A guerra piorou para a Ucrânia: do ataque para a defesa e apoios a cair

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George Ivanchenko / EPA

O Inverno seria “amigo” das forças ucranianas mas as notícias que chegam de fora – e de dentro – não ajudam Zelenskyy.

Numa altura em que o Inverno se aproxima, o que poderia ser sinónimo de vantagem para o exército ucraniano, as notícias que chegam noutros contextos não ajudam a Ucrânia na guerra com a Rússia.

Quase dois anos depois do início do conflito, os grandes apoios assegurados logo nos primeiros dias, por parte de diversas potências mundiais, estão ou vão começar a cair.

O caso mais importante surge nos Estados Unidos da América, que é o país que ajudou mais a Ucrânia até agora.

Nesta quinta-feira os senadores republicanos rejeitaram um pacote de 100 mil milhões de euros que seguiria para a Ucrânia, para Israel e para ajudar o povo de Gaza.

Na Câmara dos Representantes (câmara baixa), dominada pelos republicanos, um conjunto de conservadores da ala mais radical apelam ao fim imediato da ajuda a Kiev. O líder republicano, Mike Johnson, exige apoio dos democratas a um endurecimento da política migratória – uma resposta às chegadas de migrantes à fronteira com o México.

Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente da Ucrânia, avisou nesta semana: “O adiamento da ajuda dos EUA a Kiev aumenta o risco de a Ucrânia perder a guerra”.

Na Europa…

…o cenário não é muito melhor, já que Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, está a dificultar as intenções da União Europeia (UE).

A UE, devido a suspeitas de corrupção na distribuição dos fundos europeus, reteve 27 mil milhões de euros que iriam para a Hungria.

Mas esse dinheiro pode ser mesmo entregue para tentar “suavizar” o primeiro-ministro da Hungria – que já ameaçou vetar o apoio financeiro de 50 mil milhões de euros à Ucrânia ao longo dos próximos quatro anos, além de vetar a adesão da Ucrânia à UE.

Na próxima semana há encontro. A reunião está prevista para quinta e sexta-feira mas deve prolongar-se alguns dias por causa deste impasse.

No terreno…

…o contra-ataque, que começou há meses, não correu como os ucranianos queriam.

Registaram-se algumas vitórias, mas pequenas, sobretudo na zona do Dnipro. Também foram noticiadas sabotagens em locais que a Rússia anexou.

No entanto, falhou um dos maiores objectivos, ou mesmo o maior objectivo: deixar os russos sem ligação terrestre entre a Crimeia e as outras zonas ocupadas.

Já nas últimas horas a Rússia aumentou a pressão na zona leste, em Avdivka e Bakhmut, com a Ucrânia a anunciar que repeliu mais de 50 ataques em 24 horas.

Do ataque para a defesa

Ao mesmo tempo, os últimos dois meses foram maus para a Ucrânia: a guerra em Gaza chegou a outra escala e agora os apoios externos também seguem para aquela zona (além da atenção da comunicação social, que também se espalha mais).

Com tudo isto, Volodymyr Zelenskyy anunciou publicamente: a Ucrânia vai focar-se mais em construir, ou reforçar, estruturas de defesa. O presidente também pediu sistemas de defesa aérea “altamente eficazes”.

Ou seja: os ucranianos passaram do ataque para a defesa.

A investigadora Liliana Reis lembra que os russos estão mais activos no ataque nos últimos dias: “Não seria surpresa que a ofensiva fosse agravada e que os russos recuperassem territórios“.

Apesar de ser prematuro descrever a contra-ofensiva como um “fracasso”, não se deve ignorar “as dificuldades que a Ucrânia vive. Isso é um facto”, analisou a professora, na rádio Observador.

E o Inverno, como vai atirar a guerra mais para ataques aéreos e menos no solo, vai evidenciar “o domínio dos céus” por parte da Rússia: “A superioridade russa é muito mais visível. Ataques a infraestruturas críticas e energéticas ucranianas preocupam Zelenskyy e podem ser ainda mais intensos do que no ano passado”.

A nível interno

Multiplicam-se as críticas ao presidente da Ucrânia. Volodymyr Zelenskyy parece ter cada vez menos apoio interno.

As derrotas militares não ajudam e os escândalos financeiros, alguns relacionados com a guerra, originaram uma quebra no apoio a Zelenskyy.

“E é possível que isso se verifique ainda mais nas próximas semanas. Sobretudo se a torneira do apoio militar dos aliados se fechar. Poderá haver quem faça um aproveitamento político desta situação”, avisa Liliana Reis.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

10 Comments

  1. Os apoios poderão diminuir devido ao acesso ao poder de partidos fascistas tanto nos EUA como na Europa.
    Putin é, tal como Trump e Orbán, um fascista. A ala mais à direita, e maioritária, do Partido Republicana é fascista. Na Holanda, um partido fascista acaba de ganhar as eleições. Em Itália, o partido fascista está no poder. Em Portugal, o primeiro apoio público à invasão russa surgiu num publicação online de um dirigente do Chega (essa publicação foi rapidamente apagada).
    A democracia tem este problema: na sua pluralidade, admite no seu âmago a existência de partidos que a querem destruir (à excepção da Alemanha, mas mesmo aí há partidos fascistas que evitam em público pisar o risco que levaria à sua proibição).
    A Polónia tinha/tem um governo fascista que não se importaria se a Ucrânia desaparecesse mas que por outro lado sabe que a Rússia tem pretensões territoriais sobre a Polónia.
    Os portugueses raramente reflectem sobre o que se passa no mundo. Vemos a Europa como vaca leiteira e esquecemos que a Europa somos nós. Apoiamos a Ucrânia mas aumentamos a intenção de votos no Chega, sem vermos a contradição em que caímos.

  2. Só que o Chega (lamentavelmente, digo eu) apoia a Ucrânia. O PCP é que está a favor da Rússia.
    Lá fora… escolheu os que davam jeito. A Meloni é de esquerda? É que ela apoia a Ucrânia.
    Essa sua lógica está um bocado retorcida. É o que dá ver a realidade com as lunetas da dicotomia esquerda vs direita.

  3. Esta guerra já dura tempo demais… Quem é que está a lucrar com ela? A industria do armamento, quem é que deveria de ser… agora que o material “velho” já foi “doado” à Ucrânia e os países que o fizeram podem agora abastecer-se de armamento moderno, não há interesse em continuar apoios… mas… sejamos sinceros, tem havido muito pouco esforço em tentar chegar-se a um tratado de paz, só se pedem armas… Que mundo, este… Podíamos todos viver em total harmonia, mas há sempre alguém que quer ser superior ao outro… no fim, acabam todos da mesma forma: debaixo da terra em quatro tábuas, seja ele rico ou pobre!

  4. A Ucrânia deixou-se corromper pelos EUA e desde 2014 não tem paz nem democracia. Quanto mais se deixa comprar pelo Ocidente pior fica, mas não aprende. Quanto mais depressa os deixarmos em paz, melhor para eles. Estão a sacrificar a população para o lucro dos Biden e da Victoria Nuland e do complexo militar ocidental. É muito triste.

  5. Desde o primeiro dia que se sabe que a Rússia ía ganhar a guerra. Os americanos e os ingleses empurraram a Ucrânia para continuar uma guerra que ela não podia ganhar, e o resultado é mais de meio milhão de ucranianos mortos, sacrificados aos interesses americanos. E Putin, que tem o apoio de mais de 80% da população russa, vai ser reeleito e vai continuar a desfazer o que resta do poder ocidental. Se não tivéssemos sido estúpidos nada disto teria acontecido.

  6. Força Orbán! Em quase todos os países da UE há corrupção. No próprio Parlamento Europeu há muitos corruptos. Eva Kali só passou 3 semanas em prisão preventiva, e já está de novo a trabalhar no Parlamento Europeu. Quando vai o Sócrates para o prisão? Nunca? Mas é muito fácil apontar o dedo para os outros. 
    Os fundos de coesão não podem ser questão política. Aquele dinheiro é obrigatoriamente distribuído para todos os estados-membros. A UE não pode legalmente reter dinheiro por causa de ideologias, baseado em certos comentários nesta página, que chamam Orbán um fascista. :-)))

    O dinheiro não foi dado à Hungria e à Polónia porque a UE já gastou tudo para salvar a Ucrânia. A UE gastou 55 mil milhões do nosso dinheiro. E não mudou nadinha no percurso da guerra. Só ajudou prolongar a agonia da Ucrânia, o que significa muito mais vidas perdidas. A UE dança como os EUA toca, e os EUA não tem mais para dar. Agora vai ser eu e tu que damos à Ucrânia, do nosso bolso. Porque Europa já não tem. Agora querem dar mais 70 mil milhões. E pedem contribuição à Hungria e à Polónia, e nem se quer deram o dinheiro legítimo que todos os outros estados-membros receberam.

    Só que aquele dinheiro engloba os fundos de coesão. Ou seja, Hungria e Polónia gastam imenso para receber e acolher os refugiados ucranianos, mas ainda são obrigadas a pagar custos adicionais, sem receber nada da EU. E querem que o Viktor Orbán pagasse a loucura da EU do bolso dos húngaros?

    Depois, não falámos do nível excessivo de corrupção na Ucrânia, e que a maioria de apoio que recebem (dinheiro, armas, medicamentos e comida) é desviada e vendida no mercado negro.

    E não falámos ainda do comportamento fascista do Zelenskiy e o seu governo, que recentemente resolveu minimizar os direitos humanos das minorias (polacas, húngaras, romenas, russas etc) tanto que até às 17 horas a tarde essas etnias nem se quer podem usar a própria língua na rua.

    Ucrânia ainda não tem lugar na UE.

  7. Você convence o carniceiro do Kremlin a abandonar as áreas que anexou de forma ilegal?
    Se sim, fogo à peça.
    Mas para seu desencanto o carniceiro não vai ouvi-lo.
    Imagine que Espanha nos invade e anexa o Alentejo.
    Andamos em guerra vários meses com apoio internacional.
    O apoio começa a faltar.
    O que você propõe é que façamos um acordo e cedamos o Alentejo à Espanha. É isto que você propõe à Ucrânia!
    E logo a seguir a Espanha invade o norte de Portugal e anexá-lo. E você bate palmas!
    Deixe-se de palermices porque o terrorista Putin só conhece a lei da bala.
    Mas não há quem lhe limpe o sebo!!!

  8. O que teria acontecido era a reimplantação da URSS, que é o que pretende Putin.
    Aliás, já há na Rússia quem defenda a anexação da Europa até Lisboa.
    Você até chega ao orgasmo só de pensar em tal cenário.

  9. Pertencer a um clube, associação, grupo, etc exige o cumprimento das regras que enformam esse tipo de uniões.
    A UE, goste-se ou não, tem regras e essas regras são aceites pelos membros quando querem fazer parte delas
    Alguém obrigou a Hungria e a Polónia a fazer parte da UE?
    Foram eles que quiseram entrar, logo têm de respeitar as regras impostas.
    Mas o que eles querem, à semelhança da Turquia, é fazer parte para receber fundos, mas quando se trata de cumprir com as obrigações não querem
    Por mim podem sair, como o Reino Unido, e juntar-se ao urso do Kremlin. Talvez ele lhe dê mais guito

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