Aos 29 anos, o wrestler português “Goldenboy” João Santos, conquistou atenções num recente tryout da WWE no Reino Unido, que saíram reforçadas com a vitória de um título europeu no fim-de-semana. O lisboeta poderá ser o primeiro luso no NXT.
João Santos, conhecido nos ringues como “Goldenboy”, está a emergir como uma das figuras mais promissoras do wrestling europeu.
Natural de Lisboa, a sua jornada desportiva começou no basquetebol, mas acabou por se transformar numa carreira centrada no espetáculo e na força do wrestling profissional.
“Faço desporto desde que me conheço. Sempre joguei basquetebol”, recorda João em entrevista ao JPN.
A transição surgiu enquanto estudava Gestão, na Universidade Autónoma de Lisboa. Após ter deixado o basquetebol, encontrou no wrestling uma nova motivação. “Gostei do desafio. Era algo completamente diferente. Satisfazia os desejos da minha criança interior que via aquilo na TV aos oito anos.”
O interesse pelo wrestling nasceu, como para muitos da sua geração, durante o boom televisivo de 2005 a 2009, com as transmissões de wrestling pela SIC Radical.
Um seminário com Pete Dunne, ex-participante do UK Tournament e atualmente lutador na WWE [World Wrestling Entertainment, a maior empresa de wrestling profissional do mundo, responsável por grandes eventos como a WrestleMania] foi o momento que o fez escolher o wrestling como carreira: “O discurso dele fez-me perceber que era isto que queria fazer para o resto da minha vida”, conta.
No radar da WWE
A ascensão de João Santos passou por algumas das maiores promotoras independentes da Europa. Fez parte da WXW, com base na Alemanha, onde foi treinado; da Revolution Pro Wrestling, no Reino Unido, e da Over The Top Wrestling (OTT), na Irlanda.
“Essas empresas são um selo de qualidade onde a WWE procura talento”, explica. A sua estatura, presença no ringue e domínio técnico, os “básicos” como lhes chama, valorizados pela WWE, valeram-lhe um lugar num restrito tryout da empresa no Reino Unido.
Triple H, atual CCO da WWE, protagonizou uma palestra para os candidatos do tryout, entre os quais estava o lutador português de 29 anos.
Believe in yourself. Make the most of every opportunity.
Spent some time with the athletes from this year’s UK tryouts in London. pic.twitter.com/zEk2MxaK23
— Triple H (@TripleH) March 31, 2025
João foi o único português selecionado entre um grupo de apenas 13 lutadores independentes. “Vejo a pressão como um privilégio. Se fui escolhido, foi por alguma razão”, afirma.
Destaca também a influência de Killer Kelly, primeira portuguesa a chegar ao NXT UK: “Ela mostrou-me que era possível, mesmo sem termos ninguém antes de nós.”
Segundo o lutador português, o ambiente no tryout foi positivo, marcado pela entreajuda entre os participantes, que descreve como os “top 1% europeus”. Sobre os resultados, mantém a discrição: “Fica no segredo dos deuses. Vamos ver o resultado.”
A personagem “Goldenboy”
Dentro do ringue, João transforma-se em golden boy, personagem que junta elementos pessoais e profissionais. O nome deriva da sua conquista como o mais jovem campeão nacional da Associação Portuguesa de Wrestling e de uma homenagem à avó, que o chamava de “menino de ouro”. “São essas duas vertentes que se encaixam bem na personagem que quero transmitir”, refere.
O seu estilo de combate é fortemente influenciado por duas pessoas: “O meu estilo tem semelhanças com o Batista, o meu ídolo de infância. Sempre fui atraído pelos power moves e pela força bruta. Mas a principal influência foi mesmo o meu head coach, que me treinou na Academia WXW, o Gunther, ex-campeão mundial de pesos pesados da WWE. Foi ele quem moldou o meu estilo de ringue e é a minha principal inspiração”, refere nesta entrevista à distância dada ao JPN a partir de Lisboa.
Com uma base de jiu-jitsu e uma agilidade surpreendente para a sua estatura, define-se como um “atleta híbrido”, capaz de se adaptar a diferentes adversários.
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Entre os momentos altos da carreira, destaca a conquista do título GN da OTT, no Estádio Nacional de Dublin, perante 2.200 espectadores, com os pais presentes. “Eles não sabiam se eu ia ganhar ou perder, nem eu. Acabei por vencer, o que tornou aquele dia ainda mais especial.”
Outro marco foi o combate contra Moose, ex-Campeão Mundial da TNA [empresa norte-americana de wrestling profissional]. “Depois no backstage, ele apertou-me a mão, olhou-me nos olhos e disse: ‘Tu vais ser uma grande estrela um dia.’ São momentos como esse que guardo comigo, especialmente quando estou menos motivado… dá-me força para continuar a cumprir aquilo que tenho a cumprir…”
Já neste 3 de maio, depois de realizada esta entrevista, João Santos alcançou mais um feito histórico: “enterrou” Charlie Sterling, num combate que durou menos de um minuto, e conquistou o título europeu da OTT.
Foi um dos combates mais importantes da sua carreira até agora; e foi o primeiro português a conquistar o prémio.
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O wrestling em Portugal em 2025
João vê o wrestling português como um setor em crescimento. “Com a entrada na Netflix e a influência de figuras como Logan Paul e o Speed, o interesse pelo wrestling, especialmente em Portugal, aumentou”, observa.
Se antes os espetáculos em território nacional reuniam cerca de cem pessoas, agora passam das duzentas. “Isso mostra como tudo mudou em seis ou sete anos. Os fãs portugueses tornaram-se mais vocais e estão a unir-se finalmente”, diz.
A qualidade dos lutadores também tem evoluído, impulsionada pela formação no estrangeiro. Ainda assim, João acredita que falta alguma ambição. “A satisfação é o maior inimigo de um artista. Devemos sempre almejar por mais”, sentencia. Destaca a importância de mais eventos, maior exposição internacional e da superação do estigma em relação ao wrestling nacional.
“Quando cheguei à Alemanha, percebi que o nível que temos não é suficiente. Foi um choque de realidade”, confessa.
No entanto, acredita que com mais atletas portugueses a competirem lá fora – como Rafa Pedras, Paulo Cruz, Ricky Boy, RAFA, Damião ou Andy Hendrix – a imagem do país está a mudar.
Sonhos, obstáculos e futuro
Apesar do reconhecimento internacional, João ainda mantém um emprego paralelo. “É muito difícil viver apenas do Wrestling independente”, admite.
O seu maior objetivo é garantir um contrato que lhe permita dedicar-se exclusivamente à modalidade. Além disso, sonha com combates no Japão e no México, oportunidades que por enquanto ficaram adiadas por questões logísticas.
A chegada à WWE é uma ambição clara e o que tem para oferecer é para si evidente: “Levaria o espírito de underdog, que é algo muito intrínseco ao povo português, e o espírito de conquistador, de querer ir além do conhecido, sem medo de arriscar algo que nunca ninguém fez, que faz parte do nosso ADN. Levava o espírito e a alma de ser português, algo que não consigo explicar… sente-se.”
Sem pressa, prefere focar-se no presente: “Vou ao sabor do vento, dando o meu melhor no que controlo. Quando acontecer, estarei preparado.”
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Aos fãs e aspirantes a wrestlers, deixa um conselho direto: “Entrem a 100%. Há muita gente que gosta da ideia de fazer poses como o Batista no ringue, mas que não gosta tanto da ideia de ir ao ginásio fazer trabalho de pescoço, de ombro, ou fortalecer as costas para aguentar melhor o impacto”, reflete.
Com a garra que caracteriza o “Goldenboy” João Santos continua a perseguir o seu lugar entre os grandes, com o sonho de um dia representar Portugal numa WrestleMania.
// JPN
Boa sorte! Muito sucesso e que consiga entrar na WWE!