A Associação que representa as funerárias fala em situação de “rutura generalizada” nos hospitais, “sem disponibilidade de equipamentos de frio para preservação dos cadáveres”. Por sua vez, os hospitais negam o caos, e no caso do Curry Cabral e Beatriz Ângelo, até foram instaladas mais câmaras frigoríficas.
A Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL) pretende que os funerais sejam mais rápidos, tendo inclusive defendido, junto da Direção-Geral da Saúde, a divulgação de uma norma sanitária, aplicável a todo o país, que explicite que não é permitida a passagem dos funerais pelos locais de culto ou centros funerários para a realização de exéquias, vigílias ou velórios.
A ANEL apela a que se faça um confinamento semelhante ao de março, devido ao aumento de propagação do vírus.
Carlos Almeida, presidente da ANEL, afirma que o elevado número de óbitos que se regista no país nas últimas semanas tem causado atrasos de vários dias nas cremações e inumações, levando a um acumular dos corpos nas morgues hospitalares e a “situações de rutura generalizada”, sem “disponibilidade de equipamentos de frio para preservação dos cadáveres”, disse ao Expresso.
Segundo o responsável, “há cadáveres que não estão a ser devidamente preservados devido à falta de câmaras frigoríficas em alguns hospitais. Já não estão sequer a passar pelo frio. Noutros hospitais, estão a ser colocados em espaços com ar condicionado, em vez de morgues”, diz.
Neste sentido, o jornal Expresso contactou vários hospitais, tanto da Região de Lisboa e Vale do Tejo como do Grande Porto, para tentar perceber a situação nas morgues. Nenhum deles descreveu uma situação de rutura ou sobrecarga, mas alguns admitiram ter reforçado a sua capacidade nos últimos dias.
É o caso, por exemplo, do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, que tem disponível, “desde a semana passada”, mais duas câmaras de frio no Hospital Curry Cabral, “com capacidade para 48 corpos”, a juntar aos “28 lugares que já existiam no Hospital de São José”, esclareceu fonte da unidade hospitalar ao semanário.
O Hospital Beatriz Ângelo (Loures) também aumentou recentemente o número de contentores frigoríficos, passando de 12 lugares disponíveis para 30. Segundo o hospital, “os funerais dos doentes falecidos com covid-19 são mais lentos”, sendo “esse outro motivo para termos reforçado a nossa capacidade”.
Também no Norte se nega problemas de lotação nas morgues. O Hospital de São João referiu que a morgue está a funcionar “de acordo com o programado no Plano Estratégico do Centro Hospitalar Universitário de São João, não existindo necessidade de qualquer aquisição de serviços externos/alugueres de arcas frigoríficas”.
Já o Centro Hospitalar Universitário do Porto, que integra o Hospital de Santo António, respondeu de forma semelhante: “Não temos nem nunca tivemos um problema de lotação”.
O Expresso questionou o Ministério da Saúde sobre a sobrelotação das morgues hospitalares, e o reforço da capacidade de refrigeração nos vários hospitais portugueses, mas não obteve uma resposta.
Hospital de Castelo Branco aciona nível de catástrofe
O Hospital Amato Lusitano (HAL) de Castelo Branco acionou esta quarta-feira o nível de catástrofe na medicina intensiva, depois de, num espaço de duas horas, ter ficado apenas com uma vaga nos cuidados intensivos.
“Ontem [terça-feira] ao abrirmos estas 12 camas, em menos de duas horas, elas ficaram apenas com uma cama vaga, o que levou, durante a noite, a perceber que iríamos abrir mais oito camas”, afirmou Eugénia André, diretora clínica da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (ULSCB).
A médica falava durante uma conferência de imprensa, realizada no HAL, para fazer um balanço da covid-19 na área de abrangência da ULSCB.
Eugénia André explicou que a medicina intensiva tem um plano de catástrofe que inclui 20 camas e adiantou que o máximo de camas que poderá vir a ter são 22.
A responsável adianta que o HAL, ao entrar na fase quatro do seu plano de contingência, entrou em “pré-catástrofe”.
A ULSCB tem atualmente 19 funcionários “positivos” com o novo coronavírus, sendo que, até ao momento, teve um total de 115 infetados, dos quais 59 enfermeiros e 13 médicos.
Amadora-Sintra está a construir novo tanque de oxigénio
O Hospital Amadora-Sintra começou a construir um novo tanque de oxigénio para aumentar a autonomia daquela unidade de saúde, antecipando assim eventuais necessidades de aumento do consumo devido ao fluxo de doentes graves de covid-19.
O anúncio da obra, que estará concluída nas próximas três semanas, foi feito na tarde de quarta-feira, diz o Expresso.
O hospital, que conta nesta altura com um tanque com 30 metros cúbicos para oxigénio, refere no comunicado que a pandemia ergueu diferentes desafios aos serviços de saúde, sendo um deles a necessidade muito maior do recurso a oxigénio. “Esta patologia obriga a que os doentes sejam tratados com oxigénio em alto débito, levando assim a estrutura hospitalar a adaptar-se a essa realidade.”
A nota daquele hospital dá conta ainda da capacidade dos tanques em questão: “Toda a rede de oxigénio é abastecida por um tanque com 30 metros cúbicos com capacidade para seis dias de consumo. Além deste tanque principal, existe ainda um quadro de emergência com capacidade para cinco horas de autonomia, bem como um stock de cilindros de oxigénio de 5, 30 e 50 litros, o qual é reposto diariamente”.
Privados já disponibilizaram mais de 100 camas
Os hospitais privados já disponibilizaram ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) 889 camas para doentes não-covid e têm 160 camas ocupadas por doentes covid, adiantou a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) ao ECO. Isto numa altura em que o aumento das hospitalizações nesta terceira vaga da pandemia está a colocar uma enorme pressão sobre o SNS.
Quanto à distribuição das camas que não se destinam a doentes com covid-19 disponibilizadas pelo país, a maioria (506) localiza-se na região Norte, revela a mesma fonte. Já em Lisboa e Vale do Tejo são 257, enquanto no Centro se contam 81 camas e no Algarve 45.
Em Lisboa, por sua vez, existem 100 camas e no Porto 60. Entre as 160 camas, 120 são do SNS e 40 de seguradoras, refere o ECO.
O aumento de casos após o período do Natal e do Ano Novo, que motivou o Governo a avançar para um confinamento geral, levou a um maior número de hospitalizações. De acordo com os dados mais recentes da Direção Geral de Saúde (DGS), existem, no total, 5.493 doentes com covid-19 internados no país, 681 dos quais em unidades de cuidados intensivos.
Ana Moura, ZAP // Lusa