Milhares de sudaneses têm saído às ruas para protestarem a tomada do poder pelos militares. A comunidade internacional tem sido unânime na condenação ao golpe de Estado.
Na sequência do golpe de Estado de segunda-feira, os sudaneses têm saído às ruas nas últimas horas. Os confrontos durante as manifestações já fizeram sete mortos e mais de 140 feridos, depois de milhares de pessoas terem acedido aos apelos à resistência dos líderes civis que foram detidos e que se estão a opor à tomada do poder pelos militares.
As ruas da capital, Cartum, encheram-se de manifestantes, principalmente em torno do principal quartel do Exército, assim como na cidade gémea Omdurman. As tropas andam agora de porta em porta na capital a prender os organizadores dos protestos. Os funcionários do Banco Central também já anunciaram uma greve.
“A liderança civil é a escolha do povo”, gritaram os manifestantes esta terça-feira de manhã, enquanto queimavam pneus. As demonstrações continuaram mesmo depois dos militares terem disparado sobre a multidão na segunda-feira.
Um manifestante ferido disse aos jornalistas que foi alvejado na perna pelo exército à porta das. “Duas pessoas morreram, vi isso com os meus olhos”, revelou Al-Tayeb Mohamed Ahmed, citado pela BBC.
Os protestos surgem depois de na segunda-feira, o General Abel Fattah al-Burhan ter dissolvido o Conselho Soberano do país, que juntava líderes civis e militares e que foi estabelecida para garantir a transição pacífica e democrática do país depois da queda de Omar al-Bashir em 2019, que esteve à frente do país durante 30 anos.
Burhan decretou o estado de emergência, dizendo que as forças armadas têm de garantir a segurança e evitar uma guerra civil, e prometeu marcar eleições para Julho de 2023 e aceitar nessa altura a criação de um governo civil, escreve a Reuters.
“Aquilo que o país está a enfrentar agora é uma verdadeira ameaça e perigo para os sonhos da juventude e para as esperanças da nação”, afirmou o General. A internet continua cortada no país.
O Ministério da Informação do Sudão, que continua leal ao primeiro-ministro Abdalla Hamdok que foi detido e afastado do poder, respondeu que a Constituição de transição dá apenas ao primeiro-ministro o poder para declarar o estado de emergência e que as acções do exército são criminosas.
A comunidade internacional condenou os desenvolvimentos no Sudão. Os países que compõem a equipa de apoio à democratização do Sudão — Reino Unido, EUA e Noruega — emitiram um comunicado onde se mostram preocupados com a queda do governo interino.
“As acções dos militares representam uma traição da revolução, da transição e das exigências legítimas do povo sudanês de paz, justiça e desenvolvimento económico”, afirmam os três governos.
Segundo avança a AFP, o Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião de emergência esta terça-feira para debater a questão sudanesa. Também a União Africana, a Liga Árabe e a União Europeia condenaram o golpe de Estado.
O Departamento de Estado dos EUA informou também que vai suspender o programa de apoio económico ao país no valor de 700 milhões de dólares (603 milhões de euros), com o Secretário de Estado Antony Blinken a descrever o golpe como uma “traição da revolução pacífica do Sudão”.
Já há várias semanas que o Sudão está a ser palco de confrontos entre líderes civis e militares, especialmente depois da tentativa falhada de golpe a 21 de Setembro.
Apesar disto, nos últimos anos, o país estava numa tendência crescente, depois da queda de Bashir ter aberto o país mais à comunidade internacional e posto fim ao apoio a redes terroristas como a Al-Qaeda.