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Ilha Christmas obriga a alterar mapa da distribuição dos animais (e a famosa linha de Wallace)

O mapa mundial da distribuição animal vai ter de ser alterado e os livros escolares atualizados após investigadores terem descoberto a existência de espécies “australianas” na Ilha Christmas.

De acordo com Jonathan Airchison, da Universidade de Queensland, a descoberta põe em causa o entendimento de longa data sobre a localização de uma das barreiras mais significativas da biologia e da geografia – a linha de Wallace.

“A linha Wallace – batizada em honra do seu descobridor Alfred Russel Wallace – delineia a principal divisão biológica que separa as espécies de origem asiática daquelas de origem australiana”, disse Aitchison, em comunicado. “Percorre as estreitas vias marítimas que separam Bali de Lombok e Bornéu de Sulawesi. A oeste estão os tigres, elefantes, rinocerontes e orangotangos da Eurásia e a leste, os marsupiais e monotremados da Austrália.”

Porém, de acordo com o estudos publicados em janeiro e março nas revistas científicas Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology e Biological Journal of the Linnean Society, respetivamente, a 1000 quilómetros a oeste do traço convencional da linha de Wallace, na Ilha Christmas, Jonathan Aitchison e os seus colegas observaram espécies de origem australiana.

“Inesperadamente, metade das espécies terrestres de mamíferos e répteis terrestres da Ilha Christmas – dois ratos, dois lagartos e uma lagartixa – tem uma herança genética no lado da divisão da Austrália”, disse Jason Ali, da Universidade de Hong Kong.

De acordo com o IFLScience, entre 40 e 17 milhões de anos atrás, a Ilha Christmas era um atol de coral no topo de um pico vulcânico submarino. A colisão com a placa tectónica asiática dobrou a placa australiana. O fundo do mar ao sul de Java subiu, trazendo a ilha à superfície.

Muito poucos animais terrestres chegaram à Ilha Christmas. Porém, os dois ratos, dois lagartos e uma lagartixa, metade das espécies terrestres de vertebrados da ilha, estão mais intimamente relacionados com o leste da Linha Wallace do que o oeste, apesar da jornada enormemente mais longa.

“Os ancestrais dessas espécies provavelmente terão sido levados em árvores arrancadas de tapetes de vegetação e transportados por uma grande corrente oceânica conhecida como fluxo indonésio”, disse Aitchison.

A pressão do Oceano Pacífico força o escoamento para os canais de águas profundas entre certas ilhas da Indonésia. Os canais são tão profundos que impediram a passagem durante o auge da Era do Gelo, explicando as observações de Wallace.

Curiosamente, muitos dos pássaros da Ilha Christmas também são do leste. “Muitas espécies de aves ultrapassam os limites”, disse Ali. “Mas se olharmos para as direções do vento, sopram predominantemente da Austrália”. O investigador acredita que mais pássaros podem ter sido arrancados da Austrália e continuaram a voar durante centenas de quilómetros.

De acordo com Ali, são necessários avanços nos testes genéticos para determinar se alguns dos parentes mais próximos dos habitantes da ilha são australianos ou asiáticos, identificando assim as suas origens.

“A Ilha Christmas é um lugar estranho e único, não apenas por causa da sua história geológica, mas também pela sua história biológica. Estamos entusiasmados por ver que outras descobertas estranhas e maravilhosas estão por vir”, rematou Aitchison.

ZAP //

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