Uma mulher de 93 anos que esteve internada em Lisboa, com Covid-19, recuperou da infecção ao cabo de 11 dias. Enquanto isso, há seis crianças com idades entre 4 meses e 17 anos que estão internadas com coronavírus e em estado grave, no Hospital Dona Estefânia.
A notícia foi divulgada pela revista Sábado com base em declarações da responsável pela Unidade de Infecciologia do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. Maria João Brito confirmou, entretanto, a informação ao Observador, realçando que estes pacientes têm de ser seguidos “com pinças”.
“Eventualmente, um deles pode ser proposto para alta, mas só mais tarde”, salienta a médica ao Observador, notando que as seis crianças estão internadas há cerca de uma semana “em média”.
As seis crianças apresentavam dificuldades respiratórias aquando do internamento, além de outros sistemas, mas “por enquanto nenhum deles está ventilado”, revela Maria João Brito.
“As crianças podem ser menos atingidas, mas também podem desenvolver quadros graves”, alerta a médica, frisando que, para já, “a capacidade da Estefânia [em termos de ventiladores] está a ser suficiente”. Caos esta se esgote, “há uma norma da DGS [Direcção Geral de Saúde] que explica que outros hospitais terão de se organizar para receber crianças”, conclui Maria João Brito ao Observador.
Esta informação surge no mesmo dia em que o Secretário de Estado da Saúde, António Sales, revelou que uma idosa de 93 anos recuperou de Covid-19, após ter estado internada durante 11 dias num hospital de Lisboa.
A idosa foi internada com um quadro de “pneumonia grave”, confirmando-se depois o diagnóstico de Covid-19.
Nesta altura, já está de volta a casa, onde vive com o marido, segundo referiu António Sales, salientando que este é um “sinal de esperança em dias de incerteza“.
Em Portugal, a taxa de mortalidade associada à Covid-19 ronda os 2%, mas no caso das pessoas com mais de 70 anos sobe para 8,1%.
A idade é considerada um factor de risco, sendo que a maioria das mortes ao redor do mundo tem ocorrido em pessoas mais velhas. Contudo, há outras variáveis que agravam a infecção como doenças pré-existentes, designadamente do foro cardiovascular e respiratório, hipertensão, diabetes e cancro.
Carga viral pode influenciar gravidade da infecção
A carga viral das pessoas infectadas já foi descartada como um factor que influi na gravidade da infecção, mas novos estudos reforçam o contrário, como repara a professora de imunobiologia da Escola de Medicina da Universidade de Yale, Ellen Foxman, em declarações à revista New Scientist.
Foxman cita estudos publicados pela revista científica The Lancet para concluir que “Há uma correlação entre uma carga viral maior e sintomas mais graves“.
“A replicação viral é necessária para que um vírus cause doença”, explica a professora, salientando que, “normalmente, apenas poucos vírus entram no corpo, mas depois começam a fazer cópias de si próprios”.
“Esse processo de tomar conta das células e de se replicarem é o que leva à doença”, nota, concluindo que “se os vírus não se conseguirem replicar muito, não causam assim tanta doença”.
Apesar de haver ainda muitas dúvidas em torno da Covid-19 e da forma como ela se desenvolve, transmite e manifesta, Foxman reporta-se aos estudos referidos para salientar que “faz sentido que a quantidade de vírus a que se é exposto [durante a transmissão] tenha impacto na probabilidade de infecção”.
“Se há um vírus numa maçaneta de porta, tem muito menor probabilidade de ficar doente se tocar na maçaneta do que se houver 1000 vírus na maçaneta”, explica a professora.