Israelitas chocados com discurso de Guterres e já se pede demissão. “Em que mundo vive?”

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Eduardo Munoz/Lusa

António Guterres na reunião ministerial do Conselho de Segurança da ONU para abordar a situação no Médio Oriente

“Senhor secretário-geral, em que mundo vive?” Discurso de António Guterres desta terça-feira no Conselho de Segurança da ONU para abordar a situação no Médio Oriente foi recebido como “chocante” por Israel. “Peço-lhe que renuncie imediatamente”. Famílias dos reféns estão escandalizadas e Itália já falou.

O chefe da diplomacia israelita, Eli Cohen, dirigiu-se hoje diretamente ao secretário-geral das Nações Unidas (ONU) para lhe perguntar “em que mundo vive”, após António Guterres ter denunciado “violações claras” do direito humanitário em Gaza.

“Senhor secretário-geral, em que mundo vive?”, questionou Eli Cohen numa reunião ministerial do Conselho de Segurança da ONU para abordar a situação no Médio Oriente, mais concretamente a guerra entre Israel e o grupo islamita Hamas, assim como a situação do povo palestiniano.

“Sem dúvida, não é no nosso”, acrescentou o ministro das Relações Exteriores, mostrando imagens dos ataques do Hamas contra civis, enquanto o embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, denunciava na plataforma X (antigo Twitter) o “discurso chocante” de António Guterres, a quem acusou de ver a situação de “uma forma distorcida e imoral“.

“O discurso chocante do secretário-geral da ONU, na reunião do Conselho de Segurança, enquanto foguetes são disparados contra Israel, provou conclusivamente, sem qualquer dúvida, que o secretário-geral está completamente desligado da realidade na nossa região e que vê o massacre cometido pelos terroristas nazis do Hamas de uma forma distorcida e imoral”, escreveu o diplomata.

“A sua declaração de que ‘os ataques do Hamas não aconteceram do nada’ expressou uma compreensão do terrorismo e do assassínio. É realmente incompreensível. É verdadeiramente triste que o líder de uma organização que surgiu após o Holocausto tenha opiniões tão horríveis. Uma tragédia!”, acrescentou Erdan.

“56 anos de ocupação sufocante”. O discurso de Guterres

Momentos antes, na abertura da reunião do Conselho de Segurança, Guterres condenou inequivocamente os “atos de terror” e “sem precedentes” de 07 de outubro perpetrados pelo Hamas em Israel, salientando que “nada pode justificar o assassínio, o ataque e o rapto deliberados de civis”.

Contudo, o secretário-geral da ONU admitiu ser “importante reconhecer” que os ataques do grupo islamita Hamas “não aconteceram do nada”, frisando que o povo palestiniano “foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante“.

“Viram as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência; a sua economia foi sufocada; as suas pessoas foram deslocadas e as suas casas demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a sua situação têm vindo a desaparecer”, prosseguiu Guterres.

O líder da ONU sublinhou, porém, que “as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas”, frisando ainda que “esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano”.

Embaixador israelita pede demissão. Israel vai reavaliar relação com ONU

O embaixador israelita junto das Nações Unidas (ONU), Gilad Erdan, pediu ao secretário-geral que se demita “imediatamente” após o discurso polémico.

“O secretário-geral da ONU, que demonstra compreensão pela campanha de assassínio em massa de crianças, mulheres e idosos, não está apto para liderar a ONU. Peço-lhe que renuncie imediatamente”, escreveu o diplomata na plataforma X (antigo Twitter) .

“Não há qualquer justificação ou sentido em falar com aqueles que demonstram compaixão pelas mais terríveis atrocidades cometidas contra os cidadãos de Israel e o povo judeu. Simplesmente não há palavras”, acrescentou.

Israel já confessou que vai reavaliar as relações com a ONU na sequência do discurso de Guterres.

“Definitivamente teremos de fazer uma avaliação sobre as nossas relações com a ONU. Estamos a reclamar há muito tempo“, disse à Lusa o embaixador israelita junto da ONU, Gilad Erdan, em Nova Iorque, ao ser questionado sobre o futuro das relações entre Israel e as Nações Unidas após ter pedido que Guterres renuncie ao cargo.

“Depois daquilo que o líder desta organização (Guterres) acabou de dizer esta manhã, apoiando o terrorismo, não há outra forma de explicar”, acrescentou o representante diplomático.

O pedido de demissão de Guterres já foi apoiado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, que cancelou uma reunião agendada para hoje com o secretário-geral da ONU.

Face ao cancelamento da reunião, o gabinete de Guterres informou que o secretário-geral se reunirá com representantes das famílias dos reféns detidos em Gaza na tarde desta quarta-feira.

Demissão não se justifica. Guterres mostrou o que tem de ser

Para a especialista em relações internacionais Ana Isabel Xavier, não há motivo nenhum que leve António Guterres a deixar o cargo de líder da ONU: o secretário-geral teceu os comentários de “alguém que olha pelos direitos humanos daqueles que sofrem”, disse à TSF.

“O seu perfil, claramente humanitário, acabou por se sobrepor nestes últimos dias àquilo que foi o seu testemunho presencial na fronteira de Rafah e, por isso, eu julgo que aquilo que nós testemunhamos na reunião de Conselho de Segurança das Nações Unidas foi claramente um secretário-geral bastante emocionado e bastante envolvido nesta questão, mas também um secretário-geral que tem a consciência de que o mundo não é a preto e branco“, confessou.

“É verdade que a 7 de outubro há uma condenação generalizada e vigorosa daquilo que foi o ataque do Hamas a Israel, mas também é verdade que ao longo dos últimos dias percebemos que a resposta de Israel tem sido completamente contra aquilo que o direito humanitário internacional prevê no que diz respeito desde logo à salvaguarda dos direitos dos civis em situações de Guerra, disse a especialista.

“António Guterres mostrou aquilo que um secretário-geral da ONU tem de ser: alguém imparcial, mas sobretudo alguém que olha pelos direitos humanos daqueles que sofrem e aqueles que sofrem e, neste momento, pouco importa se são israelitas ou palestinianos”, explicou.

Famílias dos reféns escandalizadas

As famílias dos reféns do grupo islamita Hamas classificaram como “escandalosas” as palavras do secretário-geral das Nações Unidas.

Que vergonha dar legitimidade a crimes contra a humanidade quando se trata de judeus! As declarações do secretário-geral da ONU são escandalosas!”, afirmou o grupo de famílias dos cerca de 220 sequestrados num comunicado.

“Crianças foram queimadas vivas, mulheres foram violadas e civis foram torturados e assassinados a sangue frio. Tudo com o objetivo de aniquilar todos os israelitas e judeus na área capturada pelo Hamas”, observaram as famílias.

Consideraram ainda que o secretário-geral da ONU “ignora vergonhosamente o facto de que em 07 de outubro foi perpetrado um genocídio contra o povo judeu e até encontrou uma forma indireta de justificar os horrores que os judeus sofreram”.

As famílias argumentam que os especialistas jurídicos declararam que os “atos horríveis” do Hamas, que incluíram massacres, tortura e a tomada de reféns civis – incluindo idosos, mulheres, crianças e bebés – “constituem não apenas crimes de guerra, mas também crimes contra a humanidade”.

Itália condena posição de Guterres

O vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini criticou esta quarta-feira o secretário-geral da ONU pelo discurso desta terça-feira. Salvini considerou os comentários de Guterres “graves e inaceitáveis”, segundo a agência italiana ANSA.

O também ministro dos Transportes e Infraestruturas disse que “não pode haver justificação para o terrorismo”.

Salvini, um dos dois vice-primeiro-ministros do Governo ultraconservador, encontrou-se na terça-feira com um grupo de sobreviventes israelitas e famílias de reféns detidos pelo Hamas.

ZAP // Lusa

21 Comments

  1. Para compreender o que se passa a milénios nesta dita (Terra Santa) que de Santa nada tem , convido a consultarem a Bíblia e os Versículos seguintes : … Mat 10:34 -39 e Lucas 12:49-53 . A partir de aí verificam-se as boas relações entre as très Religiões Monoteístas . Pessoalmente considero-me Agnóstico . Sem contar com Abrão , Agar e Ismael que tem um role importante na Fundação do Islamismo ! ………..Portanto , Paz naquele País e no Mundo , não creio que aconteça un Dia !

  2. De que “ocupação sufocante” fala Guterres?
    Gaza não ocupa militarmente Gaza desde 2005 (com os ótimos resultados que se vêem)

  3. É inacreditável e condenavel o que o hammas fez aos israelitas, mas António Guterres disse a verdade. Israel não pode alimentar a fogueira com a construção de colunatos na palestina, não são virgens, não podem dizer que quem não é por mim é contra mim.

  4. Israel retirou TODOS os colonatos de Gaza e do West Bank em 2005. Em 2007 o povo de Gaza elegeu o Hamas, uma organização terrorista que desde a sua fundação declarou como objetivo matar os judeus e destruir completamente Israel. Os palestinos não querem 2 Estados, querem a total destruição de Israel. Conclusão, o povo de Gaza tem culpa no cartório, e Israel nunca deveria ter saído de Gaza. E agora, nunca mais vai sair mesmo.

  5. Israel não retirou colonatos de lado nenhum. Antes pelo contrário, são cada vez mais os colonatos na Cisjordânia. E aposto que depois deste novo conflito vão multiplicar-se, com os judeus vizinhos de Gaza a emigrarem (com ajuda do governo) para a Cisjordânia. Os povos não têm culpa (podem ter alguma responsabilidade…) dos actos dos seus governantes. Senão, o povo português teria muitas culpas para expiar.

  6. Tiro-lhe o chapéu Sr. Guterres, eu que sempre pensei que era demasiado manso para o cargo, o que, por outro lado, convém à elite para o ter debaixo de controlo. O Sr. excedeu-se e demonstrou coragem. Felicito-o.
    Estamos fartos de negócios de armas.

  7. não sou a favor do hamas mas efetivamente a verdade fez “mossa” a Israel…
    Eles não cumprem com a resolução das Nações Unidas vindo a ocupar terrenos, que por decisão das Nações Unidas, serão pertencente a Gaza e depois, como forma de combater os mulcumanos, num passado não muito distante foram os patrocinadores do hamas…

  8. Aqui nesta historia nao ha bons nem maus. Lembra se quando Israel patrocinava o Hamas ?… pois faz lembrar quando os EUA patrocinavam o Sadam.

    E diga me: o povo russo deve ser severamente castigado por terem colocado o Putin no ppder ? Os italianos por terem colocado a Meloni ? Os israelitas por terem colocado o Netanyahu com os extremistas ? Se um dia Portugal colocar o Chega no poder…?

  9. Se a Israel é invenção das Nações Unidas, para compensar o povo judaico do extermínio alemão, podia-se pelo menos esperar que esta lhes deixa viver em paz e segurança. Mas não . Agora são os ‘protegidos’ os nazis e os etnofanatas os bonzinhos e coitadinhos. Hamas é eleito democraticamente como governo da Gaza e pode queimar bebes vivos como nem um nazi alemão e Guterres – o Fraco ainda não percebeu quem é o agressor. – Ele é pró-palestiniano e assim conluia com o massacre de 7/10

  10. Eu compreendo o estado de choque dos israelitas. Mas eu também estou muito chocado com a transformação da fixa de gaza num matadouro a céu aberto. Devo pedir a demissão de quem?

  11. Estes trolls a favor de Israel são a explicação em pessoa de como tanta gente permitiu a ascensão ao poder do partido Nazi e consequentes massacres. Estão a fazê-lo de novo, apenas substituindo a palavra Nazi por Zionista.

  12. Estranho mundo este que a cada dia perde os seus valores. A verdade incomoda e é preciso que o dinheiro a esconda, comprando a mentira a qualquer preço. É preciso destruir o terrorismo de forma eficaz, mas não à custa do ataque cego a civis desprotegidos sejam de que lado forem. Israel colheu ( de forma bárbara e a todos os títulos inadmissível) o que há muitos anos vem semeando.
    António Guterres (tal como o ex CEO da Websumit) teve coragem de publicamente dizer o que qualquer ser humano de bom senso pensa.
    E os fascistas que agora governam Itália podem deixar de posar para a fotografia e assumirem aquilo que na segunda guerra mundial fizeram (directa ou indirectamente) contra os judeus.
    Apesar de tudo, neste mundo podre, ainda não vale tudo!

  13. 1 – Como Guterres, sou frontalmente contra o super atentado do Hamas sobre Israel no passado dia 7. Mas, por razões de coerência, não posso concordar com a posterior e contínua actuação de Israel sobre a faixa de Gaza., No primeiro caso tratou-se de uma acção terrorista, sem dúvida. No segundo não. Mas os resultados não contam?
    2 – Se não gostaram que o Secretário-Geral da ONU dissesse que os “ataques não aconteceram do nada”, eu pergunto a quem não gostou: então porque terão acontecido?

  14. 1 – Sou frontalmente contra o atentado perpetrado pelo Hamas contra Israel no passado dia 7. Por coerência e não só, também não posso estar de acordo com a posterior e contínua actuação de Israel sobre a faixa de Gaza.
    Aquele atentado foi levado a cabo por terroristas. A metralha sobre Gaza é arremessada por gente civilizada, consciente, humana e sofrida. mas os seus resultados estão também à vista, e de que maneira…

    2 – As palavras do Secretário-Geral da ONU – «os ataque do Hamas não aconteceram do nada» – não agradaram a israelitas, italianos, portugueses e outros… Eu, que não sei porque aconteceram esses ataques, e não me importo de desagradar a quem quer que seja, pergunto aos desagradados: porque terão acontecido?

  15. A unica surpresa aqui é como deixaram esse insignificante chegar a um cargo desses e os culpados são os que lhe dão palco, que o deixam abrir a boca. M**da dessa deve ser ignorada quando abre a boca. Esse animal devia de apanhar prisäo perpétua pelo apoio a terroristas.

  16. Só quem desconhece os factos é que pode estar contra Israel. Mas estes comentadores não sabem que os terroristas se escondem entre civis, escondem armas em hospitais, escolas, etc.? O Hamas QUER que morram muitos civis, quantos mais melhor. Porque sabem que a opinião pública se vai voltar contra Israel. E já agora, ninguém se interroga como é que Israel consegue cortar a eletricidade e água a Gaza? É simples, Israel é o único país a fornecer eletricidade e água a Gaza. Tantos países Árabes ali à volta, mas se fosse por eles toda a população de Gaza estaria morta, nem refugiados aceitam. E outra coisa, entre Israel e Palestina, Israel foi a única nação a aceitar a solução de 2 Estados proposta pela ONU em 1947. A Palestina sempre recusou, sempre, e desde 1948 que não faz outra coisa a ser tentar invadir Israel – a Palestina não quer 2 Estados, o seu único objetivo é a destruição completa de Israel. E estas palavras não são minhas, está escrito no manifesto do Hamas. Desde 2005 que Israel retirou de Gaza, todos os colonatos retirados, e para quê? Está aqui a prova que nunca deveriam ter saído.

  17. Nazi + Zionista = Nazionista. Esta é a política dos extremistas que atualmemte comandam o governo em Israel, e que estão a cometer um ato totalmente desproporcionado, barbaro e criminoso, face aos atos criminosos e bárbaros cometidos pelo Hamas. Nada de confundirmos isso, com a maioria do povo israelita, que defende valores de democracia e liberdade para todos, tanto para os seus como para os palestinianos, e uma convivência pacífica com o mundo árabe.

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