A Agência de Projetos Avançados para a Saúde (ARPA-H) dos EUA contratou Jean Hébert, um investigador com uma ideia controversa: substituir partes do corpo, incluindo o cérebro, para prolongar radicalmente a vida.
Jean Hébert, biólogo do Albert Einstein College of Medicine, vai liderar uma nova iniciativa da ARPA-H centrada na “substituição funcional do tecido cerebral”.
Este conceito gira em torno da ideia de substituir gradualmente o tecido cerebral envelhecido por tecido jovem criado em laboratório, com o objetivo final não só de tratar doenças cerebrais, mas também de prevenir a própria morte, contornando o processo de envelhecimento.
A investigação de Hébert poderá ter aplicações imediatas no tratamento de doenças como o AVC. No entanto, a sua visão mais alargada vai muito além do tratamento de casos isolados.
Há muito que Hébert defende a substituição total do cérebro como forma de evitar a morte por velhice, uma ideia que detalhou no seu livro de 2020, Replacing Aging.
De acordo com Hébert, para viver indefinidamente, as pessoas devem substituir todas as partes do seu corpo, incluindo o cérebro, por versões mais jovens, tal como se faz para manter um carro velho com peças novas.
A noção de substituição de partes do corpo não é inteiramente nova. Entre outros cientistas, o famoso futurista Raymond Kurzweil, por exepmplo, sustenta que que os avanços na tecnologia dos nano-robôs irão em breve prolongar a vida humana para 1000 anos.
A ciência médica tem feito progressos significativos no transplante de órgãos como fígados e corações, bem como no desenvolvimento de ancas e córneas artificiais. No entanto, o cérebro apresenta um desafio único, sublinha o MIT Technology Review.
À medida que envelhecemos, o nosso cérebro encolhe e deteriora-se. O problema é que substituir o cérebro não é tão simples como substituir um órgão desgastado.
Hébert propõe substituir o cérebro gradualmente, introduzindo pequenas quantidades de tecido jovem no cérebro envelhecido ao longo do tempo. Este processo lento permitiria que o cérebro se adaptasse.
No seu laboratório, Hébert tem feito experiências com ratos, removendo pequenas secções dos seus cérebros e injetando células embrionárias.
Apesar de promissora, a ideia de Hébert continua a ser controversa. Alguns investigadores no domínio do envelhecimento, como Matthew Scholz, CEO da Oisín Biotechnologies, são céticos. Scholz reconhece a plausibilidade teórica das ideias de Hébert, mas mantém-se cauteloso quanto aos desafios práticos.
As ideias de Hébert receberam recentemente um impulso significativo do governo dos EUA. O investigador propôs um projeto de 110 milhões de dólares à ARPA-H para testar as suas teorias em macacos e outros animais, e a agência terá levado a sério a sua proposta, contratando-o como gestor de programa.
Embora a investigação de Hébert possa vir a beneficiar doenças como o AVC e a doença de Alzheimer, o seu objetivo final continua a ser o prolongamento da vida humana.
O foco do seu trabalho é o neocórtex, a parte do cérebro responsável pela maior parte da nossa perceção sensorial, raciocínio e memória. Hébert argumenta que o neocórtex poderia ser substituído sem perder a informação que codifica, incluindo a auto-identidade de uma pessoa.
Um dos maiores desafios que Hébert enfrenta é o fabrico do tecido cerebral jovem necessário para a substituição. O seu laboratório tem estado a estudar os cérebros de fetos humanos para orientar a criação de estruturas semelhantes no laboratório, um processo que levanta questões éticas importantes.
Hébert sugeriu que os fetos humanos poderiam potencialmente servir como fonte de peças para prolongar a vida de pessoas idosas, uma afirmação que gerou controvérsia.
Apesar de tudo, Hébert está otimista quanto ao futuro da sua investigação. O cientista reconhece que ainda estamos longe de reverter o envelhecimento do cérebro, mas acredita que a substituição gradual do cérebro oferece um caminho promissor.