Inumanos, feministas e aliens. As teorias da conspiração para explicar os problemas da Rússia

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ZAP // Dall-E-2

Pessoas “inumanas” criadas por tecnologias genéticas cósmicas, o “ódio coletivo do Ocidente”, a igualdade de género e o feminismo. Não faltam teorias para explicar os problemas das Rússia — recolhidas num bizarro artigo “científico” recentemente publicado.

Em meados deste mês, a revista académica de S.Petersburgo “Ciência Jurídica: História e Modernidade” publicou um controverso artigo intitulado “A Família Russa como Base da Estado-nação Russa”, que mais tarde foi removido do seu site.

Escrito por várias personalidades, incluindo Mikhail Salnikov, investigador-chefe da Faculdade de Direito de S.Petersburgo, Igor Ananskikh, deputado da Duma Estatal e Ivan Mironov, Tenente-General reformado do FSB , o artigo apresentava uma série de teorias da conspiração extravagantes.

O portal russo independente Meduza, que teve acesso ao bizarro artigo, resume algumas das principais teorias que os seus autores apresentam para explicar os problemas com que a Rússia se debate.

Segundo os autores do artigo, os russos, que foram fundamentais na união de vários grupos étnicos no país, enfrentaram um “genocídio” após o colapso da URSS orquestrado por pessoas do Cáucaso e da Ásia Central.

Os autores argumentam que há um “ódio coletivo do Ocidente” pelos russos, que “não pode ser explicado pela ciência”.

A diminuição da população russa, que Putin está a tentar combater, é devida a influências culturais ocidentais e uma escassez de homens — não causada pela guerra, mas por programas dos EUA destinados a destruir os russos.

Segundo os autores do artigo, ao contrário de “outras tribos”, os russos deixaram de procriar e multiplicar-se porque, por um lado, “estão a trabalhar duramente para levar a Rússia às costas”, e, por outro, porque foram “corrompidos pela cultura ocidental”.

Além de questões de caráter político, os autores do artigo entram também em considerações bíblicas bastante esotéricas. Por exemplo, sustentam, nos anos 1990 as mulheres russas tornaram-se seguidoras da deusa demoníaca Lilith.

No artigo, as pessoas são categorizadas em “pessoas terrenas“, criadas à imagem de Deus, e “pessoas bestiais” ou “não-humanos”, supostamente criadas usando tecnologias genéticas cósmicas.

Estas últimas são movidas por traços negativos como guerra e pedofilia, enquanto as “pessoas terrenas” valorizam a paz e os valores familiares.

O artigo explora a existência de extraterrestres e o seu suposto plano para transferir o poder da Terra para uma civilização espacial reptiliana, que implicaria a eliminação dos russos e a corrupção moral das mulheres. Estes alienígenas “influenciaram o comportamento humano” e os homens foram cúmplices, “através do desejo”.

Os autores do artigo criticam a igualdade de género e o feminismo, rotulando-os como ferramentas da Europa Ocidental para desmantelar famílias, e desencorajam o envolvimento das mulheres na ciência e no trabalho para manterem papéis tradicionais.

O artigo recupera a ideia da telegonia, teoria desacreditada que sugere que as mulheres retêm o material genético de todos os parceiros sexuais anteriores, e condena a educação sexual e as práticas sexuais seguras — que considera caminhos para a perversão, alegando que o sexo pré-matrimonial arruína as mulheres.

Os autores equiparam o liberalismo à redução dos seres humanos a animais movidos por instintos, focando-se principalmente nos desejos sexuais.

Argumentam que as formas de guerra híbrida contra os russos incluem prostituição e aborto, e alegam de forma bizarra que o sexo oral, descrito como um produto da democracia, transmite um vírus específico de cancro da garganta.

Por fim, o artigo afirma que ser criado por mães solteiras tem um impacto negativo nas crianças, particularmente nas meninas, preparando-as para um futuro promíscuo.

Não faltam teorias para explicar os problemas da Rússia.

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1 Comment

  1. Esta é claramente a maior colecção de teorias escandalifobéticas da conspiração que já vi. Julgo que houve muita vodka na génese deste artigo.
    O maior problema da Rússia não é o Ocidente, é a sua falta de cultura democrática: não podemos esquecer que aquele país saiu directamente do feudalismo medievo para o colectivismo comunista em 1917 (ambos regimes ditatoriais) e deste quase directamente para o despotismo Putinista nos fins do séc. XX. Lá, a democracia, o pluralismo, a liberdade, nunca tiveram tempo de criar raízes.

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