A história do homem que denunciou o programa nuclear de Israel e foi raptado pela Mossad

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Ali kazak 9 / Wikipedia

Mordechai Vanunu em 2005

Em 1986, um ex-funcionário de um reator nuclear em Israel denunciou o programa secreto de bombas atómicas do Estado judaico. Mordechai Vanunu acabou por ser raptado pela Mossad e ficou preso quase 20 anos.

“Desferimos um golpe no cerne do programa de armas do Irão”, disse o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, após os ataques lançados por Israel.

O Irão insiste que seu programa nuclear é pacífico, mas Israel acusa-o há muito tempo de procurar secretamente produzir armas nucleares.

Enquanto isso, Israel não confirma nem nega possuir um arsenal nuclear, embora haja ampla crença mundial de que sim.

Isso deve-se a um homem e às revelações que ele fez, expondo as operações clandestinas que Israel realizou para se tornar uma potência nuclear.

Essas informações custaram-lhe a liberdade por duas décadas.

“Os segredos do arsenal”

Vanunu era um ex-funcionário do reator nuclear de Dimona, onde trabalhou por nove anos, até 1985.

Mas, antes de deixar o cargo, tirou clandestinamente dois rolos de fotografias da instalação.

As fotos mostravam o equipamento para extração de material radioativo para a produção de armas e o laboratório de modelos de dispositivos termonucleares.

Em 1986, juntou-se a um grupo antinuclear em Sydney, Austrália, e foi lá que contactou o jornalista freelancer colombiano Óscar Guerrero. Guerrero convenceu-o a publicar as fotos.

Em seguida, contactou o jornalista Peter Hounam, do jornal britânico The Sunday Times.

Em outubro de 1986, o Sunday Times publicou um artigo, amplamente aclamado como um dos melhores do jornalismo britânico, intitulado “Revelados: Os Segredos do Arsenal Nuclear de Israel”.

A fonte era o técnico nuclear israelita Mordechai Vanunu, e a sua revelação confirmou as suspeitas sobre as capacidades nucleares de seu país, revelando um programa de armas maior e mais avançado do que qualquer um tinha imaginado anteriormente.

Vanunu trabalhava no centro ultrassecreto de pesquisa nuclear de Dimona, no deserto de Negev, a cerca de 150 quilómetros ao sul de Jerusalém por estrada.

O jornal concluiu que Israel se tinha tornado a sexta maior potência nuclear do mundo e possuía até 200 armas atómicas.

“Estávamos tensos, exaustos, a maioria das pessoas lá nunca tinha trabalhado numa reportagem tão importante quanto esta”, disse o jornalista investigativo do jornal, Peter Hounam, à BBC.

Mas no dia em que o The Sunday Times publicou a reportagem — 5 de outubro — a sua principal fonte desapareceu.

Traidor ou denunciante?

Hounam conheceu Vanunu em Sydney, Austrália, em agosto de 1986, e ficou impressionado com a aparência e o comportamento do denunciante.

“Quando vi Vanunu sentado ali — um homem pequeno, a bufar, sem autoconfiança e vestido de forma muito casual —, ele certamente não me pareceu um cientista nuclear”, lembrou Hounam.

“Mas fiquei convencido com a sua decisão de contar ao mundo o que viu em Dimona”, acrescentou.

No final de 1985, Vanunu decidiu largar o emprego e embarcar numa viagem pela Ásia, desiludido com o tratamento de Israel aos palestinianos e com o desenvolvimento de armas nucleares.

Antes de partir, tirou fotos da central nuclear, incluindo equipamentos para extração de material radioativo para a produção de armas e modelos de laboratório de dispositivos termonucleares.

Foi uma decisão que o levou primeiro a Londres e ao Sunday Times, e depois a Roma, onde foi sequestrado pelo serviço de inteligência israelita Mossad, que o trouxe de volta a Israel, onde cumpriu uma longa pena de prisão.

“Ele começou a delinear a história de como tinha contrabandeado uma câmera sem filme para dentro da sede, depois escondeu o filme nas meias e começou a tirar algumas fotos secretamente”, disse Hounam.

Os editores do Sunday Times pediram a Hounam que trouxesse Vanunu de volta a Londres para corroborar ainda mais o seu depoimento.

Apesar dos seus temores, Vanunu concordou em voar para o Reino Unido. O Sunday Times hospedou-o num discreto hotel-quinta nos arredores de Londres.

Mas ele ficou inquieto e foi transferido para um hotel londrino, onde as coisas tomaram um rumo inesperado. “Naquele fim de semana, ele conheceu uma mulher enquanto caminhava pela rua. Ele viu-a algumas vezes e foi ao cinema com ela. E eu perguntei-lhe: ‘Você tem certeza de que essa mulher é real?'”, lembrou Hounam.

Durante a sua estadia em Londres, Hounam ficou cada vez mais preocupado com a segurança de Vanunu e começou a visitá-lo periodicamente. Ele lembrou-se da última conversa deles.

“Ele disse: ‘Vou para o norte da Inglaterra por alguns dias. Vou ficar bem’. E eu disse: ‘Olha, aconteça o que acontecer, ligue-me duas vezes por dia só para ter certeza de que está seguro.'”

Um mês depois, o governo israelita revelou que Vanunu tinha sido preso. Tinha sido vítima de uma armadilha clássica de sedução em Roma e tinha sido contrabandeado, inconsciente, de volta para Israel de barco.

Crónica de um sequestro

Ao ser transportado de uma prisão em Israel, Vanunu escreveu alguns detalhes do seu sequestro na palma da mão, que ergueu em direção à janela da carrinha para que os jornalistas pudessem obter as informações.

Disse que, em Londres, uma agente americana do Mossad, Cheryl Bentov, que se passava por turista, fez amizade com ele.

Ela atraiu-o para Roma a 30 de setembro para passarem alguns dias juntos. Uma vez lá, ele foi sequestrado e drogado.

Vanunu foi julgado em março de 1987 por traição e espionagem e posteriormente condenado a 18 anos de prisão. Passou mais da metade desses anos em confinamento solitário.

“Eu queria contar ao mundo o que estava a acontecer… isso não é traição, é informar o mundo, em contraste com as políticas de Israel”, declarou Vanunu numa entrevista gravada na prisão.

A 21 de abril de 2004, após 20 anos preso, Vanunu foi libertado. À saída do estabelecimento prisional, tinha à sua espera um cordão policial, montado para o proteger das centenas de israelitas ultra-ortodoxos indignados com a sua libertação.

Desde então, teve a sua permissão para deixar Israel negada. Foi preso várias vezes por violar as condições da sua liberdade condicional.

Antes de ser preso em 2009, Vanunu gritou: “Vocês não receberam nada de mim em 18 anos; não receberão nada de mim em três meses! Que vergonha, Israel!

Acordo secreto

Até as revelações de Vanunu, pouco se sabia sobre a capacidade nuclear de Israel, mesmo entre os seus aliados mais próximos.

Acredita-se que Israel tenha iniciado o seu programa nuclear logo após a fundação do Estado em 1948.

Em grande desvantagem numérica em relação aos seus inimigos, o primeiro-ministro israelita David Ben-Gurion reconheceu o valor da dissuasão nuclear, mas não queria incomodar os aliados de Israel introduzindo armas não convencionais numa região instável.

Israel, portanto, chegou a um acordo secreto com a França para construir a central de Dimona, que se acredita ter entrado em produção para fabricar ingredientes para armas nucleares na década de 1960. Durante anos, Israel afirmou que se tratava de uma fábrica têxtil.

Inspetores americanos visitaram o local diversas vezes na década de 1960, mas, segundo relatos, desconheciam a existência dos andares subterrâneos, já que os poços dos elevadores e as entradas tinham sido selados com tijolos e gesso.

Estima-se que Israel possua atualmente cerca de 90 centrais nucleares, de acordo com o Centro de Controle de Armas e Não Proliferação.

No entanto, mantém uma política oficial de ambiguidade em relação à sua capacidade nuclear, e os líderes israelitas têm repetido frequentemente ao longo dos anos que “Israel não será o primeiro país a introduzir armas nucleares no Médio Oriente”.

Desde 1970, 191 Estados aderiram ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), um acordo que visa impedir a proliferação de armas nucleares e promover o desarmamento.

Cinco países (EUA, Rússia, Reino Unido, França e China) têm permissão para possuir armas porque construíram e testaram um dispositivo explosivo nuclear antes da entrada em vigor do tratado, em 1º de janeiro de 1967.

Israel não é signatário do tratado.

Vanunu é considerado um traidor em Israel, mas os seus apoiantes celebraram a sua libertação em 2004, chamando-o de “herói da paz”.

Na sua primeira entrevista após sua libertação, disse à BBC que não se arrependia.

O que eu fiz foi informar o mundo sobre o que está a acontecer em segredo. Eu não vim dizer: ‘Devemos destruir Israel, devemos destruir Dimona’. Eu disse: ‘Vejam o que vocês têm e julguem por si mesmos’.”

ZAP // BBC

5 Comments

  1. Outro que foi tramado por uma mulher. É o que dá pensar mais com a cabeça pequena, de baixo, do que com a do topo…

  2. Ainda bem que não foi de ter denunciado o programa nuclear do Irão e ser apanhado pelo CGRD Corpo de Guardas da Revolução Islâmica. Hoje não estavas cá a contar a história.

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  3. Isto é propaganda comunista. É óbvio que Israel não tem armas nucleares. O povo israelita é ameaçado desde o inicio pelos fanáticos palestinianos e por isso tem todo o direito a se defender. O que se passa na faixa de gaza é propaganda para impedir Israel de se defender. São noticias fabricadas pelos Palestinianos para terem apoio da esquerda.

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