Mais de 20 anos depois, Fight Club recebeu um fim alternativo na China em que a polícia sai vencedora

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Fight Club

O novo final do filme de David Fincher corta a cena da explosão dos edifícios, dizendo apenas que a polícia desvendou o plano e que Tyler Durden foi internado num hospital psiquiátrico.

Se a regra número 1 de Fight Club é de que não se fala de Fight Club, parece que na China esta regra só se limita ao final do filme. No clímax do clássico de 1999 de David Fincher, há a revelação de que o irreverente Tyler Durden, interpretado por Brad Pitt, era na verdade um alter-ego do narrador, interpretado por Edward Norton.

O narrador acaba por matar Durden e junta-se à sua namorada enquanto os dois veem os arranha-céus a explodir, uma imagem simbólica da mensagem anti-capitalista e de rejeição do consumismo do filme.

Mas mais de 20 anos depois do seu lançamento, o desenlace com um toque de anarquia de Fight Club parece não ter agradado às autoridades chinesas, tendo o filme ganhado um fim alternativo no país.

Na nova versão incluída na plataforma de streaming Tencent Video, a cena final das explosões dos edifícios foi substituída por um ecrã negro onde se lê: “A polícia rapidamente descobriu todo o plano e prendeu os criminosos, prevenindo a explosão da bomba”, cita o The Guardian.

Para além disto, Tyler Durden, que na versão original é apenas uma personagem imaginária, é enviado para um “manicómio” para receber tratamento psicológico, sendo mais tarde libertado.

A mudança foi rapidamente notada pelos fãs do filme no país, que já tinham visto a versão original. “Isto é demasiado escandaloso“, comentou um utilizador da plataforma de streaming. “O Fight Club no Tencent Video diz-nos que eles não só apagam cenas como mudam a história também”, queixou-se um outro na rede social chinesa Weibo.

Ainda não se sabe se esta mudança no final foi imposta pelo Governo ou se foram os produtores do filme a fazê-la. As mexidas em filmes, livros ou outros produtos culturais não são uma novidade na China, sendo justificadas com o papel de promoção de valores sociais da cultura.

Em 2019, por exemplo, as cenas que referiam ou mostravam a homossexualidade de Freddie Mercury foram cortadas de Bohemian Rhapsody, o filme que contou a história dos Queen.

“A nova versão chinesa de Fight Club que coloca o poder nas mãos da polícia implica um fim que se alinha com o discurso do Estado chinês, no qual existe uma relação simbiótica entre a polícia e o Estado”, refere How Wee Ng, especialista nos media chineses, que acrescenta que esta censura é motivada pelo “medo histórico da instabilidade social e de uma suposta ameaça ao status quo“.

Este tipo de mudanças já é tido em conta pelos produtores de filmes e séries no Ocidente, que criam versões alternativas na esperança de não serem barrados dos lucros promissores do enorme mercado chinês.

Adriana Peixoto, ZAP //

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