com esta decisão do GMG levariam o jornal a “falhar serviços”.

Greve a 100% em situação “muito complicada”

Segundo comunicação interna do grupo, tornada pública no passado dia 28, a situação financeira do grupo é “extremamente grave”.

A empresa refere que não pode adiantar nem comprometer-se com qualquer data, para o pagamento dos salários de dezembro, podendo unicamente “garantir estar a fazer todos os esforços para que o atraso desse pagamento seja o menor possível”, pode ler-se.

A Administração do GMG abriu recentemente um programa de rescisões por mútuo acordo abrangendo 150 trabalhadores, justificado com a necessidade de “contrariar uma situação financeira muito complicada“.

No início do mês, o JN fez uma greve “a 100%” e o jornal não saiu nas bancas, 34 anos depois.

A redação do JN criou uma petição pública e a iniciativa “Somos JN”, com o objetivo de alertar para as consequências do despedimento coletivo no jornal, que entre a sede no Porto e a delegação de Lisboa tem cerca de 90 profissionais.

Na semana seguinte, a direção da TSF demitiu-se em bloco: Rui Gomes (diretor-geral) Rosália Amorim (diretora de informação) e Artur Cassiano (subdiretor) deixaram os respetivos cargos.

Também as direções do JN e d’O Jogo, apresentaram a demissão em bloco, 48 horas depois, devido à degradação das condições para o exercício do cargo perante as medidas anunciadas pelo Global Media Group.

A constante degradação das condições funcionais, tecnológicas e institucionais de exercício de funções, sustentou a decisão tomada pela direção.

As medidas anunciadas e em preparação para o JN e as suas revistas tornaram, assinala o CR, “por demais evidente o desalinhamento estratégico”, tendo conduzido à demissão de diretora Inês Cardoso, dos diretores-adjuntos Pedro Ivo Carvalho, Manuel Molinos e Rafael Barbosa, e do diretor de Arte, Pedro Pimentel.

Tomás Guimarães, ZAP //

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