“Crápula”. Arrasado por se oferecer ao Flamengo, Jesus queixa-se de Pizzi e da “pressão” no Benfica

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Alexandre Vidal, Marcelo Cortes / Flamengo

Jorge Jesus confessou que quer voltar ao Flamengo e ainda criticou algumas das escolhas do actual treinador da equipa brasileira, Paulo Sousa. E há quem lhe chame “crápula” numa onda de críticas enquanto o ex-técnico do Benfica se queixa do que aconteceu antes da sua saída da Luz.

As declarações de Jorge Jesus ao jornalista brasileiro Renato Maurício Prado, colunista do UOL, estão a dar que falar em Portugal e no Brasil.

Jesus assistiu ao empate a dois golos entre Flamengo e Talleres, na passada quarta-feira, com o jornalista que aproveitou para lhe “sacar” algumas informações sobre o seu futuro clube e sobre as experiências no Benfica e no Flamengo.

Numa altura em que o clube brasileiro atravessa dificuldades, com o treinador Paulo Sousa a ser muito contestado pelos adeptos, Jesus juntou-se à onda de críticas e ainda manifestou o desejo de voltar ao Flamengo.

Quero voltar, sim. Mas não depende só de mim. Posso esperar até pelo menos o dia 20 [de Maio]. Depois disso, tenho que decidir minha vida”, apontou na conversa com Renato Maurício Prado.

Jesus também revelou ter recebido convites dos turcos do Fenerbache e propostas dos brasileiros Atlético Mineiro, Corinthians e Fluminense. Mas “no Brasil, só me interessa treinar o Flamengo”, assegurou.

Já basta o que sofri, em Portugal, por trocar o Benfica pelo Sporting“, notou ainda.

Além disso, confessou que “treinar a Selecção do Brasil seria um sonho“, apontando que “é o tipo de convite irrecusável”.

Jesus atira-se a Paulo Sousa e elogia Vítor Pereira

Mas são as palavras de Jesus sobre o trabalho de Paulo Sousa que mais estão a incomodar, até porque criticou algumas das escolhas do compatriota.

Confessando que o Flamengo “ainda mexe” consigo e que o “incomoda vê-lo em dificuldades”, Jesus vincou também que tem a “certeza de que se tivesse continuado”, o clube teria “conseguido uma longa hegemonia” no Brasil. “Estávamos bem à frente dos demais”, apontou ao jornalista.

“Estão completamente sem foco”, referiu ainda, criticando opções de Paulo Sousa no jogo com o Talleres.

Além de apontar o dedo ao “jogo de posições” da equipa de Paulo Sousa, Jesus salientou que “não adianta forçar jogadores a cumprir funções para as quais, claramente, não têm as características necessárias”.

E quando o jornalista lhe perguntou quem era o melhor treinador português a trabalhar no Brasil, nesta altura, entre Paulo Sousa, Abel Ferreira (Palmeiras), Luís Castro (Botafogo) e Vítor Pereira (Corinthians), Jesus não hesitou. “Vítor Pereira é o melhor. Basta ver os resultados dele em Portugal”, disse.

“Esse saber fazer uma equipe jogar ofensivamente e marcar pressão. Talvez tenha problemas, com o elenco (envelhecido) que tem. Mas é muito bom treinador”, notou ainda sobre Vítor Pereira.

Jesus também deixou elogios a Abel Ferreira, cujo Palmeiras “joga o melhor futebol do Brasil”, como disse.

Renato Maurício Prado falou de algumas das declarações que Jesus lhe prestou numa conversa para o UOL Esporte.

“Nunca vi uma coisa tão suja em 35 anos no futebol”

As palavras de Jesus acabaram por cair mal no seio do Flamengo, até mesmo entre adeptos do clube que são críticos de Paulo Sousa.

O Globoesporte (GE) constata que o “flirt unilateral de Jorge Jesus com o comprometido Flamengo” gerou uma onda de solidariedade em torno de Paulo Sousa que terá ficado “negativamente surpreendido com a investida do compatriota”.

Fontes do clube dizem que Paulo Sousa ficou “chocado” ou “estupefacto” com a atitude de Jesus. Até porque quando chegou ao Flamengo, o actual técnico do clube elogiou muito Jesus, falando de “um trabalho extraordinário” e de “uma carreira extraordinária”.

O GE nota que até José Mourinho, bem como “mais de 30 pessoas, entre treinadores, jogadores e dirigentes de clubes”, “portugueses, brasileiros e argentinos”, entre outras nacionalidades, manifestaram apoio a Paulo Sousa.

“Até mesmo profissionais do Benfica procuraram Paulo Sousa e seu staff para manifestar incredulidade com as frases de Jorge Jesus”, aponta ainda o GE.

Vários comentadores brasileiros também já criticaram a atitude de Jesus, incluindo o ex-futebolista Neto que, no programa “Os Donos da Bola” da TV Bandeirantes, chamou “crápula” ao ex-treinador do Benfica.

“Nunca vi uma coisa tão suja” em “35 anos” no futebol, como jogador e comentador, vincou, falando de “uma barbaridade”. “Se você fizer isso no presídio, os caras cortam as suas pernas porque lá eles têm respeito”, sublinhou ainda.

“Indisciplina de Pizzi” e “pressão política” no Benfica

Na conversa com o jornalista Renato Maurício Prado, Jesus também falou da sua saída do Benfica, queixando-se de haver “muita pressão política no clube”. “Quando o presidente, que me levou de volta, foi deposto, eu sabia que mais cedo ou mais tarde iriam tirar-me também”, realçou também.

Jesus ainda lamentou que os seus jogadores foram “vaiados no Estádio da Luz” depois da vitória sobre o Dínamo de Kiev em jogo da Liga dos Campeões, mesmo com a equipa a qualificar-se para a próxima fase “num grupo em que o Barcelona foi eliminado”. “Já não havia mais ambiente”, desabafou.

O treinador também se referiu à “indisciplina do Pizzi que falou um monte de bobagem para um dos meus auxiliares, num jogo em que eu estava suspenso, e aí tudo desandou“.

“Mas quando saí, o Benfica estava a três pontos dos líderes e classificado para as oitavas de final da Champions. Hoje, está a 15 pontos da liderança. O problema era só eu?“, questionou ainda Jesus.

Sobre a hipótese de ter voltado para o Flamengo, antes da rescisão com o Benfica, Jesus assumiu que teve uma conversa “superficial” com dirigentes do clube brasileiro em Lisboa.

Contudo, “aquele era um momento difícil, pois se eu pedisse demissão do Benfica, teria que pagar uma multa de 10 milhões de euros“, realçou. “Por isso, tinha sugerido que só viajassem para Portugal em final de Janeiro, quando a situação seria mais fácil para negociar”, notou ainda, dando sinais de que já sabia que ia deixar o clube da Luz.

Pelo meio, Jesus criticou a postura dos responsáveis do Flamengo, lamentando que “foram ver um jogo do Benfica no camarote do Porto, deram várias entrevistas, criaram uma balbúrdia desnecessária“.

“Se me quisessem mesmo, teriam ido em Janeiro, como sugeri, e poderíamos ter-nos acertado”, salientou.

Susana Valente, ZAP //

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