Guerra, drama, desespero: a (outra) emergência mundial que não aparece nas notícias

DFID / Wikimedia

Campo de refugiados no Sudão do Sul

6 milhões de pessoas fugiram, quase 400 mil procuram casa noutro país, o Estado não ajuda. Eis o cenário no Sudão do Sul.

“Guerra”.

É uma palavra que, para surpresa de milhões de pessoas, voltou a dominar as notícias no século XXI.

Ao longo dos últimos (quase) dois anos, Ucrânia e Rússia passaram a ser países assíduos na comunicação social. Israel juntou-se mais recentemente.

No entanto, há outras guerras – várias – no planeta que não recebem tanta atenção mediática.

E nem sempre a questão geográfica é essencial nesse desprezo: na Europa há cinco guerras que andam mais afastadas do contexto mediático mas que podem “rebentar” a qualquer momento – Kosovo, Chipre, Abcásia, Ossétia do Sul e Transnístria.

Mais longe temos o caso evidente da Somália. Imagens de miséria e guerra até já passaram a ser habituais, num país que passa por uma combinação letal: guerra, seca e inflação.

Desta vez o destaque é o país mais recente de todos: Sudão do Sul.

Independente desde 2011, tem sido palco de uma guerra que já deixou sem casa 6 milhões de pessoas. Quase 400 mil procuram refúgio noutro país.

O jornal El País descreve uma cena típica no país: um bebé que vai dentro de um camião que costuma transportar vacas. Entrou ao colo da sua mãe para fugir da guerra. Metade dos refugiados naquela fronteira são menores.

A guerra teve origem nas divergências entre o exército local e os rebeldes das Forças de Apoio Rápido – e não parece ter fim à vista, pelo menos para breve.

O conflito começou há pouco mais de meio ano e já está a criar uma crise humanitária muito grave.

Há mais 50 organizações humanitárias no Sudão do Sul mas todas elas estão desesperadas porque não conseguem ajudar tanta gente no meio daquele “nada”.

Falta dinheiro: pediram 1.2 milhões de euros, chegaram 120 mil, ao longo deste ano – enquanto a emergência humanitária se agravou. 2024 está quase a começar e essas organizações nem sabem se terão algum apoio financeiro. Faltam respostas, admite a ONU.

Muitos habitantes locais têm noção de que não vão ter a ajuda de que precisam. Sobretudo as mulheres, que tentam fugir das cenas que, às vezes, as próprias viveram: invasão de casa, tentativa de violação, agressões, ver familiares assassinadas ao seu lado.

O drama aumenta porque o Sudão do Sul sofre também com diversas inundações, muito por causa das alterações climáticas.

As pessoas procuram ajuda ali perto. Mas o “ali perto” é sinónimo de: Etiópia, Quénia, Sudão e Uganda. São países que também têm as suas emergências humanitárias.

Aliás, há quenianos que tinham ido para o Sudão do Sul para fugir do Quénia. Mas agora…

E, em algumas zonas, não há qualquer recurso essencial à vista: água, comida, casa, até uma casa-de-banho… Nada.

Muitos já se conformaram: sentam-se e esperam por ajuda. Que pode nunca chegar.

ZAP //

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