Os cães com donos que brincam com eles e os levam a passear regularmente tendem a ser mais simpáticos e serem menos agressivos.
Não raras as vezes, os donos têm afirmações exageradas sobre os seus amigos de quatro patas, reclamando do seu comportamento, dos seus estragos, do seu apetite ou da sujidade que causam. No entanto, há muito que os especialistas em comportamento animal e veterinários duvidam destas queixas.
Num novo estudo que contou com participação de 665 cães domésticos, realizado no Brasil, são avançados outros factores que não a raça para os animais terem influências mais fortes sobre este comportamento “problemático“.
“Os resultados destacam algo que temos vindo a estudar há já algum tempo: o comportamento emerge da interação entre o animal e o seu contexto“, explica Briseida de Resende, etóloga da Universidade de São Paulo .”O ambiente e a relação entre o dono e o animal, bem como a morfologia, são todos factores que influenciam“.
Investigações anteriores definiram a agressão canina “como a tendência de um cão a agir de forma ameaçadora, com a cauda levantadas, dentes expostos, postura corporal elevada, rosnandos e a agir agressivamente, atacando ou mordendo“.
Através de uma série de questionários apresentados aos donos, o etólogo Flavio Ayrosa e colegas, também da da Universidade de São Paulo, encontraram várias associações fortes.
A boa notícia é que os cães com donos que brincam com eles e os levam a passear regularmente tendem a ser mais simpáticos e serem menos agressivos para com os donos e os estranhos. Os níveis de treino também foram um forte indicador.
No entanto, e curiosamente, a ausência de agressão a estranhos era 73% mais provável quando o dono do cão era mulher. O sexo do cão também parece ter um papel de destaque, com uma probabilidade 40% menor de agressão por parte das cadelas em vez dos cães.
Alguns traços físicos também mostraram ter influência, o que pode explicar porque muitos apontam o dedo a raças específicas. Os cães com focinhos pouco saudáveis e curtos, conhecidos como raças braquicefálicas, tinham 79% mais probabilidades de apresentar um comportamento agressivo contra os seus donos.
Além disso, à medida que a altura e o peso diminuíram, os comportamentos indesejáveis, incluindo o medo não social, comportamentos de procura de atenção e hiperatividade, também aumentaram, como já se tinha constatado em estudos anteriores. Ainda assim, uma combinação de todos os factores foi o melhor preditor de comportamentos, e não apenas uma característica corporal ou ambiental por si só.
“Encontrámos relações, mas é impossível dizer qual vem primeiro. No caso do fator ‘passear o cão’, por exemplo, pode ser que as pessoas tenham passeado menos o cão porque o animal era agressivo, ou o cão pode ter-se tornado agressivo porque o dono não o tirou de casa vezes suficientes“, diz Ayrosa.
“Características como o peso, altura, morfologia craniana, sexo e idade influenciam a interação entre os cães e o seu ambiente. Eles podem passar mais tempo dentro de casa por causa deles, por exemplo”.
Independentemente disso, é importante lembrar que a agressão é uma forma natural de comunicação para todos os animais, e como todos os comportamentos, é complexa.
Embora ninguém queira que os seus animais recorram à agressão como uma primeira resposta quando se sentem preocupados, stressados, ou ameaçados, por vezes há uma razão válida para casos de agressão que podem ser resolvidos, tais como a dor.
“Em vez de determinar a agressão a um único fator comum à espécie ou raças específicas, os nossos resultados reforçam a forma como o comportamento individual, combinado com a genética, fisiologia, experiências de vida, e contextos ambientais únicos dos cães, interagem ao longo do desenvolvimento para produzir os padrões de expressão observados”, conclui a equipa no seu artigo.