Uma equipa de investigadores descobriu que as fezes de peixes predadores são uma importante fonte ambiental de algas dinoflageladas simbióticas nos recifes de coral.
A descoberta é uma reviravolta inesperada na simbiose do recife de coral, diz Adrienne Correa, bióloga marinha da Rice University.
Isto porque, segundo a especialista, os predadores de corais são normalmente vistos a morder e a enfraquecer as estruturas do recife, gerando esconderijos para outros organismos.
A pesquisa ocorreu durante uma expedição à estação de Pesquisa Ecológica de Longo Prazo do Recife de Coral de Mo’orea, na Polinésia Francesa, onde a equipa acompanhou peixes que comeram diferentes quantidades de corais e algas.
Os investigadores perceberam onde e quais os alimentos que os peixes comiam, e com que frequência defecavam. Carsten Grupstra, autor do estudo, recolheu amostras de fezes de predador para examinar no laboratório.
O cientista conta que deixou “algumas amostras no parapeito da janela por algumas semanas em Mo’orea. Mais tarde, quando comecei a olhar para eles (ao microscópio), encontrei toneladas de simbiontes. Muitos deles estavam a andar e outros estavam a dividir-se”.
O grande número de simbiontes vivos foi inesperado e potencialmente importante no quadro mais amplo da ecologia do recife, refere Correa. Embora os simbiontes tenham sido vistos anteriormente em fezes de um número limitado de predadores de corais, não estava claro quantos deles estavam vivos e se eram potencialmente úteis para os corais.
Contudo, a equipa encontrou altas concentrações de simbiontes vivos nas fezes de um grupo diversificado de predadores de corais, diz o Futurity.
A equipa sugere que duas espécies na estação de pesquisa Mo’orea – Chaetodon ornatissimus e Chaetodon reticulatus – espalham, cada uma, cerca de 100 milhões de simbiontes vivos por dia numa área de recife com aproximadamente o tamanho de seis lugares de estacionamento, o que é bastante benéfico para os corais.
Assim sendo, os cientistas planearam várias experiências em corais jovens e adultos stressados para determinar o quão rápido estes absorvem simbiontes provenientes das fezes.
Uma melhor compreensão da absorção dos simbiontes pode levar à concretização de novos métodos para ajudar os recifes a recuperarem do “branqueamento” induzido pelo stresse.
O branqueamento ocorre quando os corais stressados expelem os seus simbiontes em massa, frequentemente deixando os corais incolores, como o nome indica. Situações de branqueamento são cada vez mais comuns devido às mudanças climáticas.
Enquanto alguns corais nunca se recuperam do branqueamento, outros conseguem recuperar-se, o que levanta a questão de como os corais branqueados repovoam as suas comunidades simbiontes.
Agora, a equipa está a conduzir novas pesquisas para descobrir se o contacto com fezes de predadores de corais pode melhorar as taxas de recuperação do branqueamento e a saúde dos corais a longo prazo.
O estudo foi publicado na Animal Microbiome no dia 22 de março.