Gaza vai ter 4 horas de “pausa” por dia. Cessar-fogo não é hipótese

Mohammed Saber / EPA

Residentes de Gaza fogem do campo de refugiados Al Shatea durante combates entre o exército israelita e o Al Qassam

“Pausas humanitárias” serão limitadas na área e durarão apenas 4 horas por dia, numa altura em que “não há qualquer possibilidade” de cessar-fogo. Uma Rússia “chocada” queixa-se dos atrasos na retirada dos seus cidadãos de Gaza.

Depois de a Casa Branca anunciar que Israel concordou em implementar pausas humanitárias diárias de quatro horas por dia nos seus ataques ao movimento islamita palestiniano Hamas, no norte da Faixa de Gaza, o exército israelita esclareceu que aceitou fazer tais “pausas táticas” a nível local, limitadas também na área.

Estas pausas estão destinadas à ajuda humanitária no norte de Gaza, para que os civis possam sair para o sul.

Esses corredores foram criados nos últimos dias para permitir a saída dos habitantes de Gaza da zona norte e da cidade de Gaza para o sul do enclave, enquanto prosseguem os combates entre as milícias do grupo islamita Hamas e as tropas israelitas, bem como os fortes bombardeamentos.

O porta-voz do exército israelita afirmou ainda que Israel está a autorizar a entrada de mais ajuda humanitária do Egito em Gaza, embora o combustível, essencial para a produção de eletricidade no enclave, continue a não estar disponível, o que faz com que muitos dos hospitais não funcionem ou funcionem em condições mínimas.

Entretanto, as autoridades israelitas reiteram que não vão parar a sua ofensiva até à libertação dos cerca de 240 reféns feitos pelas milícias em Gaza.

“Não haverá cessar-fogo”

O exército israelita esclareceu insistiu que não haverá cessar-fogo nos combates, que duram há 34 dias.

As forças israelitas têm aprofundado a incursão na cidade de Gaza, visando o coração militar do grupo islamita, perto do hospital al Shifa, o principal centro médico de Gaza, onde têm “forças de infantaria, veículos blindados e engenheiros de combate” com o apoio da força aérea e de unidades de elite.

Nos últimos dias de combate, Israel diz ter destruído também “infraestruturas terroristas, incluindo uma extensa rede de túneis subterrâneos”, fábricas de produção de mísseis anti-tanque e locais de lançamento de ‘rockets’.

De acordo com Richard Hecht, “os combates continuam acima e abaixo do solo, onde há veículos a aceder com equipamento militar para lidar com os túneis” no centro da cidade de Gaza, onde Israel alega que o Hamas tem o seu maior esconderijo militar, sob e à volta do Hospital al Shifa.

Este local, disse, “é um importante reduto no centro da cidade de Gaza”, e perto do centro médico “há batalhas muito intensas” para quebrar “a rede de túneis subterrâneos do Hamas”.

A impossibilidade de cessar-fogo foi reforçada pelo presidente dos EUA, Joe Biden.

Questionado pelos jornalistas sobre as hipóteses de um cessar-fogo, o líder norte-americano, que até agora se tem oposto a esta hipótese, foi perentório a rejeitar a solução.

“Nenhuma. Nenhuma possibilidade”, reconheceu Biden sobre o cessar-fogo que tem vindo a ser pedido por vários países e organizações.

Ainda hoje, os Estados Unidos tinham-se associado ao Qatar e ao Egito para tentar mediar a criação de um entendimento que permitisse a ajuda humanitária na Faixa de Gaza, que está a ser alvo de intensos bombardeamentos por Israel, desde o ataque do grupo islamita Hamas no início de outubro.

As agências humanitárias no terreno têm insistido na necessidade de um cessar-fogo, com um horizonte temporal que permitisse a proteção de civis em território palestiniano.

Contudo, desde cedo que o Governo norte-americano se limitou a pressionar Israel para a criação de pausas humanitárias, recusando juntar-se às vozes daqueles que preferiam um cessar-fogo, que travasse por um período mais longo o conflito naquela região.

Rússia “chocada” com atrasos

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia afirmou esta quinta-feira estar “chocado” com os atrasos na retirada para o Egito dos cidadãos russos presos em Gaza, o que, segundo Israel, pode demorar até duas semanas.

“Ontem ficámos chocados quando ouvimos uma declaração do embaixador israelita em Moscovo, segundo a qual a elaboração das listas russas (para retirada) poderia demorar até duas semanas”, afirmou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, em conferência de imprensa.

“É uma lógica inaceitável”, denunciou, assegurando que, do lado russo, “está tudo pronto” para evacuação através da passagem de Rafah, sob controlo egípcio.

“Não conseguimos compreender porque é que este processo não foi desencadeado, apesar das nossas ações operacionais e do nosso cumprimento de todos os pedidos e condições estabelecidos nas medidas de segurança”, acrescentou.

O embaixador de Israel em Moscovo, Alexander Ben Zvi, disse à agência de notícias russa TASS que o Egito decidiu permitir a passagem de apenas 600 pessoas por dia pela passagem de Rafah.

“Se apenas 600 pessoas por dia forem autorizadas a passar, poderá demorar duas semanas” para retirar os cidadãos russos, disse Ben Zvi, acrescentando que um total de 7.000 pessoas estão à espera para saírem da Faixa de Gaza.

Zakharova disse ainda que “muitas crianças” estavam à espera de ser retiradas, acrescentando que cerca de “300 menores russos” estavam nesta situação.

ZAP // Lusa

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