“Aqui está ela: aos 7 anos, já sente de alguma forma que não deveria vestir roupas que a façam parecer mais larga do que é”.
É frequente uma mulher olhar para o espelho a ver se determinada roupa encaixa com o que ela queria. Vê se parece mais gorda, mais magra, mais alta, mais baixa.
Não será tão frequente essa mulher ter 7 anos. Ou passou a ser mais frequente?
Se calhar, quem está a ler este artigo já viu uma rapariga dessa idade – pouco mais, pouco menos – muito preocupada com a maquilhagem, ou a colocar um creme anti-rugas no rosto.
Stephanie Rondeau é escritora e autora de livros de ficção para crianças. Debruça-se muito sobre feminismo e parentalidade, entre outros temas.
Stephanie conta no portal Medium o que aconteceu numa conversa com a sua filha, que tem precisamente 7 anos.
Ao experimentar roupas (normal), primeiro perguntou se parecia engraçada. A mãe disse que não, mas na verdade nem ouviu a pergunta. Não estava atenta.
Passou a estar atenta poucos minutos depois, quando a criança volta para a sua beira com outra roupa, já depois de ter estado a olhar para o espelho, e pergunta: “Isto faz-me parecer gorda?“.
A filha estava a apontar para o topo das suas calças, onde os calções estavam por debaixo, provavelmente um pouco enrugados.
“De repente, o mundo parou de girar“, relata a mãe, que acrescenta: “O ar foi sugado da sala e a minha mente ficou em branco”.
“Como é que isto está a acontecer já?“, pergunta, enquanto lembra que sempre teve muito cuidado em não falar mal do seu corpo (seu=mãe) à frente da filha. Nunca utilizou a palavra “gorda” como algo negativo, nem andou a apertar-se, a beliscar-se em frente a ela.
“E, no entanto, aqui está ela, com 7 anos, de alguma forma a sentir que não deveria usar roupas que a façam parecer mais larga do que é”.
Stephanie acha isto “incrível”, apelando à consciência das mães, das mulheres, sobre o assunto; e esperando que um dia se “elimine a vergonha corporal do nosso vocabulário”.
Seria benéfico falar sobre comida de uma maneira positiva e modelar uma relação saudável com o exercício e com a nutrição.
Mas, afinal, qual foi a sua resposta àquela pergunta?
“Disse a melhor coisa de que me lembrei naquele momento: que ela é linda, independentemente de as suas roupas a fazerem parecer maior, menor ou algo intermédio. Disse-lhe que ela é uma pessoa maravilhosa. E isso é o que importa”.
Mas por dentro, a mãe estava “furiosa. A ferver, a espumar, pronta a explodir de raiva por ela já ter recebido essa mensagem de algum lugar. De todo o lado”, admite.
Claro que nunca se consegue ter a certeza da origem: foi uma amiga na escola? Um programa na televisão? Um filme?
O TikTok anda a espalhar a mensagem que a Geração Z está a deixar para trás a cultura das dietas dos millennials – mas essa mensagem “ainda está enraizada no nosso mundo”, avisa.
A sua filha de 7 anos é um exemplo bem visível: pensa sempre nisso antes de ir jogar futebol com os amigos, pergunta repetidamente se está gorda só para ter certeza.
“Não está apenas na sua mente. Está impressa no seu cérebro“.
Então, o que fazer? Continuar a olhar para o corpo como algo positivo, reforçar essa ideia.
Mas, claro, não consegue impedir que a filha continue a ter outros contactos, a ter outras conversas, a ver (perto ou longe) outras realidades, a ouvir certos comentários.
Não há “bolhas”.
A criança vai acabar por enfrentar tudo isso por si mesma. Não é prático nem realista protegê-la do… mundo real.
O que é prático, realista e útil é ajudar a dar-lhe as ferramentas para se manter de pé – e para se “afastar de qualquer um que lhe diga que ela não é boa o suficiente por causa de alguma parte específica do seu corpo”.
“Ajudá-la a perceber que quem diz isso, quem tenta fazê-la sentir-se assim, é um grão de poeira na sua vida. Insignificante. Não vale a pena. É alguém descartável”.
A mãe quer que a filha interiorize que as pessoas que importam, e as mensagens que importam, são as que a elevam.
Vai ser uma batalha árdua para toda a vida. Mas Stephanie Rondeau tem esperança.