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Golpe de Estado no Sudão. Primeiro-ministro e outros líderes detidos e internet cortada em todo o país

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Abdalla Hamdok, primeiro-ministro do Sudão

Abdalla Hamdok, primeiro-ministro do Sudão

A internet e a rede telefónica estão a sofrer cortes no Sudão, que já sofreu uma tentativa de golpe de Estado há poucas semanas. Vários ministros, incluindo o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, foram detidos.

Depois de semanas de escaladas na tensão entre o governo e os militares, esta segunda-feira, o primeiro-ministro do Sudão foi “detido em casa” e pressionado a “apoiar o golpe de Estado”, o que o líder político recusou.

A notícia partiu de uma publicação do Ministério de informação do Sudão no Facebook. “As forças militares conjuntas, que mantêm o primeiro-ministro sudanês Abdalla Hamdok dentro da sua casa, estão a pressioná-lo a fazer uma declaração de apoio ao golpe“, revelou o Ministério.

Há apenas dois dias, uma facção sudanesa que quer uma transferência de poder para o Governo civil alertou para um possível golpe de Estado iminente durante uma conferência de imprensa que foi interrompida por um grupo de pessoas não identificadas.

Recorde-se que o Sudão está a viver uma grande fase de instabilidade política, depois do Presidente Omar al-Bashir ter sido afastado do poder em Abril de 2019. Desde Agosto desse ano que o rumo do país está nas mãos de um executivo civil e militar, que tinha como função garantir um transição pacífica para um Governo totalmente civil.

As Forças pela Liberdade e Mudança (FFC), que lideraram os protestos contra o Presidente em 2019, são o principal bloco civil no Governo. As tensões entre os grupos têm subido de tom nas últimas semanas, especialmente depois de um golpe falhado a 21 de Setembro, que contrapôs islamistas mais conservadores que querem o exército a liderar o país contra os grupos que derrubaram Bashir.

“A crise atual é artificial – e assume a forma de um golpe. Renovamos a nossa confiança no Governo, no primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, e na reforma das instituições de transição, mas sem (…) imposição”, disse o líder da FFC, Yasser Arman, numa conferência de imprensa, no sábado.

Nas últimas semanas, ambas as facções têm saído às ruas em protesto. Dezenas de milhares de sudaneses manifestaram-se nos últimos dias contra o Governo militar e exigem a transição final para um executivo civil. Estes protestos aconteceram poucos dias depois da concentração dos apoiantes dos militares junto ao palácio presencial na capital.

Para além do primeiro-ministro Abdalla Hamdok, o Ministro da Indústria Ibrahim al-Sheikh, o Ministro da Informação Hamza Baloul, o membro do Conselho Soberano Mohammed al-Fiky Suliman, e o conselheiro de Hamdok Faisal Mohammed Saleh também foram detidos. O governador do estado onde fica Cartum, Ayman Khalid, também foi preso, de acordo com um anúncio na sua página oficial do Facebook.

A internet foi cortada em todo o país enquanto manifestantes se concentravam nas ruas da capital para protestaram contra as detenções, segundo avança a Associação de Profissionais Sudaneses, um grupo que tem encorajado a população a protestar contra o golpe nas ruas. O sinal telefónico também está a sofrer cortes, avançam.

“Apelamos às massas que saiam às ruas e as ocupem, fechem as estradas, façam uma greve e não cooperem com os golpistas e usem a desobediência civil para os confrontar”, escreveu o grupo.

Já o grupo NetBlocks, que acompanha as disrupções no fornecimento de internet, revelou que vários fornecedores no Sudão estavam a falhar. “É provável que a disrupção limite a livre circulação de informação online e a cobertura mediática de incidentes no terreno”, afirmam.

No sábado, Hamdok que tivesse concordado em fazer uma remodelação no Governo negou os rumores de que tinha concordado com uma remodelação do gabinete, tendo-se já referido às divisões no executivo como “a crise mais grave e perigosa” que pode pôr em causa a transição pacífica do poder.

Os EUA já reagiram à crise no Sudão, expressando “profunda inquietação” sobre as detenções aos líderes políticos que “vão contra a declaração constitucional (que determinou a transição do país” e as “aspirações democráticas do povo do Sudão”, disse o emissário norte-americano para o Corno de África, Jeffrey Feltman.

As Nações Unidas também consideram “inaceitávels” as detenções levadas a cabo pelos militares. O enviado da ONU no Sudão, Volker Perthes, mostra-se também “muito preocupado com as notícias de um golpe de Estado”.

Adriana Peixoto, ZAP //

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