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O isolamento tem efeitos profundos no corpo humano (e são muito negativos)

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Imagine estar fechado no quarto pequeno e escuro, sem interação social, durante um mês. Em novembro de 2018, um jogador profissional de poker, Rich Alati, apostou cem mil dólares e aceitou o desafio.

O norte-americano foi mantido num pequeno quarto completamente escuro com uma cama, um frigorífico e uma casa-de-banho. Mesmo com todos os recursos de que precisava para sobreviver, Alati não conseguiu. Depois de 20 dias, negociou a libertação, recebendo um pagamento de 62.400 dólares.

Existem inúmeros efeitos negativos que o isolamento social e o isolamento extremo podem ter na mente e no corpo. Alati não foi exceção, relatando que experimentou uma série de efeitos colaterais, incluindo mudanças no ciclo de sono e alucinações.

Uma das razões pelas quais viver em isolamento é difícil prende-se com o facto de os humanos serem criaturas sociais.

Muitas pessoas que viveram em ambientes isolados – como os investigadores da Antártica – relatam que a solidão pode ser a parte mais difícil do trabalho. Yossi Ghinsberg, um aventureiro e autor que sobreviveu a semanas sozinho na Amazónia, disse que a solidão era o que mais sofria e que criou amigos imaginários para ter companhia.

A solidão pode ser prejudicial para a saúde mental e física. Pessoas socialmente isoladas são menos capazes de lidar com situações stressantes. Além disso, é mais provável que se sintam deprimidas e podem ter problemas a processar a informação.

Pessoas solitárias são mais suscetíveis a doenças. Investigadores concluíram que o sistema imunitário de uma pessoa isolada responde de forma diferente no combate a vírus, sendo, por isso, maior a probabilidade de desenvolvimento de doenças.

Os impactos do isolamento social pioram quando as pessoas são colocadas em ambientes fisicamente isolados. O confinamento solitário pode ter efeitos psicológicos negativos nos prisioneiros, incluindo aumentos significativos de ansiedade e ataques de pânico, aumento da paranoia e menor capacidade de pensar com clareza. Muitos presos também relatam problemas de saúde mental de longo prazo após serem mantidos em isolamento.

Natascha Kampusch, uma mulher austríaca que foi sequestrada com dez anos e mantida em cativeiro por um período de oito anos, observou na sua biografia que a falta de luz e o contacto humano a enfraqueceram mentalmente. Ela relatou que intermináveis horas e dias passados completamente isolados a tornaram suscetível às ordens e manipulações de seu sequestrador.

Os efeitos do isolamento podem tornar-se ainda mais pronunciados ao estar na escuridão total. Estar em completa escuridão pode destruir o ciclo de sono. Os dois mecanismos principais para a regulação do ciclo do sono – a hormona melatonina e o núcleo supraquiasmático do cérebro – dependem da luz para funcionar.

A luz do dia reduz os níveis de melatonina, ajudando-nos a sentir acordados. A luz do dia também ajuda o núcleo supraquiasmático a redefinir o tempo de vigília se os ciclos de sono se começarem  desviar. Sem luz do dia, o ritmo circadiano de 24 horas pode mudar.

Interrupções do ritmo circadiano podem deixar as pessoas deprimidas e fatigadas. Isto tem sido associado ao aumento do risco de cancro, resistência à insulina e doenças cardíacas, bem como problemas físicos, como obesidade e envelhecimento precoce.

Pessoas colocadas em isolamento também podem experimentar alucinações, que acontecem por falta de estimulação cerebral.

De facto, Alati revelou que começou a experimentar alucinações no terceiro dia em isolamento, desde ver a sala cheia de bolhas até imaginar que o teto se tinha aberto, mostrando-lhe um céu estrelado. As pessoas em total isolamento também podem sentir que há uma presença fantasmagórica ou alguém que as observa.

A boa notícia é que estes efeitos são reversíveis. A exposição à luz do dia normalmente pode corrigir os padrões de sono-vigília, embora possa levar semanas, ou mesmo meses, em alguns casos.

Reconectar-se a outros seres humanos pode reduzir a solidão e ajudar a restabelecer a uma boa saúde mental e física. No entanto, algumas pessoas que foram mantidas em isolamento social contra a sua vontade podem desenvolver condições de saúde mental a longo prazo, como transtorno de stress pós-traumático.

Algumas pessoas que enfrentaram o desafio de ficar sozinhas por um longo período de tempo podem mostrar crescimento pessoal – incluindo crescimento emocional, sentir-se mais próximo da família e dos amigos e ter uma perspetiva melhor da vida.

Depois de 20 dias em isolamento total, Alati disse que mudou, relatando que a experiência lhe deu uma maior apreciação pelas pessoas e pela vida, melhor atenção e foco.

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