Fiona, a ictiossauro grávida, é a mãe réptil marinha mais antiga do Chile

Alejandra Zúñiga

Judith Pardo Pérez com o fóssil do ictiossauro no Chile.

Paleontólogos descobriram um raro achado fóssil num glaciar gigante: um antigo réptil marinho que morreu durante a gravidez.

A criatura era um ictiossauro, semelhante a um golfinho, e é a primeira do seu género a ser descoberta no Chile, onde foi recuperada de um local de escavação perto do Glaciar Tyndall, no Campo de Gelo da Patagónia do Sul.

“Este local é realmente único, porque está a capturar um período de tempo na história da Terra onde não temos um registo fóssil muito bom para répteis marinhos”, explica Erin Maxwell, especialista em ictiossauros e curadora de répteis marinhos no Museu Estatal de História Natural em Estugarda, Alemanha.

Os ictiossauros (ou “lagartos de peixe”) dominaram os mares a partir do início do período Triássico, há cerca de 251 milhões de anos, e viveram com dinossauros até há cerca de 95 milhões de anos, segundo a Live Science.

Estes répteis marinhos comiam, na sua maioria, antigos parentes de lulas, bem como alguns tipos de peixes e ictiossauros mais pequenos.

O ictiossauro mais pequeno media cerca de 0,4 metros de comprimento, enquanto o maior atingiu quase 21 metros, de acordo com a National Geographic.

O fóssil chamou a atenção de Maxwell quando foi encontrado pela primeira vez em 2009, pela paleontologista Judith Pardo-Pérez, que se juntou ao grupo de investigação de Maxwell em Estugarda pouco depois da descoberta.

A equipa de investigadores encontrou o fóssil de ictiossauro e apelidou-o de “Fiona”, nome da personagem feminina do filme Shrek, por o revestimento de óxido conservante do fóssil o tornou verde, tal como o seu homónimo ogre.

Mas foram precisos 13 anos para os paleontólogos finalmente escavarem e analisarem os restos mortais de Fiona, o que Maxwell indica ser normal.

“Há normalmete um grande atraso entre a descoberta do fóssil e o estudo do fóssil”, sublinhou Maxwell. Neste caso, o atraso deveu-se em parte à localização.

O Glaciar Tyndall é extremamente remoto, pelo que todos os fósseis do local, incluindo outros 23 ictiossauros descobertos ao lado de Fiona, tiveram de ser cuidadosamente transportados de helicóptero após a escavação. Infelizmente, muitos mais fósseis foram deixados para trás.

“Temos quase uma centena de ictiossauros no depósito fóssil do Glaciar Tyndall e muitos deles, infelizmente, nunca serão escavados, devido à dificuldade de acesso, estando em áreas de risco e à falta de investimento”, realça Pardo-Pérez.

Espécimes como Fiona, que fossilizaram durante a gravidez, são especialmente úteis para os paleontologistas porque permitem compreender melhor as várias fases do ciclo de vida daquela espécie.

“Podemos dizer, por exemplo, quantos embriões essas espécies poderiam ter tido, e qual o seu tamanho à nascença“, afirma Maxwell.

O primeiro fóssil de uma ictiossauro grávida foi descoberto em 1749 e cientificamente descrito em 1842. Confirmou que os ictiossauros produzem crias vivas em vez de pôr ovos, como a maioria dos répteis modernos, acrescenta a paleontóloga.

Maxwell espera que a descoberta ajude a aumentar o entusiasmo pela paleontologia sul-americana, que tem sido historicamente ignorada, em comparação aos sítios norte-americanos, russos, chineses e europeus ocidentais.

“Só temos realmente uma imagem do que se passou em metade do globo no período Mesozoico [252 milhões a 66 milhões de anos atrás]”, lamenta Maxwell.

“Portanto, estas descobertas são muito, muito importantes para ajudarem a trazer uma perspetiva global à nossa compreensão dos oceanos Cretáceos”, conclui.

Alice Carqueja, ZAP //

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