“É contra a democracia”. Governo critica discurso de Ventura — que deixou uma fenda no PSD

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Tiago Petinga / Lusa

André Ventura na convenção do Chega

O Governo teceu duras críticas ao discurso de André Ventura. O PSD está dividido perante o acordo com o Chega nos Açores.

André Ventura foi novamente eleito líder do Chega, numa convenção nacional onde era o único candidato. Ventura recebeu 98,3% dos votos de mais de 600 delegados.

A convenção contou com a presença de nomes como Ana Catarina Mendes, ministra dos Assuntos Parlamentares, e Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD. Ambos os convidados assistiram na primeira fila. O discurso final de André Ventura foi a gota de água para Ana Catarina Mendes, que saiu logo a seguir.

“Aquilo que aqui vimos foi incitamento ao ódio e isso é contra a democracia”, disse a governante, realçando que “não tinha como não marcar presença”.

Citada pelo Expresso, a governante disse ainda que “há todo um mundo que distingue e que afasta o Chega do Governo” e condenou o “discurso de ódio e de desrespeito pelo portugueses”.

Enquanto ainda estava sentada na linha da frente da convenção, a ministra dos Assuntos Parlamentares foi apupada e ouviu um coro que gritava “vergonha!”.

O Governo não foi o único que criticou o discurso de André Ventura. A reação da Iniciativa Liberal foi de repúdio e a do CDS foi de marcação de diferenças entre os dois partidos. Por sua vez, o PSD bateu o pé, mas está dividido.

Ventura falou que se os sociais-democratas quiserem voltar a liderar o país, terão que se entender com o Chega. Pinto Luz comparou o Chega ao Bloco pela forma como se “alimenta da frustração coletiva para se tornar audível” e classificou-o mesmo como o partido do “berro e acrimónia”.

Ainda assim, quanto ao apelo de Ventura para que os partidos se entendam, o vice-presidente social-democrata apenas disse que “não é o tempo, nem o local para fazer essa discussão”.

Pinto Luz compreende ainda o facto de cada vez mais portugueses se estarem a juntar ao Chega “e a outros partidos dos extremos, porque estão zangados”. Por fim, rematou que “só há um partido que é alternativa ao PS e é o PSD”.

Jorge Moreira da Silva foi bastante mais crítico na sua posição, principalmente ao facto de os sociais-democratas marcarem presença na convenção nacional do Chega.

“Considero lamentável a presença do PSD na Convenção do Chega. É uma inaceitável normalização de um partido racista, xenófobo, extremista. Repito o que disse em 2020 e nas Diretas de 2022: nunca, jamais, em tempo algum. Viola os nossos valores e princípios. E nisso não se transige”, escreveu Moreira da Silva no Twitter.

O Expresso realça que a relação entre os partidos continua a gerar divisão no PSD, que tem um acordo com o Chega nos Açores. 

Extrema direita europeia saúda “ascensão” de Ventura

Rocio Monasterio, líder do Vox em Madrid, a primeira dos oito dirigentes de forças políticas da extrema-direita da Europa que falaram este domingo à tarde aos mais de 600 congressistas do Chega, afirmou que estes partidos serão “os protagonistas e parte capital na mudança” de rumo, tanto nos seus países como na União Europeia.

Como “bandeiras” comuns, apontou “a defesa da soberania das nações, a força do amor à pátria, a defesa das fronteiras seguras, uma visão da Europa onde nações livres colaboram de forma voluntária” ou, ainda, “a proteção da família”.

O elogio ao crescimento do Chega em Portugal atravessou os discursos de Kinga Gál, vice-presidente do Fidesz, partido no poder na Hungria, feito por vídeo, Tino Chrupalla, do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de Geert Wilders, do Partido da Liberdade (PVV), dos Países Baixos, de Tom Van Grieken, do Vlaams Belang (VB), da região belga da Flandres, de Boris Kollar, do movimento eslovaco Sme Rodina (Somos Família), também gravado em vídeo, e de Cláudiu Tarziu, da Aliança para a União dos Romenos (AUR).

Se este falou do “dever de combater o cancro marxista que se instalou na Comissão Europeia”, Geert Wilders invocou a tradição judaico-cristã da Europa, em contraponto à “barbárie islâmica”, pedindo à plateia para prometer que, da próxima vez que vier a Portugal, o Chega será “não só o maior partido”, como André Ventura, que definiu como “o melhor patriota” que o país “alguma vez teve”, será primeiro-ministro.

ZAP // Lusa

5 Comments

  1. «…Desde um extremo ao outro do espectro partidário português, estes partidos são todos iguais no seu conservadorismo de regime. Fingem se combater uns aos outros, só para enganar os Portugueses mais distraídos.
    Porém, estão alinhados, todos e ainda que em estilos diversificados, sob as mesmas batutas que controlam a imposição do sistema político-constitucional ainda vigente…» – «A Tomada da Bastilha» por Alberto João Jardim

  2. Este aprendiz Ditador , ainda não compreendeu , que não é com berros animalescos que se torna credível . Populismos nunca deram bons resultados , algo tem de mudar ? …. certamente , mas não será com gente como esta !

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