O corte do acesso à Internet na Papua e territórios adjacentes e o envio de pouco mais de um milhar de efetivos do exército são a resposta do Governo indonésio à onda de distúrbios que vem a assolar as principais cidades da Papua Ocidental, aos quais se juntam alguns focos solidários recentes em Jacarta.
Segundo noticiou o Expresso na quinta-feira, é assim que a Indonésia pretende combater a segunda vaga de protestos violentos desta semana, que começaram na madrugada desta quinta-feira, considerados os piores de sempre nesta guerrilha que dura há anos.
Os manifestantes exibiam os pendões proibidos com a Estrela da Manhã estampada em frente ao palácio oficial da capital indonésia ao mesmo tempo que gritavam “Nós não somos vermelhos e brancos!”, numa alusão à cores da bandeira indonésia.
Dezenas de pessoas foram presas no passado por agitarem a bandeira proibida, incluindo um famoso prisioneiro, Filep Karma, que ficou no cativeiro mais de dez anos até ter sido libertado em 2015.
Na quarta-feira, a violência dos protestos aumentou quando os participantes incendiaram um mercado em Fakfak, no meio da batalha campal que a polícia e os manifestantes travavam nas ruas. Repetiram-se as cenas que agitam a província desde o passado: a polícia lançou gás lacrimogéneo depois de os manifestantes terem destruído ATM públicas.
Cerca de cinco mil pessoas participaram nos protestos no centro e arredores de Timika, onde um repórter da AFP testemunhou o arremesso de pedras ao edifício do Parlamento local e a tentativa de destruir os gradeamentos que o cercam. Depois de atingir casa e lojas pelo caminho, a multidão dispersou quando a polícia disparou tiros de aviso para o ar.
A Al Jazeera reportou que 45 cidadãos foram detidas pelas forças de segurança, “incluindo alguns que são acusados de planear os protestos e danificar edifícios”.
O corte da Internet nalgumas regiões pretende evitar que se espalhem notícias falsas que possam desencadear mais manifestações violentas.
“É triste que o Governo indonésio só oiça as décadas de frustração que acumulam quando estas pessoas retaliam”, disse ao Channel New Asia (CNA) o investigador da organização não governamental de defesa dos direitos humanos em Jacarta Human Rights Watch.
Na origem desta crise estão os relatos segundo os quais a polícia atirou gás lacrimogéneo e deteve por um curto período 43 estudantes universitários das escolas superiores da Papua na segunda maior cidade do país, Surabaya, no sábado passado, o dia em que se comemora a independência da Indonésia.
A polícia estava equipada com escudos e bastões de choque quando invadiu os dormitórios dos estudantes, que eram acusados de terem alegadamente destruído uma bandeira da Indonésia. Ao mesmo tempo, pessoas que assistiam aos acontecimentos gritavam frases ofensivas e racistas aos estudantes, como “macacos!”.
As questões entre o território da Papua Ocidental e a Indonésia arrastam-se desde os tempos da independência do ex-colonizador Holanda, em 1960. A Papua, a parte mais pobre da Indonésia, clama desde então a independência e é, por isso, cenário de uma insurgência de baixa intensidade, embora permanente.
A atiçar a revolta está a atitude das forças de segurança, que são acusadas de “cometer abusos dos direitos humanos conta a sua população de etnia melanésia”, a qual acusa Jacarta de não partilhar os vastos recursos minerais explorados na região, escreveu o CNA.
Dezenas de milhares de cidadãos da Papua foram deslocados internamente durante combates intensos entre as tropas e guerrilheiros após uma fação rebelde ter morto, no ano passado, 19 trabalhadores da construção num campo numa região remota na selva.