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Islândia mapeou o ADN de toda a população

Investigadores na Islândia afirmam ter mapeado com sucesso o código genético do “país inteiro”, através da combinação de dados de ADN de 10 mil habitantes com as respectivas árvores genealógicas.

Os representantes da equipa científica deCODE, responsável pelo mapeamento, afirmam que agora é possível encontrar todas as mulheres que correm risco de desenvolver cancro de mama “com o apertar de um botão” – e que seria um crime não usar essa informação.

A investigação, publicada na Nature Genetics, usou os dados para fazer uma série de descobertas, incluindo a idade do último ancestral em comum de todos os homens do país.

O ADN é passado de geração em geração, e desta forma, ao descodificar o código genético de uma criança, é possível mapear o ADN dos seus país e avós.

A equipa estudou também as sequências de ADN de dez mil pessoas e combinou os dados com árvores genealógicas.

“Usando essas técnicas podemos prever, com um nível considerável de exatidão, o genoma de toda a nação”, afirma o chefe executivo do deCODE, Kári Stefánsson, à BBC.

Medicina

As mutações nos genes chamados BRCA proporcionam um elevado risco de desenvolvimento do cancro. Foi o que motivou, por exemplo, a atriz Angelina Jolie a remover os seios e os ovários.

“Nós podemos, na Islândia, identificar todas as mulheres que carregam mutações no gene BRCA2”, afirma Stefánsson.

“É um risco que poderia ser anulado com mastectomias e ovariotomias preventivas. Seria criminoso não tirar vantagem disso e estou convencido que meus colegas vão começar a aproveitar esse conhecimento em breve”.

Os dados por enquanto são anónimos. Usar esse tipo de informações em medicina poderia levantar questões éticas – como identificar genes potencialmente mortais em pessoas que nunca se voluntariaram para estudos de ADN.

Stefánsson admite que ainda existe muito para ser debatido sobre o assunto. “Mas eu, como médico mais antigo, tenho o instinto de simplesmente entrar em contato com essas pessoas e alertá-las”.

O investigador já está a discutir o assunto com as autoridades islandesas de saúde pública.

Estudos elegantes

O projeto britânico que pretende descodificar o genoma de 100 mil pessoas e a Iniciativa de Medicina de Prevenção do governo norte-americano são outros projetos que visam usar informações genéticas para revolucionar a medicina.

Mark Caulfield, investigador-chefe  do Genomic England, considera os estudos da Islândia “muito interessantes” e “muito elegantes”.

“A equipa da Islândia deve ser elogiada por ter continuado, ao longo de muitos anos, a contribuir para a compreensão das informações genéticas da doença estudando toda a população”.

“Estamos quase a ponto de poder aplicar a medicina genómica transformadora em escala”.

O responsável ressalva, contudo, que há muitos tipos de mutações no gene BRCA2 e é preciso ter a certeza do perigo antes de avisar mulheres supostamente em risco.

Pai em comum

O projeto fez uma série de descobertas, incluindo um novo gene ligado à doença de Alzheimer.

A equipa também produziu uma estimativa da idade do mais antigo ancestral do homem ao analisar a taxa de mutações no cromossoma Y.

Os investigadores acreditam que o último ancestral em comum do homem viveu há 239 mil anos – quando a estimativa anterior era de 308 mil anos atrás.

A equipa também identificou a falta de cópias de um gene específico em 8% da população, mas ainda não se sabe se isso pode ser prejudicial, benéfico ou não ter impacto sobre esses indivíduos.

Susan Wallace, que colaborou com a organização não governamental Conselho Nuffield de Bioética num relatório sobre a utilização de dados biomédicos, considera que “parece ser um estudo promissor que pode trazer benefícios para as pessoas”, mas que é preciso mais atenção pública para diminuir os riscos de que esses dados sejam tornados públicos e acabem por ser usados comercialmente.

ZAP / BBC

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