Indústria queixa-se dos prazos apertados para acabar com os plásticos de utilização única

Com a preocupação do excesso de plástico descartável, houve quem decidisse trocar os copos de plástico por copos de papel. No entanto, embora aparentemente mais ecológicos, estes têm uma camada fina de plástico, que impedem que sejam reciclados.

O exemplo foi usado esta quinta-feira, no Plastics Summit, na Vista Alegre, em Ílhavo, para demonstrar que as medidas “apressadas” podem ter resultados desastrosos. Segundo noticiou o Diário de Notícias, o tempo foi a tónica dominante do primeiro dia do fórum pela Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), com as empresas do setor a queixarem-se dos prazos apertados para acabar com os descartáveis.

“A diretiva SUP [sobre os plástico de uso único] vai ter implicações na organização de todas as indústrias transformadoras. O tempo é sempre um problema”, disse Ana Maria Carneiro, responsável de Qualidade e Segurança Alimentar da Intraplás, antecipando um “impacto enormíssimo” para o setor, pois não há uma “estratégia fiável em termos de timing”.

Para Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), “não se pode, por decreto, eliminar o plástico das nossas vidas”, quando “o problema surge de maus comportamentos, má educação e maus hábitos das pessoas”. O que é necessário, sublinhou, é “sensibilizar” a população.

A distribuição é, segundo o representante, “a face visível dos ataques demoníacos ao plástico”, seja pelas embalagens, seja pelos rolos de filme usados nas paletes. Contudo, alertou, “há uma parte de investigação fundamental” para que se atinja uma utilização mais eficiente e racional deste material. Não se pode, por exemplo, por em causa a “qualidade e segurança alimentar”. “Há um caminho a percorrer”, salientou.

Já Luís Garcia, responsável de sustentabilidade da Trivalor, considera que está a existir alguma “precipitação” na transposição da diretiva, que prevê a eliminação do plástico descartável até 2021, para as leis nacionais. Destacando a necessidade de encontrar respostas “mais amigas do ambiente”, pediu “um bocadinho mais de tempo”.

Em causa estão as medidas previstas na diretiva relativa aos plásticos de utilização única, que preveem a proibição de colocação no mercado de uma série de produtos, redução nos consumos, sensibilização dos consumidores, recolha seletiva e responsabilidade alargada do consumidor.

Uma série de propostas que estiveram em discussão na mesa redonda Single-Use Plastics or just Single-Use? (Plásticos de uso único ou apenas uso único?, em português), moderada por José Eduardo Martins, sócio da Abreu Advogados e ex-secretário de Estado do Ambiente.

O divórcio entre a política e o conhecimento científico

Maria Conceição Paiva, professora no departamento de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho, considera existir em Portugal um “certo divórcio entre a decisão política e o conhecimento científico”, quando devia existir “uma colaboração mais intensa”. “Se continuarmos divorciados, corremos o risco de fazer alguns disparates”, alertou.

Nas universidades, prosseguiu, “há conhecimento e capacidade de o desenvolver e dar uma opinião educada para uma legislação que se está a fazer apressadamente”. É preciso pensar bem, atirou, “e se calhar não ir tão rapidamente”. Reconhece que as decisões têm “bom fundo”, mas poderiam ter sido “mais bem amadurecidas”.

A representar os ambientalistas, Rui Berkemeier, membro do Conselho Geral da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, diz que “houve um acordar da Europa para a questão dos plásticos”, sendo que a sensibilização é o primeiro passo a dar.

Reconhece que o seguinte “é complicado, porque há empresas instaladas a trabalhar” com negócios que “não se mudam de um dia para o outro”, mas, lembrou, quando houve a questão dos sacos plásticos também se pensava que iam fechar muitas empresas e não foi isso que aconteceu.

Para Sílvia Menezes, engenheira da DECO Proteste, o cerne da questão não “é tanto o plástico de uso único, mas os materiais de utilização única”, pelo que “a reutilização é o caminho preferível”. No entanto, o plástico descartável é mais visível, por ter uma durabilidade tão elevada.

Sílvia Menezes deu um exemplo: se substituírem os cotonetes por bambu, estes vão continuar a aparecer nas praias. “Não ficam lá 50 anos, mas ficam 10 ou 20”. O mesmo se passa com a loiça ou outros materiais que possam vir a substituir o plástico descartável. Independentemente “das modas”, é preciso trabalhar “na reutilização” e na produção de “materiais mais adequados”.

Maria Conceição Paiva sublinhou que “todos os plásticos têm capacidade de ser reciclados” e estes “não têm culpa de ser abandonados”. “A indústria de embalagens alimentares fez uma revolução […]. Não podemos voltar para a lata e para o vidro, que têm um peso enorme”, acrescentou.

TP, ZAP //

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