Psicólogos identificam uma ilusão generalizada que persiste há pelo menos 70 anos

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pennstatelive/ FLickr

Um estudo concluiu que a perceção de que a moralidade está em declínio persiste em várias gerações ao longo de 70 anos, apesar de as evidências sugerirem o contrário.

Quantas vezes já ouviu alguém dizer que o mundo já não é a mesma coisa, que a juventude está perdida ou que a moralidade está pelas ruas da amargura? Pois, é provável que os seus avós, os seus pais ou os seus filhos todos pensem o mesmo.

Uma série de estudos publicada na Nature descobriu que a ilusão de que a moralidade está em decadência já é comum há pelo menos 70 anos, independentemente da geração em que se vive.

“Durante toda a minha vida, ouvi pessoas afirmarem que os humanos são menos bons uns para os outros do que costumavam ser. ‘Quando eu era criança, podíamos deixar a porta destrancada’, esse tipo de coisa. Se as pessoas estiverem certas sobre isso, é a história do século! Todos os cientistas deveriam parar o que estão a fazer e descobrir como restaurar a moralidade”, explica o autor do estudo Adam Mastroianni, psicólogo experimental.

Para recolherem os dados sobre esta perceção, os cientistas fizeram pesquisas de palavras-chave nas bases de dados de várias empresas e institutos que fizeram sondagens ao longo dos anos sobre a perceção da moralidade da sociedade.

Entre os 177 itens da pesquisa identificados, 84,18% dos participantes nos Estados Unidos relataram que a moralidade tinha diminuído. É importante ressaltar que essa perceção manteve-se consistente ao longo de um período de 70 anos, de 1949 a 2019, ou seja, várias gerações diferentes sentiram um declínio moral na mesma proporção durante todo esse período.

Esta descoberta sugere que a crença no declínio moral não é um fenómeno recente, mas uma percepção de longa data. Os participantes eram mais propensos a achar que a moralidade está em declínio em relação a períodos de tempo mais longos (como as últimas décadas) em comparação com períodos mais curtos (como o último ano), explica o PsyPost.

A percepção de declínio moral não era exclusiva dos residentes dos EUA. Uma análise a sondagens de 59 países, envolvendo um total de 354 120 participantes, mostrou que em 86,21% dos itens, a maioria dos participantes também relatou que a moralidade tinha diminuído.

Os participantes mais velhos entender que o declínio era maior do que os participantes mais jovens. No entanto, ao considerar a taxa anual de declínio moral, verificou-se que os participantes mais velhos não notaram uma taxa maior em comparação aos participantes mais jovens. Ou seja, a perceção de maior declínio moral entre os participantes mais velhos devia-se principalmente por poderem considerar períodos de tempo mais longos.

Esta perceção parece estar errada. “Há um estudo para o qual não tínhamos espaço no texto principal, mas que responde à pergunta de outra forma. Cientistas sociais, durante décadas, trouxeram pessoas para o laboratório e pediram que jogassem vários “jogos económicos” – basicamente, eles podem escolher ser gananciosos e ganhar mais dinheiro, ou podem escolher ser generosos e ganhar menos dinheiro,” explica Mastroianni.

“As taxas de cooperação nesses jogos na verdade aumentaram cerca de 10 pontos percentuais de 1956 a 2017. Quando pedimos aos participantes que estimassem essa mudança e lhes pagamos um bónus por acertarem, eles pensaram que a cooperação tinha caído cerca de 10 pontos percentuais“, acrescenta.

Os autores propuseram um mecanismo chamado “exposição e memória tendenciosa” (BEAM) para explicar por que é que as pessoas percebiam o declínio moral, apesar das evidências em contrário. Este mecanismo sugere que a exposição tendenciosa a informações negativas sobre a moralidade atual e a memória tendenciosae seletiva para informações positivas sobre a moralidade passada podem criar uma ilusão de declínio moral.

“A maioria das pessoas no mundo acredita que os humanos são menos bons uns para os outros do que costumavam ser. Mas quase certamente estão erradas sobre isso”, remata.

ZAP //

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4 Comments

  1. Não tenho em muito boa conta o comportamento humano, mas concordo com a principal conclusão do artigo. Se formos ler relatos históricos do que passava a este nível em épocas (séculos) anteriores, ficamos bem esclarecidos sobre o nível ético quer nos poderosos, quer nos menos poderosos. Não era nada melhor do que o atual.
    A justificação para a ideia de que a moralidade decresceu nos humanos é a quantidade de informação negativa que é transmitida nos países onde há liberdade de expressão (claro, só nestes…). Os “telejornais” e as capas dos jornais apresentam todos os dias uma imagem 90% negativa do que ocorre nessas sociedades. É isso que nos dizem. Mas, na verdade, os cidadãos sabem que no seu dia a dia as coisas não são 90% negativas. A percepção negativa que o artigo revela corresponde aos últimos 70 anos, ou seja, ao período em que a informação nas televisões, rádios e jornais (e, agora, ainda pior, nas redes sociais) se generalizou a toda a população. As notícias negativas sempre existiram, mas não eram ampliadas desmesuradamente todos os dias.

  2. Fizeram o Teste Psicológico errado.
    O declínio moral que a percepção da Humanidade se refere é em relação ao comportamento humano e a moral de costumes na sociedade.
    Numa sociedade totalmente depravada como a atual. Como essa percepção seria errada?

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