Mais de 45 cientistas, entre os quais o português Agostinho Antunes, descodificaram o genoma dos pangolins malaio e chinês, e revelaram a existência de seis novas espécies destes mamíferos de escamas.
Os pangolins, são mamíferos únicos que possuem o corpo revestido por escamas e compreendem 8 espécies descritas, quatro da Ásia e quatro de África.
De acordo com os especialistas, estes animais partilharam um ancestral comum com os carnívoros há cerca de 70 milhões de anos atrás, tendo depois alterado dramaticamente a sua forma de alimentação e o seu aspeto morfológico – escamas, ausência de dentes, visão fraca, e um sistema olfativo muito desenvolvido.
A mais recente investigação sobre estes animais, que envolveu cientistas de 12 países, reuniu três pesquisas que foram agora publicadas nas revistas científicas Genome Research, Scientific Reports e Molecular Ecology.
Para o geneticista Agostinho Antunes, “uma das descobertas que foi bastante interessante na sequenciação do genoma do pangolim malaio e do pangolim chinês é que eles têm uma deficiência num gene imunitário (IFNE)”, expresso exclusivamente em células epiteliais e importante na imunidade cutânea e mucosa, que pode estar na origem da importância do desenvolvimento das escamas.
Segundo o professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, as escamas poderão ter sido desenvolvidas para “proteger estas espécies de lesões e stress“, e reduzir a sua vulnerabilidade à infeção.
“Esta situação pode ser particularmente interessante porque faz com que estas espécies de pangolins possam funcionar como espécies modelo para estudos futuros de insuficiência imunitária e com relevância para a saúde humana”, realçou.
Por outro lado, a investigação revelou a existência possível de “seis linhagens crípticas, sugerindo seis espécies distintas” dentro do pangolim comum africano, que podem ser de grande relevância em termos de preservação destas espécies.
O estudo genético sugere que as seis espécies crípticas dentro do pangolim comum estarão divididas pela África Ocidental, Gana, Dahomey Gap, África Central Ocidental, Gabão e África Central, que divergiram ao longo dos últimos 2 milhões de anos.
Um animal em risco de extinção
“Os pangolins são espécies muito ameaçadas, principalmente na Ásia, devido a um tráfico muito grande que existe na China, porque a sua carne é muito apreciada“, podendo um quilo da sua carne custar “várias centenas de dólares”, disse Agostinho Antunes.
Além disso, as suas escamas são usadas na Medicina Tradicional como afrodisíaco e outras aplicações. Por estas razões, estas espécies “têm sido dizimadas” e “altamente traficadas”.
Agostinho Antunes, que iniciou o estudo genético de pangolins em 2003, com uma bolsa da National Geographic Society, reconheceu que “não é fácil trabalhar com estas espécies“, das quais pouco se conhece.
“Os pangolins existem no Velho Mundo, em África e na Ásia, e são muito incomuns, porque têm o corpo revestido de escamas e parecem mais um réptil do que um mamífero”, explicou.
Embora a morfologia do pangolim tenha alguma parecença com outros papa-formigas da América do Sul, como o tamanduá e o tatu, essa semelhança resulta apenas de evolução convergente para um mesmo tipo de alimento (térmites e formigas).
Cientificamente, os pangolins também surpreendem por compreenderem a única ordem de mamíferos placentários ainda sem um mapa inteiro do genoma conhecido.
BZR, ZAP // Lusa