Cientistas demonstraram que é possível induzir ratos num estado de hibernação, aplicando ultrassons não-invasivos no seu cérebro. Tecnologia pode desempenhar um papel crucial no futuro da cirurgia e astronomia.
Animais como ratos e pássaros têm a habilidade de entrar num estado de sono profundo chamado torpor, que os ajuda a conservar energia — um mecanismo de sobrevivência para quando as fontes alimentares são escassas.
O conjunto de neurónios que permite que os ratos entrem em torpor foi identificado já em 2020 no seu hipotálamo, de acordo com a New Atlas.
Verificou-se que, através de sinais luminosos ou químicos que estimulam estes neurónios, os roedores conseguem ativar este estado de hibernação quando quiserem.
O mesmo efeito foi confirmado em ratazanas, que não entram naturalmente em torpor, o que sugere que o efeito pode ser provocado noutros mamíferos — tal como humanos.
No entanto, até hoje, era necessária a implantação de fibras óticas para ‘obrigar’ os animais a responder aos estímulos.
Mas agora, cientistas da Universidade de Washington desenvolveram, de acordo com um estudo publicado na Nature, uma tecnologia não-invasiva capaz de provocar a hibernação — um torpor artificial induzido por ultrassons.
Hibernação provocada por estímulos cerebrais
Ao emitir ondas sonoras para a área pre-ótica, localizada numa zona profunda do cérebro, a tecnologia induz ultrassons no cérebro que podem reduzir a temperatura corporal, os batimentos cardíacos e o consumo de oxigénio em ratos, deixando-os numa espécie de estado de hibernação.
A equipa criou um pequeno emissor de ultrassons que colocou nas cabeças dos ratos. Capaz de emitir impulsos de 10 segundos diretamente no hipotálamo, o aparelho despoletou sintomas de torpor de imediato: a temperatura corporal dos ratos desceu cerca de 3ºC, tal como o batimento cardíaco e o consumo de oxigénio. Os animais acabaram por acordar naturalmente após algumas horas.
Emitindo os mesmos impulsos quando a temperatura corporal começava a voltar ao normal, os cientistas conseguiram manter os ratos hibernados durante 24 horas, sem danos cerebrais ou qualquer desconforto registados.
O mesmo procedimento resultou nas ratazanas, apesar destas registarem uma menor redução de temperatura corporal.
O procedimento mostra que os mamíferos que não hibernam naturalmente ainda têm uma resposta metabólica. Resta saber se nós, humanos, respondemos a estes estímulos que, sem quaisquer efeitos negativos, nos permitem hibernar.
Segundo os cientistas, a nova tecnologia pode desempenhar um papel crucial na provocação da hibernação artificial ou torpor artificial. A hibernação poderia ser aplicada, por exemplo, a astronautas em longas viagens espaciais.
Além disso, a equipa acredita que induzir os humanos em torpor poderia salvar vidas em situações médicas emergentes, e mais especificamente ser útil na prevenção de danos de tecidos nas cirurgias ao coração.