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Golpe de estado no Mali. Presidente e Governo anunciam demissão

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O Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, no poder desde 2013, anunciou esta quarta-feira a sua demissão e a de todo o governo, numa declaração transmitida pela televisão nacional, após ter sido deposto por um golpe militar, horas antes.

Ibrahim Boubacar Keita, que tinha sido detido na companhia do primeiro-ministro Boubou Cissé no final da tarde de terça-feira e levado para o acampamento militar onde se iniciou um motim no início do dia, surgiu por volta da meia-noite na televisão pública ORTM, usando máscara.

Na declaração, citada pela agência de notícias France-Presse (AFP), disse que tinha trabalhado desde a sua eleição, em 2013, para dar a volta ao país e “dar corpo e vida” ao exército maliano, que enfrenta a violência jihadista há anos.

Apresentado como “presidente cessante”, Keita referiu-se depois às “várias manifestações” que têm vindo a exigir a sua partida há vários meses, afirmando que “o pior aconteceu”.

“Se hoje pareceu bem a alguns elementos das nossas forças armadas concluir que tudo deveria terminar com a sua intervenção, será que tenho realmente escolha? Não tenho outra escolha senão submeter-me, porque não quero que seja derramado sangue para me manter [no cargo]”, disse.

“É por isso que gostaria neste preciso momento, agradecendo ao povo do Mali o seu apoio ao longo destes longos anos e o calor do seu afeto, de vos anunciar a minha decisão de deixar as minhas funções, todas as minhas funções, a partir deste momento”, anunciou. “E com todas as consequências legais: a dissolução da assembleia nacional e do governo”, acrescentou.

Ibrahim Boubacar Keita e alguns membros do seu Governo foram detidos ao final da tarde de terça-feira, durante uma revolta por militares.

“Podemos dizer-vos que o Presidente e o primeiro-ministro estão sob o nosso controlo. Prendemo-los na sua casa [do chefe de Estado, em Bamako, capital]”, disse à AFP um dos líderes do motim, sob anonimato.

Os amotinados assumiram o controlo do campo militar e das ruas adjacentes, dirigindo-se então para o centro da capital, segundo um correspondente da AFP. Em Bamako, foram recebidos com aplausos pelos manifestantes que exigem a demissão de Keita.

Um dos catalisadores da atual crise política no Mali foi a invalidação, no final de abril, de 30 resultados das eleições legislativas pelo Tribunal Constitucional, incluindo cerca de uma dezena em favor da maioria parlamentar. A decisão, aliada a fatores como o clima de instabilidade e insegurança sentido nos últimos anos no centro e norte do país, a estagnação económica e a prolongada corrupção instigaram várias manifestações contra Keita.

O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, criticou a detenção do chefe de Estado e do chefe do Governo, pedindo a sua libertação imediata. “Condeno veementemente qualquer tentativa de alterações anticonstitucionais e apelo aos amotinados para pararem toda a violência e respeitem as instituições da República”, escreveu no Twitter.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que tem promovido um diálogo entre Governo e manifestantes, mostrou-se preocupada com os acontecimentos. Num comunicado, a comissão da CEDEAO apelou aos militares para que “regressem sem demora” ao seu quartel e pediu a todas as partes que “deem prioridade ao diálogo para resolver a crise política” no Mali.

ONU condena detenção do Presidente do Mali

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, está a acompanhar com “profunda preocupação” a situação no Mali, condenando o motim militar que levou à detenção do Presidente do país.

“O secretário-geral [da ONU] está a acompanhar com profunda preocupação os desenvolvimentos no Mali, incluindo o motim militar que culminou na prisão do Presidente Ibrahim Boubacar Keita e de membros do Governo hoje de manhã em Bamako”, lê-se numa declaração do porta-voz de António Guterres, Stéphane Dujarric, publicada no site da ONU.

ZIPI / EPA

António Guterres, secretário-geral da ONU

Guterres “condena veementemente” estas ações, apelando para a “restauração imediata da ordem constitucional” e do “Estado de direito no Mali”. Neste sentido, o secretário-geral defende a “libertação imediata” de Keita e dos membros do seu Governo, incluindo o primeiro-ministro Cissé.

A ONU voltou a apelar para uma resolução pacífica do conflito, expressando o seu apoio à União Africana e à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) na procura de uma solução para a atual crise no Mali.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se na quarta-feira para discutir a crise no Mali. A reunião terá lugar à porta fechada durante a tarde a pedido da França e do Níger, que atualmente preside à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Gomes Cravinho acompanha situação com preocupação

O ministro da Defesa Nacional de Portugal, João Gomes Cravinho, disse na terça-feira estar a acompanhar com grande preocupação a crise no Mali, onde estão destacados 63 militares da Força Aérea Portuguesa, na sequência da detenção do Presidente e do primeiro-ministro do país.

“O ministro da Defesa Nacional está a acompanhar a situação no Mali com grande preocupação, mais ainda numa altura em que Portugal tem no território uma Força Nacional Destacada de 63 militares e um avião de transporte C-295“, segundo informação prestada pelo gabinete de João Gomes Cravinho.

Mário Cruz / Lusa

O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho

O ministro acentua “a ilegitimidade da imposição” da força para resolver o conflito e “considera fundamental respeitar a ordem constitucional do país”, adianta a mesma informação. “Qualquer mudança que venha a ocorrer no Mali não pode ser imposta pela força das armas”, salienta a fonte do gabinete de João Gomes Cravinho.

Portugal tem desde 1 de julho uma Força Nacional Destacada no Mali, no âmbito da Minusma (Missão Multidimensional Integrada para Estabilização das Nações Unidas do Mali), que inclui 63 militares da Força Aérea Portuguesa e um avião de transporte C-295.

O objetivo do destacamento português é assegurar missões de transporte de passageiros e carga, transporte tático em pistas não preparadas, evacuações médicas, largada de paraquedistas e vigilância aérea, e garantir a segurança do campo norueguês de Bifrost, em Bamako, onde estão alojados os militares portugueses.

ZAP // Lusa

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