Há 100 milhões de anos, as serpentes adquiriram as suas características mais icónicas

As cobras parecem ser criaturas relativamente simples, no entanto, estas criaturas conseguiram adaptar-se a quase todos os continentes do planeta nos últimos 100 milhões de anos.

Mas como se deu esta evolução? Segundo a Discover Magazine, é provável que tenha sido uma combinação de três fatores que surgiram praticamente ao mesmo tempo.

“Tudo aconteceu numa única explosão evolutiva há cerca de 100 a 110 milhões de anos e, depois disso, as serpentes têm praticamente rédea solta no Planeta sempre que vão para um novo habitat“, afirma Alex Pyron, biólogo da Universidade George Washington, em Washington, D.C.

De certa forma, as cobras são um subconjunto dos lagartos. Os lagartos começaram a evoluir há cerca de 220 milhões de anos, durante o Triássico. As cobras são um dos mais de 30 grupos de lagartos que evoluíram separadamente ao longos dos tempos.

Muitas dessas linhagens ainda sobrevivem, incluindo o lagarto de vidro europeu, o lagarto gigante sem pernas e o lagarto sem pernas às riscas.

Tanto quanto os investigadores sabem, as cobras evoluíram dos lagartos há cerca de 100 milhões a 120 milhões de anos. Os antepassados mais antigos das cobras já descobertas ainda tinham quatro patas — um estudo de 2015 descreveu quatro dessas espécies.

A mais antiga dessas quatro espécies era o Eophis underwoodi, descoberta em Inglaterra e datada do Jurássico Médio, há cerca de 167 milhões de anos. Outras serpentes primitivas conservaram apenas um par de patas traseiras.

Em termos de outras famílias de lagartos, as cobras estão mais estritamente relacionadas com os lagartos-monitores e os lagartos-jacaré encontrados no oeste do México, no Canadá e nos Estados Unidos.

Todos estes três grupos de lagartos transportam algum veneno, embora os grupos de cobras que divergiram mais cedo dos outros, como as jibóias ou as cobras-cegas, tenham muito menos veneno.

Só nos grupos mais recentes de serpentes, como as víboras, é que se observa uma maior eficiência química no desenvolvimento do veneno.

“Nas serpentes, [o veneno] atinge a sua forma mais pura e eficaz”, diz Pyron.

Onde é que as cobras apareceram pela primeira vez?

A pesquisa de Pyron e dos seus colegas sugere que o ancestral mais antigo de todas as cobras vivas provavelmente evoluiu em Gondwana — um grande supercontinente que incluía a maioria dos continentes atuais da Terra. Especificamente, as primeiras serpentes terão vindo da parte de Gondwana que acabou por se separar e se tornar África e América do Sul.

Uma das razões pelas quais as serpentes tiveram tanto sucesso pode dever-se ao facto de terem adotado três das suas características específicas, mais ou menos, ao mesmo tempo.

Uma nova investigação, publicada por Pyron e os seus colegas, na revista Science, concluiu que a mandíbula articulada, a perda de membros e os corpos alongados aconteceram todos num curto espaço de tempo, entre há 100 milhões de anos e há 110 milhões de anos.

Não se sabe ao certo se as primeiras serpentes eram aquáticas, viviam em árvores, no solo ou debaixo da terra, porque todos estes tipos diferentes de serpentes começaram a aparecer de imediato.

Isto também torna difícil dizer porque é que as cobras perderam as pernas e cresceram tanto, comparativamente com outros lagartos. Nenhum outro grupo de lagartos sem pernas tem espécies adaptadas para explorar todos esses tipos de ecossistemas — a maioria dos grupos de lagartos sem pernas apenas se especializa num deles.

Pyron especula que isso se pode dever à natação na relva. Muitos lagartos de erva são bastante compridos, com patas pequenas, uma vez que estas adaptações facilitam a deslocação rápida através da vegetação densa.

Por outro lado, os antepassados das cobras podem ter perdido as pernas devido ao facto de viverem maioritariamente no subsolo, onde não seriam muito úteis. O facto de a primeira grande divergência em relação às cobras ancestrais ser o grupo das cobras cegas — um tipo de serpente pequeno e escavador — dá algum peso a esta teoria.

Entre as serpentes, tanto as adaptações à natação subterrânea como à natação na relva ocorreram repetidamente, pelo que é difícil dizer qual foi a versão ancestral, ou se não foi nenhuma das duas — as cobras podem ter adaptado corpos mais compridos para nadar, à semelhança das enguias.

Em todo o caso, ainda há muitas perguntas sem resposta no que diz respeito aos antepassados das serpentes, diz Pyron. Parte do problema é a natureza dos esqueletos do grupo — os seus únicos ossos são crânios e vértebras longas, tornando difícil dizer a que espécie pertencem muitos fósseis, exceto nos raros casos em que os tecidos mais moles são preservados.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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