A predisposição para a fraude académica no Ensino Superior em Portugal é maior nos estudantes do sexo masculino, com menor média e cujos agregados familiares têm rendimentos mais elevados, conclui um estudo da Universidade de Coimbra.
“Em Portugal, a predisposição para cometer fraude académica é maior nos estudantes do sexo masculino” e entre “alunos cujo percurso pré-universitário foi maioritariamente feito em escolas privadas”, revela em estudo que está a ser desenvolvido pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC).
A fraude académica também é cometida com mais frequência por alunos com “menor média” e cujos pais “têm maior grau de escolaridade e o agregado familiar rendimentos mais elevados”, conclui a mesma investigação, que questionou 7.292 alunos de licenciatura ou mestrado integrado, refere uma nota da UC divulgada esta sexta-feira.
Coordenado pelo investigador Filipe Almeida, o estudo visou “analisar a atitude e a opinião de alunos e professores perante situações de fraude académica no Ensino Superior, de modo a identificar culturas de fraude, padrões de tolerância à fraude, frequência com que é praticada e os motivos e os inibidores da transgressão”.
Sobre a prática de fraude, “73% dos inquiridos admitem que apresentariam o mesmo trabalho em diferentes disciplinas, enquanto 65,3% assumem que forneceriam respostas a um colega no exame”.
No entanto, “88% dos alunos declaram que não compraria trabalho a um colega” e 78,5% asseguram que “não aceitariam beneficiar de nota coletiva sem ter participado no trabalho de grupo” respetivo.
Transparência e lealdade aos colegas
“A fraude académica do aluno do Ensino Superior tem, em si mesma, uma implicação moral delimitada pela honestidade perante a instituição, pela lealdade perante os colegas, pela transparência perante os professores e pela dignidade individual perante si próprio”, sustentam os investigadores responsáveis pelo estudo, que, neste contexto, pretenderam “avaliar a conduta do aluno e a sua perceção sobre os limites da moralidade” no meio académico.
A “formação universitária pode desempenhar um papel decisivo na consolidação de um sistema de valores morais alinhado com um padrão ético exigente”, mas “também pode estimular condutas vulneráveis à transgressão e à ação imoral”, salientam os investigadores.
Este estudo revela-se, por isso, “essencial para compreender o papel da educação formal na estruturação de uma ética pessoal enquanto fator que antecede e influencia a conduta moral no contexto profissional futuro”, sustentam os seus autores.
Os estudantes inquiridos no estudo, desenvolvido ao longo dos últimos três anos, são “todos de nacionalidade portuguesa e com pelo menos dois anos de matrícula em instituições de Ensino Superior público e privado”, nas áreas científicas com maior número de inscritos, nomeadamente economia e gestão, engenharias, medicina, enfermagem, direito, comportamento humano e artes e ensino (formação de professores).
Os primeiros resultados da pesquisa, que foi alargada a Espanha e ao Brasil, vão ser apresentados, em Coimbra, no colóquio “A ética dos alunos e a tolerância de professores e instituições perante a fraude académica no Ensino Superior”, que vai ter lugar nos dias 8 e 9 de maio, na Faculdade de Economia da UC.
/Lusa