As Ilhas Galápagos são abençoadas por uma água rica em nutrientes, que oferece alimento a muitas espécies únicas. Agora, uma equipa de investigadores explica este fenómeno.
Cada parte do excecional e distinto ecossistema das Galápagos pode ser rastreada até às suas ricas reservas de algas marinhas. Alguns animais alimentam-se diretamente destas plantas microscópicas, outros alimentam-se desses animais e assim por diante.
Muitas espécies encontradas apenas no arquipélago do Pacífico alimentam-se, também, destas algas.
A abundância de algas – plantas microscópicas conhecidas como fitoplâncton – é o resultado de uma poça de água excecionalmente fria que costuma ser encontrada a oeste das ilhas.
Esta água fria é o resultado de uma ressurgência de águas profundas do oceano, ricas em nutrientes, que é mais fraca durante a estação quente das chuvas (dezembro a maio) e mais forte durante a estação seca de Garúa (maio a novembro).
Cientistas especulam há décadas sobre o que impulsiona esta subida das águas e, na ausência de evidências conclusivas, alguns inferem que é impulsionada por uma corrente que flui para o leste colidindo com as ilhas.
Mas a chave para desvendar o mistério do que causa a ressurgência está na sua forte sazonalidade. Primeiro, cientistas descobriram que a frieza da água a oeste das ilhas está associada à força dos ventos locais para o norte. Isto está em marcante contraste com a ressurgência mais fraca que ocorre em todo o Oceano Pacífico equatorial mais amplo, que é sustentada pela força dos ventos predominantes de oeste.
Mas como é que esses ventos do norte impulsionam uma forte ressurgência localizada ao redor das Galápagos? Uma equipa de investigadores explorou esta questão para um estudo agora publicado na Scientific Reports, no qual usou um modelo de computador realista e de alta resolução da circulação oceânica na região.
O oceano foi modelado no seu estado médio anual típico para fatores como temperatura, salinidade e velocidade da água, e depois “forçado” com mudanças de seis horas no vento atmosférico, radiação, precipitação e evaporação com base em observações reais.
Para sua surpresa, este modelo muito simplificado foi capaz de reproduzir de perto o ciclo sazonal real da água fria das Galápagos. Uma análise detalhada identificou a intensa mistura turbulenta no oceano como a causa precisa da subida da água.
O que parece estar a acontecer, a oeste das ilhas, é que os ventos do norte estão a soprar nas chamadas frentes oceânicas superiores – essas são faixas de mudanças laterais abruptas na temperatura da água do mar, semelhantes, mas muito menores do que as frentes atmosféricas nos mapas meteorológicos.
Quando o vento atinge as frentes, mistura a água quente da superfície com as águas mais frias abaixo, e provoca uma nova circulação abaixo da superfície, que atrai água ainda mais fria das profundezas do oceano.
A ressurgência da água fria é altamente produtiva, uma vez que mais nutrientes significam mais fitoplâncton, o que significa mais peixes, e assim por diante. O sucesso reprodutivo da foca-marinha de Galápagos, do pinguim de Galápagos, do corvo marinho e de muitas outras espécies endémicas depende muito dessa ressurgência.
ZAP // The Conversation