A presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Maria Merlinde Madureira, aconselhou os utentes a não saírem de casa sem confirmar as suas consultas devido à greve dos médicos que se iniciou à meia noite desta terça-feira.
“O utente vai ser afetado pela greve, mas não há risco de vida para ninguém e os serviços mínimos estão assegurados”, disse à agência Lusa a presidente da comissão executiva da FNAM, salientando que ainda não existem números de adesão à paralisação.
A greve contra as políticas do Governo, que começou à meia-noite de hoje e decorre até às 24h de quarta-feira, foi convocada pela FNAM e conta com o apoio da Ordem dos Médicos, de várias associações do setor, de pensionistas e de doentes.
De acordo com Maria Merlinde Madureira, os serviços mais afetados pela greve são as consultas externas e as cirurgias.
“Aconselho os utentes a não saírem de casa sem ter a certeza de que a sua consulta se vai realizar. Será no setor das consultas e da cirurgia programada que haverá os maiores prejuízos imediatos que serão compensados pela garantia de um futuro melhor na saúde”, sublinhou.
Na origem da greve, esclareceu Maria Merlinde, está uma portaria “que obriga os médicos de família a praticarem atos que não lhes respeitam” como a medicina de trabalho e a saúde pública. A dirigente do FNAM esclarece ainda que a legislação “destrói o SNS, que destrói hospitais ao retirar-lhes valências, ao diminuir acessibilidades”, disse.
“É uma luta contra a organização da VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação) e INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) e um conjunto de atitudes que visam defender o SNS e a dignidade dos médicos que tem sido posta em causa”, disse.
Protesto de batas brancas
Os médicos saem também à rua do Ministério da Saúde para, vestidos com batas brancas, manifestarem a sua indignação.
O protesto acolhe o apoio de diversas associações de profissionais de saúde, como a Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN), que disse não poder “deixar de estar solidária com os portugueses, que necessitam cada vez mais de um SNS de proximidade e qualidade e que exprimem crescentes dificuldades em manterem um nível de vida digno”.
Também a Associação Portuguesa de Empresas de Segurança e Saúde no Trabalho (APEMT) anunciou que estará presente na concentração em frente ao Ministério da Saúde.
Igualmente do lado da greve está a Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, a Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral, a Federação das Associações de Reformados, Pensionistas e Idosos do distrito do Porto e a associação de doentes SOS Hepatites.
Razões de “cariz genérico”, diz o Governo
Este é a segunda greve de médicos que Paulo Macedo enfrenta, tendo a primeira decorrido há dois anos.
Ao contrário da greve de 2012, esta greve não terá a participação do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) que, no dia em que foi anunciada esta forma de luta, explicou que não aderia.
Na altura, o secretário-geral do SIM disse que o sindicato não participaria na greve pois “não desiste de dialogar e negociar com o Ministério da Saúde, porque entende que esse é o caminho que melhor defende e serve os interesses dos médicos seus associados”.
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, disse na segunda-feira, em Portalegre, não compreender a greve dos médicos, considerando que a situação “não é construtiva” para o país, que saiu recentemente de uma situação de emergência económico-financeira.
“Eu não compreendo a greve. Nos sindicatos aduziram 22 motivos e a Ordem dos Médicos, se não me engano, 56, portanto se eu quiser apresentar 70 motivos posso sempre apresentar os mais diversos”, afirmou.
Assinalando que tem mantido diálogo com os sindicatos e a Ordem dos Médicos sobre os problemas que envolvem o setor, Paulo Macedo considerou que a greve não surge de uma “perspetiva credível” e, sobretudo, “construtiva”, uma vez que o país saiu, recentemente, de uma situação de emergência económica e financeira.
Para Paulo Macedo, as razões apresentadas para avançar com a greve são “difusas”, de “cariz genérico” e “claramente em termos políticos”.
/Lusa