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Hong Kong. Depois de greve afetar o sistema de transportes, polícia responde com gás lacrimogéneo

Ritchie B. Tongo / EPA

A polícia disparou esta segunda-feira gás lacrimogéneo contra manifestantes em várias partes de Hong Kong, depois de uma greve geral ter afetado o sistema de transportes e a líder do governo, Carrie Lam, ter declarado que a “soberania” e a prosperidade da cidade estavam em risco.

As manifestações superaram ações anteriores tanto em escala como em intensidade, aparentemente em reação à recusa de Carrie Lam considerar qualquer das reivindicações dos protestos, informou o Público.

Os habitantes começaram a sair às ruas a 09 de junho contra uma proposta de lei que permitiria extradição e julgamento na China continental, onde o sistema judicial oferece menos garantias de independência (no índice do World Justice Project, Hong Kong aparece em 16.º lugar e a China em 80.º quanto ao respeito das regras do Estado de direito).

Mesmo depois de Carrie Lam dizer que a proposta não ia ser debatida na câmara legislativa, os manifestantes mantiveram-se nas ruas, exigindo a sua revogação e não suspensão. Passaram a pedir a sua demissão, a libertação imediata dos detidos nas manifestações e que a escolha do próximo chefe de governo fosse feita por sufrágio universal e direto.

Estes protestos repetidos são agora a maior ameaça ao governo de Hong Kong desde 1997, quando a soberania foi transferida do Reino Unido para a China – a região tem desde então um estatuto especial, sob o mote “um país, dois sistemas”, com as suas próprias leis e liberdades, que os chineses da parte continental não têm.

A greve desta segunda-feira conseguiu provocar grandes perturbações no trânsito automóvel, circulação de comboios, e levou ao cancelamento de centenas de voos. Dezenas de milhares de manifestantes estiveram presentes na maior parte das três regiões da cidade. Houve estradas ocupadas e cortadas, assim como três túneis.

Num local do distrito de Yuen Long, um carro foi contra uma barricada feita pelos manifestantes. À noite, um grupo de homens armados com paus tentaram atacar os manifestantes em North Point. Um ataque anterior do que se pensa terem sido membros de tríades (máfias chinesas) a manifestantes no metro e transeuntes levou a críticas de impassibilidade da polícia.

Carrie Lam, que já tinha classificado os manifestantes como “amotinados”, disse: “As ações ilegais dos manifestantes desafiam a soberania do nosso país, põem em risco a fórmula ‘um país, dois sistemas’, e vão destruir a paz e estabilidade de Hong Kong”. Muitos viram a referência à soberania com um sinal de intervenção do regime de Xi Jinping.

“Não acredito que o governo esteja a fazer alguma coisa para apaziguar a sociedade”, disse à Reuters Jay Leung, 20 anos, que participava nos protestos. “Não estão a dar qualquer solução”, concluiu. “Não ouvi nada de positivo”, referiu, pelo seu lado, Russell, de 38 anos, que não quis dizer o apelido. “Só piorou tudo”.

TP, ZAP //

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