Garfos eram vistos como um objeto insultuoso e efeminado — e a Igreja não aprovava

Por estranho que pareça, o garfo é uma invenção relativamente nova, especialmente quando comparado à colher ou à faca.

O garfo só se tornou popular nos Estados Unidos no século XIX. Traçar a história deste objeto pode dizer-nos muito sobre a sociedade, religião, e mesmo estereótipos de género. Associado à decadência oriental, o garfo foi em tempos visto como insultuoso e efeminado.

A história conta que o garfo, como utensílio alimentar, foi trazido pela primeira vez para a Europa quando uma princesa bizantina casou com o Doge de Veneza no século XI. Era feito de ouro e tinha dois dentes, que a monarca utilizava para comer frutas conservadas para evitar dedos pegajosos.

Embora o conceito possa parecer lógico hoje em dia, foi escandaloso durante a sua época e causou polémicas na sociedade católica, onde os garfos eram vistos como algo sacrílego e decadente, relata a Ancient Origins.

De acordo com Sarah Coffin, especialista na área, o garfo “não estava associado aos valores cristãos com o argumento de que não era essencial à vida. Em vez disso, era visto como algo que seria utilizado por uma sedutora do Oriente”.

Quer a ofensa residisse na semelhança entre o garfo e o garfo do diabo ou na rutura das tradições alimentares da época, diz-se que quando a princesa morreu da peste São Pedro Damião, um monge beneditino viu nela um castigo justificado pela sua vaidade, uma vez que Deus tinha criado mãos para agir como garfos naturais.

Esta história tem sido atribuída a duas princesas bizantinas diferentes, Theodora Doukaina e Maria Argyropoulina, mas não se sabe qual passou por esta situação.

De qualquer das formas, a mensagem é clara. A utilização de garfos foi reprovada e vista como uma característica hedonista e anti-católica.

Nesta época, a maioria dos europeus, incluindo os escalões superiores da sociedade, comiam com os dedos e usavam facas. A sopa era comida em tigelas comunitárias e a toalha de mesa funcionava como um guardanapo gigante.

De facto, o garfo só ficou popular na era pós-medieval, tornando-se mais difundido com a crescente popularidade das massas, e a partir daí espalhou-se por toda a Europa. Quando Catarina de Medici casou com Henrique II de França em 1533, trouxe consigo o hábito de utilizar garfos e as críticas foram desaparecendo.

No início do século XVII, o garfo tinha mudado de forma, ganhou dentes e uma curva acrescida para a recolha, e tinha chegado a Inglaterra, a partir de onde se espalhou para as colónias americanas e foi acusado de definir diferentes classes e grupos sociais. Por volta do século XIX, o garfo dominou a mesa na cultura ocidental.

ZAP //

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