“Príncipe perfeito” é o cognome do rei D. João II, que surge na revista da Marinha de braço dado com Gouveia e Melo. Partidos criticam “folheto de pré-campanha”, e a IL também não vai à bola com o Almirante.
“Se D João II visse os drones, a Inteligência Artificial e a tecnologia que hoje temos disponível, certamente não hesitaria em trocar ideias com o Almirante CEMA [Chefe do Estado-Maior da Armada] sobre os novos desafios e a conquista económica do nosso mar”, escreve-se na mais recente edição da Revista da Marinha.
“O glorioso passado e presente, o sonho e a esperança que começou há muito tempo, continua neste Natal”, conclui-se no texto, intitulado de “memória descritiva”.
E a espécie de “editorial” que abre a edição tem mesmo a assinatura do próprio Gouveia e Melo, possível candidato à presidência da República nas Presidenciais de 2026.
Escreve estar agradecido pela colaboração das Forças Armadas durante o seu mandato na Marinha. E, agora que este chega ao fim e não vai recandidatar-se, deixa a si próprio um elogio: “Quando me aproximo da última faina, sinto-me tranquilo e confiante porque vou deixar o navio pronto, focado, útil, significativo e tecnologicamente mais preparado para enfrentar uma nova navegação”.
As críticas não tardaram a chegar, tanto por utilizadores das redes sociais como por políticos da Assembleia.
O mais “duro” foi Fabian Figueiredo, do Bloco de Esquerda, que, citado pelo Expresso, disse: “A publicação oficial da Marinha Portuguesa não devia ser reduzida a panfleto de pré-campanha presidencial de Gouveia e Melo. PS: aconselho a leitura do texto que acompanha a ilustração em que se explica que os feitos do Almirante despertariam o interesse de D. João II.”
Também o deputado do Livre, Paulo Muacho, questionou se esta “é a revista da Armada ou é já um folheto de pré-campanha?”.
Na ilustração do texto, o Almirante surge ao lado de D. João II, cujo cognome é “o Príncipe Perfeito“, dando-lhe o braço numa conversa rodeada por desenhos de objetos da Marinha.
Não tem “visão” liberal, não tem IL
Também a Iniciativa Liberal se vai manter à margem do apoio a Gouveia e Melo. Num post na rede social X, Rui Rocha, presidente do partido, escreveu que “é muito claro” que o Almirante “não representa ideias liberais”, pelo que não contará com o apoio da IL.
“Não está a pessoa em causa, nem a condição militar. É a visão. A IL deve apoiar uma candidatura que represente o espaço liberal“, conclui o deputado.
Também o PSD optará por apoiar um candidato do próprio partido, caso exista, como é o caso, possivelmente, de Luís Marques Mendes.
Um partido que começou por demonstrar algum contentamento com a possibilidade de apoiar Gouveia e Melo foi o Chega, mas, tal como André Ventura admitiu entretanto, o Almirante nem aí é “absolutamente consensual”, como lembra o Observador, e com uma potencial candidatura do próprio Ventura à espreita, não é claro que partido (à exceção, possivelmente, do CDS) poderá vir a apoiar Gouveia e Melo.
Não deve ser pior que o actual presidente é só por isso uma tarefa quase impossível conseguir, por isso seja o que o povo votar. Peço desculpas pelo azedo ao Marcelo, porque votei nele.