Humanos antigos. Canibais oportunistas ou predadores?

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Os nossos antepassados do Paleolítico comiam-se uns aos outros. Os Homo sapiens e os neandertais também, tal como Homo erectus e o seu antecessor. É altamente provável que quase todos os hominídeos tenham praticado o canibalismo de alguma forma. As questões são “porquê” e “até que ponto”?

Segundo um artigo do Big Think, atualmente o canibalismo é visto como algo “abominável”. Mas será que essa aversão existia entre os nossos antepassados? Os cientistas geralmente consideram o canibalismo paleolítico como uma exceção, não uma norma, “mas talvez isso seja apenas o desejo” de “imaginar os nossos ancestrais “como nobres caçadores e coletores” e não “como canibais brutais e oportunistas”.

James Cole, professor de Arqueologia na Universidade de Brighton, que recebeu um Prémio IgNobel pela investigação publicada em 2017 na Nature, referiu que “dada a natureza esparsa do registo fóssil de hominídeos, o facto de termos provas de canibalismo indica que o comportamento era talvez mais comum dentro das populações pré-históricas do que o número sugerido pelos sítios arqueológicos”.

Cole descreveu alguns sinais claros sobre ossos humanos fossilizados que apontam para o canibalismo: ausência de uma base craniana (para chegar ao cérebro) em esqueletos completos ou quase completos; ausência de vértebras (devido a esmagamento ou fervura para chegar à medula óssea e à gordura) e marcas de corte.

Além disso, outros sinais são as técnicas de abate comparáveis em restos humanos;
provas de cozedura sob a forma de osso queimado e marcas de dentes humanos.

Estes indicadores foram observados em sítios humanos antigos em todo o mundo. Nas Cavernas Goyet, na Bélgica, os investigadores encontraram provas de que, há cerca de 45.000 anos, os neandertais massacraram alguns dos seus mortos e utilizaram os seus ossos como ferramentas.

E na caverna de Gough, no Reino Unido, os antropólogos descobriram marcas de mordeduras em ossos de Homo sapiens com 15.000 anos. Também descobriram centenas de marcas de filetagem e incisões ritualísticas nos ossos e crânios desenterrados aparentemente modificados para utilização como copos.

Será que os humanos praticavam o canibalismo de forma oportunista, devido à morte de um membro do grupo? Terá sido por necessidade, em situações de fome? Ou será que os humanos de grupos rivais caçavam-se uns aos outros?

Cole calculou o número de calorias que teria um homem adulto. Descobriu que seria de 143.771, o suficiente para alimentar um grupo de 25 humanos adultos durante meio dia. Na sua opinião, “não valeria o esforço, especialmente em comparação com a caça a um cavalo, um boi selvagem ou um mamute, excluindo a ideia de que os humanos antigos caçavam-se uns aos outros regularmente”, lê-se no artigo.

“Um único grande indivíduo da fauna fornece muito mais calorias sem as dificuldades de caçar grupos de hominídeos, que eram tão inteligentes e engenhosos como os caçadores”, escreveu Cole.

Isso significa que, provavelmente, o canibalismo paleolítico era praticado de forma oportunista, por necessidade ou para fins ritualísticos, acrescentou.

ZAP //

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