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A segunda maior floresta tropical do mundo pode vir a libertar “tsunami” de emissões de carbono

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A segunda maior floresta tropical do mundo, situado na República Democrática do Congo, pode vir a libertar um “tsunami” de emissões de carbono.

O governo da República Democrática do Congo está a preparar-se para leiloar uma série de licenças para perfurar poços de petróleo na bacia do Congo. Isto ameaça danificar cerca de 11 milhões de hectares da segunda maior floresta tropical do mundo.

Não são apenas as árvores que podem perder-se na procura por petróleo. Um novo estudo, publicado recentemente na Nature Geoscience, mostra que pelo menos três das 16 licenças de petróleo planeadas para venda no dia 28 de julho de 2022 sobrepõem-se a florestas sensíveis de pântanos de turfa, que armazenam ainda mais carbono debaixo do solo do que as árvores acima dele.

As florestas de turfa regularmente inundadas contêm muito carbono porque o alagamento retarda a decomposição de plantas mortas. Este material parcialmente decomposto acumula-se ao longo de milhares de anos para formar turfa. Os cientistas fornecem o primeiro mapa detalhado da profundidade dessa turfa e onde exatamente na bacia do Congo pode ser encontrado todo o carbono que ela contém.

Os resultados confirmam que as turfeiras do Congo central são o maior complexo de turfeiras tropicais do mundo. Estima-se que as turfeiras cobrem 16,7 milhões de hectares, uma área equivalente ao tamanho de Inglaterra e do País de Gales juntos, cerca de 15% maior do que os 14,6 milhões de hectares estimados quando esse ecossistema foi mapeado pela primeira vez em 2017.

Quando sobrepuseram o novo mapa da turfeira num mapa de concessões de petróleo, os investigadores repararam que a próxima venda de direitos de exploração de combustíveis fósseis inclui cerca de 1 milhão de hectares de floresta de turfa.

Se destruídos pela construção de estradas, oleodutos e outras infraestruturas necessárias para extrair o petróleo, os autores estimam que até 6 mil milhões de toneladas de CO₂ poderão ser libertadas.

Os cientistas estão apenas a começar a entender estes ecossistemas, incluindo o seu papel como enormes reservatórios de carbono que fornecem um baluarte contra o aumento das temperaturas mundiais. Mas se as empresas petrolíferas derem ‘luz verde’ no dia 28 de julho, os novos mapas e outros registos podem ser tudo o que resta para provar que florestas de turfa intactas já existiram na bacia do Congo.

Até agora, as evidências dessas turfeiras na República Democrática do Congo não tinham sido publicadas numa revista científica, embora a sua existência fosse há muito suspeitada.

Estas turfeiras podem ser novas para a literatura científica, mas são familiares para as comunidades que vivem na sua periferia há gerações, contando com elas para pescar, caçar e recolher material de construção.

Reverter enormes defesas naturais

Os investigadores levaram amostras de turfa para o laboratório para calcular a quantidade de carbono com mais precisão. Combinando as diferentes medições, concluem que as florestas pantanosas congolesas são um dos ecossistemas mais densos em carbono do planeta, armazenando uma média de 1.712 toneladas de carbono por hectare.

Juntas, as turfeiras contêm entre 26 e 32 mil milhões de toneladas de carbono abaixo do solo – aproximadamente o equivalente a três anos de emissões globais da queima de combustíveis fósseis.

O novo estudo faz parte de um esforço contínuo e de longo prazo para entender o maior complexo de turfeiras tropicais do mundo. O projeto CongoPeat visa entender como e quando é que as turfeiras formaram-se e se existem novas espécies a serem encontradas lá.

Os cientistas também querem saber mais sobre a estabilidade desse carbono de turfa num clima em aquecimento e quais os efeitos que a extração de madeira, a drenagem para a agricultura ou a exploração de petróleo teriam.

O leilão de petróleo do Congo, em 28 de julho, pode ser o início do fim para essas turfeiras. Abri-las à exploração de petróleo antes que o povo congolês e o resto do mundo possam saber qual seria o verdadeiro custo é irresponsável, avisam os coautores principais Bart Crezee e Simon Lewis.

O país corre o risco de um erro de proporções épicas. O que sabemos é que, ao bloquear o carbono, as turfeiras ajudaram a arrefecer o clima por milhares de anos. Reverter essa valiosa defesa natural contra as alterações climáticas no espaço de alguns anos, simplesmente para encontrar mais combustível que o mundo já tem mais do que pode queimar com segurança, não é algo que a vida na Terra aguente.

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