Inserir esperma na vagina através de uma seringa: e os rastreios? E conhecer o dador? As infeções e a qualidade do sémen preocupam.
A inseminação artificial, feita em casa, anda a ser anunciada em grupos privados no Facebook, em Portugal.
O Correio da Manhã avançou com essa informação na semana passada: na rede social, homens dizem que estão prontos para doar sémen a mulheres que querem engravidar.
A inseminação caseira consiste em inserir esperma na vagina através de uma seringa; não há relação sexual, não há médicos envolvidos no processo.
Por isso (e não só), é perigoso, avisa a médica ginecologista Catarina Godinho: “Trata-se de uma prática informal, em que o sémen é fornecido diretamente por um dador desconhecido, sem rastreios, critérios de seleção ou controlo laboratorial“.
“É uma situação substancialmente diferente da autoinseminação realizada com sémen adquirido em bancos certificados, onde o material é sujeito a testes rigorosos”, sublinha a especialista em medicina da reprodução.
Em comunicado enviado ao ZAP, a vice-diretora do IVI Lisboa avisa que aumenta assim o risco de transmissão de infeções sexualmente transmissíveis, “uma vez que o estado serológico do dador é totalmente desconhecido”.
E não há qualquer garantia sobre a qualidade do sémen utilizado, mesmo que o dador assegure que já é pai. A qualidade seminal é determinante, não só para o sucesso da conceção, mas também para a saúde do embrião.
Também é preciso recordar o momento do ciclo menstrual em que ocorre a inseminação: “Sem acompanhamento médico, é muito provável que o procedimento não seja realizado na fase mais fértil, comprometendo as hipóteses de gravidez”.
Mesmo a nível legal, a prática não é recomendável: só uma mulher solteira ou um casal do mesmo sexo pode registar uma criança fruto de tratamento de procriação medicamente assistida, se o processo decorrer num centro autorizado e com consentimento informado. Nestes casos, o “dador” é considerado legalmente o pai da criança – o que pode ter implicações jurídicas graves para os dois lados.
Mais do que isso: o presidente do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, Carlos Calhaz Jorge, tinha avisado na agência Lusa que a inseminação artificial realizada em casa é um crime.
“É uma prática que deve ser fortemente desaconselhada”, resume a médica ginecologista Catarina Godinho.