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Da Amora a Lima. Jorge Jesus “está a dois passos de alcançar a eternidade”

A cumprir a 31.ª época da sua carreira de técnico, iniciada há 30 anos, na temporada 1989/90, ao serviço do Amora, Jesus precisa de bater os argentinos do River Plate, os detentores do título, para fazer história no gigante brasileiro.

Em pouco mais de quatro meses, Jesus já conquistou o coração dos adeptos do ‘Fla’, mais do que pelos triunfos, pela forma como a equipa os consegue, pelo atraente futebol que pratica e tem sido traduzido em resultados, com dois troféus à mão de semear.

O treinador português pode dar ao Flamengo a ‘Champions’ da América do Sul, que seria apenas a segunda do clube, depois do sucesso de 1981, num conjunto comandado em campo pela categoria de Zico e que tinha o ex-benfiquista Mozer como central.

O fim de semana pode, aliás, trazer dois títulos para o palmarés do ‘Fla’, que se sagrará campeão brasileiro pela sexta vez, e primeira desde 2009, caso o Palmeiras não vença no domingo na receção ao Grêmio. Sê-lo ia com quatro jornadas por disputar.

O ‘Brasileirão’ é, porém, um dado adquirido, uma questão de tempo, enquanto a Libertadores decide-se no sábado, num só jogo, em Lima, e será o grande título de Jesus, que, na Europa, esteve em duas finais, mas não conseguiu ganhar nenhuma.

O técnico luso conduziu os’ encarnados’ a duas finais consecutivas da Liga Europa, mas perdeu a primeira (2012/13) para o Chelsea (2-1), culpa de um golo nos descontos, e a segunda para o Sevilha (2013/14), no desempate por penáltis (4-2).

No seu currículo internacional, consta apenas uma Taça Intertoto, que arrebatou pelo Sporting de Braga porque os minhotos foram a equipa das 11 vencedoras da terceira ronda da prova que chegou mais longe (oitavos de final) na Taça UEFA.

Em relação ao panorama nacional, Jorge Jesus, que cumpriu em solo luso as primeiras 29 temporadas da carreira, encheu o saco de troféus com a sua passagem pelo Benfica, que representou de 2009/10 a 2014/15, arrebatado 10 títulos, mais do que qualquer outro técnico na história do clube da Luz.

Depois de passagens pelo Amora, que subiu à Liga de Honra (atual II Liga) em 1991/92, Felgueiras, com promoção ao primeiro escalão em 1994/95, União da Madeira, Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal, Vitória de Guimarães, Moreirense, União de Leiria, Belenenses e Sporting de Braga, Jesus aterrou na Luz com 55 anos e prometeu de imediato colocar a equipa jogar o dobro.

O Benfica foi logo campeão em 2009/10 e, após seis anos, o saldo foi de 10 títulos: três campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e cinco edições da Taça da Liga, faltando-lhe a consagração europeia, que esteve muito perto de conseguir.

Com enorme polémica, mudou-se então para o outro lado da Segunda Circular, para o Sporting, que esteve muito perto de levar ao título em 2015/16, ao somar 86 pontos, insuficientes, porém, face aos 88 do Benfica, do seu sucessor Rui Vitória.

Jorge Jesus falhou nessa época e, nas duas seguintes, não esteve sequer perto de repetir a façanha, mas, nos três anos, recheou o palmarés com dois títulos, a Supertaça (2016), logo na estreia, face ao Benfica, e mais uma Taça da Liga (2017/18).

Depois do ‘ciclone’ que significou a invasão da Academia do Sporting, partiu, contrariado, mesmo com muitos euros envolvidos, para o estrangeiro e só não terá conquistado, pelo Al-Hilal, o título de campeão da Arábia Saudita porque saiu antes do final da época. Acabou por ganhar o Al-Nassr, de Rui Vitória.

A experiência foi curta e a pausa na carreira também, porque rapidamente apareceu o Flamengo, ao serviço do qual está muito perto de conquistar dois títulos, depois de 23 vitórias, oito empates e apenas duas derrotas, em 33 jogos (71-27 em golos).

O caminho para Lima

O centro de treinos do Flamengo, conhecido como Ninho do Urubu, recebeu centenas de adeptos que procuraram despedir-se da equipa antes da sua partida para a capital peruana, para jogar a final da Libertadores. Jorge Jesus mostrou-se surpreendido com a afluência da ‘torcida’.

Nunca vi este ambiente na minha vida. Não há igual no mundo. São milhares e milhares de pessoas nas estradas. É uma loucura”, disse o técnico português.

O desafio de Jorge Jesus não será certamente fácil, mas a verificar-se a conquista do título, o treinador Manuel José garante que o português “está a dois passos de alcançar a eternidade”.

[Jorge Jesus] vai ficar na história do Flamengo, não só pelo título de campeão brasileiro, que está prestes a alcançar, ao fim de vários anos [desde 2009], mas também pela qualidade de jogo que a equipa apresenta”, disse à agência Lusa o treinador Manuel José, de 73 anos.

Treinador português com mais títulos internacionais, face aos quatro triunfos na Liga dos Campeões de África e outros tantos na Supertaça africana, pelos egípcios do Al-Ahly, Manuel José está a torcer pelo sucesso de Jorge Jesus nas duas frentes competitivas do futebol sul-americano.

“Seja em que continente for que trabalhemos, é sempre complicado chegar a uma final continental. O Jorge Jesus tem poucos meses a trabalhar no Brasil e já está na final de uma. E vai jogar contra os grandes rivais dos brasileiros, os argentinos [neste caso do River Plate]”, referiu.

Ganhar ao River Plate vai eternizá-lo. Acho que é o prazer máximo, para qualquer treinador, em termos de clubes, conquistar uma competição continental”, considerou Manuel José, remetendo para um plano secundário o Mundial de Clubes, “pela forte componente económica em que se encontra inserido”.

Para Manuel José, o Mundial de Clubes é uma prova que já envolve outros aspetos, do ponto de vista financeiro e de divulgação do futebol em países com menor implementação, pelo que é uma competição envolta em “mais aparato do que outra coisa”.

“Disputar a final de uma competição continental é a expressão máxima para um treinador, em termos de clubes”, acrescentou Manuel José, salvaguardando as devidas diferenças proporcionais entre as ‘Champions’ de África, Ásia e América do Sul, por exemplo, em relação à principal prova europeia.

A Liga dos Campeões Europeus, ainda de acordo com o treinador, não se pode comparar com nenhuma outra porque é na Europa que está tudo concentrado, “é onde está o poder do dinheiro” e “os grandes investidores”, e aí reside a principal diferença.

“O Brasil tem sempre sete ou oito equipas que podem ganhar o campeonato e isso é elucidativo da grandeza do seu futebol. Mas os clubes não conseguem manter os seus grandes jogadores, porque a Europa os vai buscar”, disse.

Nos restantes continentes, continuou Manuel José, “assim que desponta um jovem talento em qualquer equipa, ou campeonato, e há muitas equipas e muitos campeonatos de qualidade, este é logo encaminhado para um grande clube europeu”.

O treinador defendeu, ainda assim, que, “embora a Liga dos Campeões europeus não se possa comparar com as restantes provas, não se pode minimizar a conquista de um campeonato continental, independentemente de as equipas envolvidas terem menos condições, talento e investidores”.

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Desafiado pela agência Lusa a deixar um conselho a Jorge Jesus, para a final de sábado da Taça Libertadores, Manuel José, sorriu, e disse que “não se pode dar conselhos a alguém que sabe tudo”.

“Sempre me dei bem com ele, mas ele tem aquele ego complicado, em que se julga sempre o melhor de todos e as coisas esfriaram um pouco, mas eu desejo-lhe a maior sorte do mundo e que seja campeão brasileiro e que conquiste a Taça Libertadores. Ele merece”, adiantou.

ZAP // Lusa

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