Israel criou uma task force para pressionar a empresa de gelados norte-americana Ben & Jerry’s e a sua proprietária, Unilever, a reverterem a decisão de boicotar a ocupação israelita na Cisjordânia.
“Precisamos de aproveitar os 18 meses que faltam para a entrada em vigor da decisão e tentar alterá-la. Queremos criar uma pressão sobre a Unilever e a Ben & Jerry’s, de longo prazo, através dos consumidores e dos políticos na imprensa e nas redes sociais para entrar em diálogo com as empresas“, disseram as autoridades israelitas.
De acordo com site de notícias norte-americano Axios, o Governo israelita está preocupado com o facto de a ação da Ben & Jerry’s encorajar outras empresas internacionais a tomarem medidas semelhantes. Um telegrama confidencial do Ministério dos Negócios Estrangeiros, visto pelo Axios, deixa claro que o Governo quer enviar uma mensagem.
Na semana passada, a Ben & Jerry’s anunciou que, a partir de janeiro de 2023, não vai permitir que os gelados sejam comercializados em territórios palestinianos ocupados, mas vai poder continuar a vendê-los dentro das fronteiras de Israel, anteriores a 1967.
A decisão da empresa norte-americana, que assumiu posições políticas, chegou quase uma década depois de pressão de ativistas pró-palestinianos, sendo que, no ano passado, o Governo israelita conseguiu demover a Ben & Jerry’s a tomar tais medidas.
Mas, segundo o Axios, depois dos recentes conflitos na Faixa de Gaza, a pressão sobre a Ben & Jerry’s aumentou, e, nas últimas duas semanas, ficou claro que a decisão de boicotar a ocupação israelita nas colónias da Cisjordânia estava iminente.
O Governo israelita, no entanto, tentou pressionar a Unilever para impedir a empresa de gelados a tomar essa decisão, mas a proprietária disse que a Ben & Jerry’s tinha o direto de tomar as medidas, como parte da sua política de responsabilidade corporativa e da justiça social.
No dia 22 julho, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel enviou um telegrama a todas as embaixadas israelitas na América do Norte e na Europa, ordenando-lhes que começassem uma campanha de pressão contra a Ben & Jerry’s e a Unilever, de modo a convencê-los a negociar.
Diplomatas israelitas foram instruídos a encorajar organizações judaicas, grupos de defesa pró-Israel e comunidades evangélicas a organizar manifestações junto aos escritórios da Ben & Jerry’s e da Unilever, para pressionar os investidores e os distribuidores das empresas.
O Governo pediu ainda aos diplomatas que pressionassem e condenassem as empresas, estimulando “protestos públicos nos media e diretamente com os principais executivos das empresas. Os diplomatas foram também estimulados a ecoar os protestos nas redes sociais para conseguir maior visibilidade.
A Embaixada de Israel em Washington e os consulados de Israel no Estados Unidos foram solicitados a pressionar através da lei anti-BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) em vários estados, envolvendo governadores, presidentes de Câmara, congressistas, funcionários estaduais e advogados.
As autoridades israelitas acrescentaram que Ben & Jerry’s e a Unilever “cederam e cooperaram com o movimento BDS”, alegando ser parcialmente “motivado pelo antissemitismo”, referindo que a decisão das empresas foi “hipócrita, vai contra os valores da responsabilidade corporativa e cheira a cultura extrema de cancelamento”.
// Lusa